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REVISTA DA ARMADA | 522


          NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA                                                                        63


          UM MARINHEIRO ANTIGO…





          “… Antes de mais perdoem-me que fale sentado, mas a verdade
          é que se me levantar corro o risco de cair de medo…”
                                     Gabriel Garcia Márquez, Caracas, 1970                                       Montagem: Quick Gun

            a posição em que agora me encontro, sou visitado por muitos
         NOficiais Navais que conheço dos múltiplos contextos em que já
          trabalhei: dos navios, das consultas do Hospital da Marinha, enfim, da
          Academia…Todos, ou a grande maioria, me vêm alertar para os múlti-
          plos problemas que detetam no Hospital das Forças Armadas (HFAR).
          Alguns entram mesmo muito maldispostos, por uma ocorrência espe-
          cífica: seja porque na chamada para uma consulta terão sido “ultra-
          passados” por um soldado de outro ramo; ou porque uma médica
          civil, que após ter acedido a ver ainda outro paciente Oficial Naval   desta vez – tudo parecia ter corrido muito bem. Foi assim que pela
          (que não estava na lista de marcações do dia, cuja produção depende   minha mente se cruzou a citação acima de Gabriel Garcia Márquez,
          de um sistema centralizado), informou que tal só aconteceria depois   autor que aprecio muito, pelo cariz social que imprimiu a muitos dos
          de ver os outros pacientes já marcados (independentemente do posto   seus textos. Expliquei ao meu amigo que o HFAR é ainda uma constru-
          ou idade) e muitas mais ocorrências, das quais a maioria conheço na   ção… Nessa construção, o peso Naval (no sentido cultural do termo)
          forma e na prática…                                 é pequeno. Em primeiro lugar, a participação dos ramos das Forças
           Aviso esses oficiais de que o sistema de gestão de consultas é com-  Armadas na sua génese foi necessariamente diferenciada, não faci-
          putorizado, exatamente igual ao usado em grande parte dos hospitais   litando  consequentemente  a  consagração  de  fundamentos  cultu-
          privados e, consequentemente, não consagra o posto. Informo-os,   rais que nos são únicos e característicos (como alguns dos explícitos
          também, de que as queixas de matriz cultural a que se referem na   acima). Por outro lado, atualmente, com a forte redução de efetivos
          marcação de consultas, não foram estatutariamente consagradas na   na saúde, o poder de influenciar culturalmente os procedimentos é
          “Gestão de Consultas”, pois não são comuns aos outros ramos e, cer-  pequeno (neste caso por simples força dos números, por comparação
          tamente, estão acima da capacidade de influência que o meu lugar e,   com os outros ramos…).
          seguramente, o meu posto permitem…                   E claro, como compreenderá o leitor, eu preferia estar aqui a falar
           Neste contexto fui abordado, recentemente, por um Velho Mari-  de casos felizes de utentes de todos os postos. Contudo, sempre
          nheiro, exatamente por queixas deste tipo. Trata-se de alguém que   vivi no mundo real e se falo pouco destes assuntos – como ocasio-
          conheço há muito tempo pelas suas ideias frontais e a quem reco-  nalmente alguns amigos me acusam - respondo como o fez Gabriel
          nheço a defesa e apoio de alguns textos menos consensuais que, ao   Garcia Márquez, “perdoem-me por escrever sentado”. Admito, nesta
          longo de anos, fui produzindo. Ora, o Marinheiro em questão havia   ocasião, que escrever de pé não beneficiaria ninguém… nem sequer
          recorrido, por situação vista por si próprio como grave, ao Serviço de   os fatores culturais, que tantos marinheiros querem preservar…
          Urgência e, sem surpresas, uma jovem funcionária, na pressa de o ins-  Também eu gostaria que o mundo mudasse, nisto e em muitas
          crever, não o tratou pelo posto…                    outras coisas, mas se outros tantos marinheiros me ajudarem, tal-
           Afirmava então este antigo Marinheiro:             vez mude, sem alarido. Esta atitude também faz parte da cultura
           – Veja lá Doutor, tratou-me por “Senhor…”          naval…. Na verdade, do tanto que me orgulho, a parte maior talvez
           Perguntei seguidamente se foi atendido rapidamente.  tenha sido a honra de, nestas páginas, tantas vezes ter refletido o
           – Não, isso foi tudo rápido – retorquiu.           sentir do mar em toda a sua especificidade, em todo o seu esplen-
           Respirei de alívio, pois nem sempre assim acontece. Perguntei-lhe se   dor. Asseguro aos meus amigos que, na medida das minhas muito
          lhe tinham resolvido o problema?                    limitadas capacidades, sempre continuarei a fazê-lo…
           – Sim, fizeram o que me pareceu melhor. Estou mais aliviado.                                       
           Percebi então, intimamente, que nas coisas importantes – pelo menos                               Doc


          CONVÍVIOS


         V PASSEIO MOTOCICLISTA

           Realizou-se no dia 30 de junho o V Passeio Motociclista de militares do NRP
         Bartolomeu Dias. O evento decorreu em franca e sã camaradagem, com partida
         da BNL rumo à zona de Cascais, com paragem nas instalações do Farol da Guia.
           De seguida, o grupo dirigiu-se ao Cabo da Roca e à Serra de Sintra afim de
         desfrutar da “liberdade” que as “2 rodas” proporcionam aos seus aficiona-
         dos. Um agradecimento especial ao comando do NRP Bartolomeu Dias pelas
         facilidades concedidas, ficando no horizonte a promessa de um novo passeio.


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