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REVISTA DA ARMADA | 509

          PORTUGAL NA LIDERANÇA
          DA FORMAÇÃO E TREINO
          EM CIBERDEFESA

           Em resultado do ambicioso programa de reformas de-
          cidido na Cimeira de Lisboa, em 2010, as Agências e a Es-
          trutura de Comandos da NATO foram significativamente
          racionalizadas. Uma das decisões consistiu em transferir
          a NCISS para Oeiras, instalando-a no Reduto Gomes Frei-
          re, outrora ocupado pelo Joint Force Command Lisbon.
          A escola passou a integrar a estrutura organizacional da
          Agência de Comunicações e Informação da NATO (NCIA).
           Desta forma, Portugal irá acolher, a partir de 2018, a
          escola  tecnologicamente  mais  avançada  da  NATO,  ca-
          bendo-lhe não só gerir o projeto do novo edifício, cuja   Projeto da Futura Academia NATO de Oeiras.
          construção se iniciará já este ano, mas também contri-
          buir para o alargamento dos currículos e assim aumentar a atrativi-  se comprometerão a reforçar as suas capacidades para proteger as
          dade e competitividade da instituição, que irá funcionar no regime   infraestruturas e redes nacionais, e a atingir com maior celeridade
          de financiamento pelo cliente (por contraposição ao regime ante-  os objetivos que lhes foram atribuídos no âmbito do Processo de
          rior de financiamento comum da NATO).               Planeamento de Defesa NATO.
           Para traduzir o aumento da oferta curricular e dos graus de for-  Neste cenário, o desafio para Portugal será conseguir sustentar
          mação, a escola passará a chamar-se Academia, estando ainda em   a imagem de uma das nações que lideram a ciberdefesa Aliada,
          discussão a designação final que melhor reflita a importância acres-  dando continuidade aos esforços de centralizar a formação e o
          cida da componente cibernética. Refira-se, a este propósito, que   treino em Oeiras, extendendo os cursos à UE (que está a analisar
          a Academia é parte integrante da capacidade NATO Cyber Range,   a edificação de um Centro para o mesmo efeito) e aproveitando
          estando em curso o processo tendente à modernização do Cyber   para criar, em torno da Academia NATO, um Polo de Excelência
          Lab da NCISS e à sua federação com a Cyber Range da Estónia, que   nacional no domínio da ciberdefesa, promovendo sinergias com a
          constitui a componente central daquela capacidade.  nossa indústria e universidades.
           Foi neste contexto que a NATO lançou o repto a Portugal para   A afirmação de Portugal neste domínio não será, contudo, pos-
          liderar o projeto Smart Defence MN CD E&T, que visa colmatar lacu-  sível, sem um significativo reforço da capacidade de ciberdefesa
          nas de formação e treino em ciberdefesa na Aliança, através da cria-  nacional, não apenas em termos técnicos, mas também aos níveis
          ção de novos cursos a ministrar na Academia de Oeiras ou aprovei-  estratégico e operacional. Os desenvolvimentos na NATO e nos
          tando cursos existentes nas nações, passíveis de serem acreditados   Aliados mais avançados demonstram a importância de uma Es-
          pela NATO. O projeto tem como segundo objetivo providenciar uma   tratégia de Ciberdefesa Nacional, operacionalizada através de um
          plataforma web para a coordenação das atividades de formação na   Plano de Ação sujeito a uma monitorização e revisão periódicas.
          NATO, iniciativa que está a ser desenvolvida em estreita colabora-  Em nossa opinião, uma tal estratégia  e plano de ação poderiam
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          ção com a EDA, que adjudicou a criação da plataforma a um consór-  contemplar a adesão de Portugal ao Centro de Excelência de Talin,
          cio nacional e atribuiu a sua futura gestão a Portugal.  bem como as linhas de ação para, num futuro próximo, se esta-
           A gestão do projeto MN CD E&T – em que participam 18 países,   belecer um Comando de Ciberdefesa Nacional , com os recursos
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          diversas entidades NATO, o Centro de Excelência de Talin e empre-  humanos adequados e uma liderança desejavelmente ao nível de
          sas e universidades americanas e europeias –  está a cargo de uma   oficial general. O “Ciber-Compromisso” a assumir pelo Primeiro
          equipa do Exército, que tem sabido explorar a liderança desta inicia-  Ministro em Varsóvia será, sem dúvida, um catalisador para Portu-
          tiva para projetar Portugal no domínio da ciberdefesa, tanto ao nível   gal atingir mais rapidamente este nível de ambição.
          da NATO como da UE.
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          DE GALES A VARSÓVIA                                                                                CFR
                                                                                                         Silva Pinto
           Com a aproximação a passos largos da Cimeira de Varsóvia (8 e                                CFR EN-AEL
          9 de julho), a Aliança iniciou já um balanço sobre o progresso atin-
          gido na implementação do plano de ação aprovado em Gales. En-
          quanto a operacionalização da atual política permanece a primeira   Notas
          prioridade, os Aliados não deixaram de debater o caminho a seguir   1   A NICP é uma plataforma de cooperação entre a NATO, a indústria e a academia dos
          após a Cimeira de 2016. É, pois, de perspetivar que a NATO venha   Aliados, focada na partilha de informação e iniciativas de investigação, desenvolvi-
                                                                mento e inovação.
          a reconhecer o ciberespaço como um novo domínio operacional   2   Cyber Range refere-se ao ambiente virtual isolado, utilizado para formação, treino,
                                                                exercícios e desenvolvimento de técnicas de cibersegurança/defesa.
          autónomo, à semelhança da terra, do mar e do ar. Esta mudança de   3   A Smart Defence foi lançada em 2012, na Cimeira de Chicago, consistindo numa inicia-
          postura será, na nossa opinião, um motivo mais que suficiente para   tiva em que a NATO atua como facilitadora para que os Aliados possam desenvolver,
          uma nova política de ciberdefesa da NATO, possivelmente em 2017   adquirir, operar e manter capacidades militares, através de projetos multinacionais.
          (o que se enquadraria no aludido ciclo de revisão de três anos).  4 5   Enquadrada na Estratégia Nacional de Segurança do Ciberespaço (junho de 2015).
                                                                  Vocacionado para as operações militares no ciberespaço, reforçando a capacidade do
           A Cimeira deverá, também, ser aproveitada para firmar um “Ci-  Centro de Ciberdefesa.
          ber-Compromisso”, ao mais alto nível, através do qual os Aliados



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