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REVISTA DA ARMADA | 520
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Novos usos do mar
o último artigo, dedicado ao valor económico do mar, RECURSOS MINERAIS
Nforam abordados os usos mais tradicionais, como o apro-
veitamento dos recursos piscícolas, o transporte marítimo e a Os recursos minerais do fundo do mar estão concentrados,
exploração dos recursos energéticos. Porém, nenhuma aná- essencialmente, em nódulos polimetálicos, sulfuretos polimetá-
lise do valor económico do mar fica completa sem abordar os licos e crostas de ferro-manganês.
novos usos, isto é, aqueles que, embora ainda embrionários, Relativamente aos nódulos polimetálicos, desde o século XIX
possuem boas perspetivas de rentabilização futura, como a que se sabe da sua existência no fundo do mar. Esses nódulos são
energia das ondas, das marés e das correntes, a exploração autênticos tesouros de metais raros, que se foram formando ao
de minerais, a biotecnologia azul, a aquacultura offshore ou o longo dos tempos, à medida que os metais dissolvidos na água
aproveitamento dos hidratos de metano. Vejamos então, com do mar se precipitavam no fundo dos oceanos. A composição
um pouco mais de detalhe, cada um destes usos emergentes destes nódulos polimetálicos varia bastante de local para local,
do mar. mas normalmente os metais mais comuns são o manganês (fun-
damental para a produção de aço), o cobalto (muito útil para o
ENERGIA DAS ONDAS, DAS MARÉS fabrico de peças que tenham que funcionar a alta temperatura) e
E DAS CORRENTES o níquel (essencial para fazer aço inoxidável).
Quanto aos sulfuretos polimetálicos, eles podem encontrar-se
Como o próprio nome indica, estas formas de energia corres- perto das fontes hidrotermais, localizadas nas cristas vulcânicas
pondem ao aproveitamento da ação direta e indireta do movi- submarinas. As fontes hidrotermais expelem fluidos sobreaque-
mento das ondas, das marés e das correntes. Ao contrário da cidos pelo efeito da geotermia e, ao interagirem com a água fria
energia eólica offshore, que já está a ser aproveitada em bas- do mar, precipitam sulfuretos polimetálicos, ricos em ferro, cobre,
tantes parques eólicos espalhados pelos oceanos, o aproveita- chumbo, zinco, prata e ouro, entre outros minerais. Essas fontes
mento destas formas de energia ainda se encontra numa fase – tais como as existentes na crista média atlântica dos mares dos
de desenvolvimento muito incipiente. Açores – funcionam, assim, como autênticas fábricas de metais e
Com efeito, embora já existam algumas (poucas) infraestru- de minerais raros.
turas em exploração comercial (como é o caso da central de Finalmente, no que respeita às crostas de ferro-manganês, elas
aproveitamento da energia das marés de La Rance, em França), resultam da precipitação de minerais sobre o leito marinho, atra-
a maior parte dos projetos ainda são protótipos ou estão em vés de um processo de catalisação bacteriológica que provoca
fase de demonstração, não sendo, ainda, evidentes as soluções acumulação sobre a superfície rochosa, formando uma crosta. O
técnicas e tecnológicas mais adequadas e eficientes. mineral mais valioso encontrado nas crostas de ferro-manganês,
Não obstante, o número de protótipos na Europa, neste até pela sua quantidade, é o cobalto. Todavia as crostas assumem-
setor, tem vindo a duplicar de ano para ano, perspetivando-se -se, também, como uma importante fonte potencial de outros
um aumento drástico na segunda metade desta década, com recursos metálicos e de elementos do grupo das terras raras, tais
investimentos anuais a rondarem os 500 milhões de dólares. como titânio, cério, níquel, zircónio e platina, entre outros.
Naturalmente, isso é um indicador do potencial desta atividade, Contudo, apesar do elevado potencial económico dos nódulos e
o qual é reconhecido pela Organização para a Cooperação e dos sulfuretos polimetálicos, bem como das crostas de ferro-man-
Desenvolvimento Económico (OCDE), que estima que a ener- ganês, a respetiva extração mineralífera tem-se revelado com-
gia das ondas, das marés e das correntes possa vir a gerar 337 plexa, dada a grande despesa associada ao trabalho nas profunde-
gigawatts de energia em 2050, podendo vir a empregar até 1,2 zas do mar, a temperaturas baixíssimas e a pressões esmagadoras.
milhões de pessoas por essa altura. De qualquer forma, a melhoria das tecnologias de extração e das
Energia das ondas.
4 JULHO 2017