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REVISTA DA ARMADA | 505
marinho para fins terapêuticos ou preven- A água do mar percorria um tubo enterrado por debaixo da Mar-
tivos. Além dos efeitos do banho marinho, ginal até aos reservatórios de água salgada do edifício por ação de
importa não esquecer o impacto do clima uma bomba que funcionava durante a maré cheia assegurando-
marinho (temperatura, humidade, ven- -se o fornecimento de água durante a maré baixa. As caldeiras a
tos, pressão atmosférica e radiação so- lenha aqueciam a água a temperaturas próximas dos 20°C sendo
lar) e a utilização complementar de algas, esta controlada com um termómetro pelos empregados. Eram
areias ou lamas. aquecidos mais de 20 mil litros de água por dia, sendo a afluência
por vezes superior a 300 utentes por dia. A fama das propriedades
A água do mar, elemento base da ta- medicinais das águas da Nazaré chegou além-fronteiras, havendo
lassoterapia, é uma solução rica em oli- também espanhóis a frequentá-las de junho a 1 de novembro.
goelementos que mantém características
físico-químicas e biológicas constantes. Os banhos duravam no mínimo 15 dias; cada tratamento du-
Deve ser recolhida fresca e o seu arma- rava 15 ou 30 minutos, sendo o tempo controlado por um reló-
zenamento está limitado pelo tempo de gio de areia. Segundo o testemunho de um antigo funcionário,
vida do fitoplâncton e zooplâncton (ação muitos milhares de pessoas beneficiaram do poder curativo das
antissética). A água do mar pode ser uti- águas provenientes do Canhão da Nazaré e não recorda sequer
lizada em banhos, duches e irrigações um cliente que se sentisse mal.
fazendo-se valer das suas propriedades
térmicas, mecânicas e minerais. A talassoterapia é uma modalidade terapêutica que usa a água
do mar em prol da sanidade dos indivíduos. O investimento no
As indicações e contraindicações médi- desenvolvimento desta atividade na costa portuguesa, enqua-
cas para os tratamentos de talassoterapia drada no domínio do turismo de saúde e bem-estar, pode resul-
estão descritas na literatura. As práticas que integram habitu- tar em proventos, diretos e indiretos, relevantes numa dimensão
almente as sessões terapêuticas costumam ser bem toleradas, local, regional e até nacional. Esta suspeita deve ser suficiente
sempre que adaptadas à situação clínica específica e à capacida- para incitar os decisores a repensar o valor da talassoterapia.
de de resposta individual.
Santos Henriques
Em Portugal existem alguns centros especializados em talasso- 1TEN MN
terapia; o situado na Nazaré tem uma tradição que remonta ao
final do século XIX quando surgiram os Banhos Quentes Salgados
da Nazaré, que faziam parte das temporadas balneares da socie-
dade da época.
A primeira escritura dos banhos quentes da Nazaré (Arma-
zém dos Catataus) data de 1887, sendo o imóvel adquirido por
Cândido Rodrigues em 1893. Sabe-se que o edifício foi sujeito a
obras de readaptação entre 1901 e 1906, de forma a proporcio-
nar condições de conforto aos clientes, tornando-se num “ele-
gante edifício”, interiormente dotado “de todas as comodidades
modernas”, com “esmerado serviço do seu pessoal e escrupuloso
asseio das tinas, roupas e aguas”. Registos da época afirmam que
“no paiz não há egual e rivalisa com os melhores, no seu género,
do extrangeiro […] Desde o seu inicio tem sido muito frequentado
pelos rheumaticos, para cujos sofrimentos são assaz recomenda-
dos os banhos quentes de agua do mar, e a sempre progressiva
frequência de anno para anno é a mais eloquente prova da sua
efficacia. Não só abalisados clínicos aconselham o uso d’estes ba-
nhos, mas ainda a classe do povo vulgar, que de bocca em bocca
apregoa as suas virtudes, vem com fanatismo aos milhares fazer
uso d’estes banhos […]”.
MARÇO 2016 25