Page 164 - Revista da Armada
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Polícia N aval-ao serviço da Armada






               Lembro-me que um dia, no decorrer de uma con-
           versa, defendi a tese de que os fuzileiros eram o produto
           da junção feliz de dois elementos distintos que acaba-
           riam  por  caracterizar  e  personalizar  o  militar  anfíbio.
           Eram  eles os espiritos e os caracteres do infante e do
           marinheiro.
              Estes dois factores combinados e doseados acaba-
           riam por gerar aquilo que são não s6 os fuzileiros portu-
           gueses, mas os fuzileiros de todo o mundo. Somos Mari-
           nha, mas o nosso uniforme de trabalho de combate é ver-
           de; somos Marinha mas falamos de batalhões, compa-
           nhias e pelotões; somos Marinha mas os nossos objecti-
           vos são diferentes. Por isso a nossa vida, enquanto orga-
           nização, é diferente; por isso o nosso relacionamento in-
           terno e o nosso estilo de ser Marinha é, necessariamen-
           te, diferente.                                                         Estandarte do Bata/Mo de Fuzileiros n. o  ,
                                                                                  -  Policia Naval.
              Como todas as conversas-discussão deste tipo, creio
           que não chegamos a nenhuma conclusão clara e defini-
            tiva.
              Continuo no  entanto convencido de  que somos  de
           facto o produto dos dois elementos que nos geraram e
           para os quais vivemos: o mar e a terra.                  ..
              Mas, e para não nos perdermos em questões que são
            necessariamente  subjectivas  e dificeis de  concretizar,      _    Uma praça da Polícia Naval.
           eu iria apenas focar a atenção num aspecto especifico   no .. com um grão na asa .. ou com um súbdito inglês em
           dos nossos fuzileiros, aquele que talvez mais tenha a ver   idênticas circunstâncias! Que pachorra imensa é neces-
            com toda a Armada e que, por vezes, mais responsabili-  sária para explicar a um marinheiro português que o ca-
            dade tem na transmissão para o exterior da sua imagem:   belo é para usar curto e o boné é para colocar na cabeça!
            a Polrcia Naval.                                   São situações que. entre outras, nos vão formando e en-
              Tradicionalmente o serviço de policia não é simpático   sinando que a nossa função é, antes de mais nada, «aju-
            nem amável. Seja em que âmbito for, seja qual for a orga-  dar a cumprir". Gostaríamos que todos os camaradas da
            nização  a que  pertence, ser  policia  é,  antes  de  mais   Armada  nos olhassem,  não como  polícias de quem  se
            nada, ser algo antipático e que se deseja, de preferência,   afastam, mas como militares a quem se podem dirigir em
            longe. Compreendemos isso da mesma forma que com-  caso  de  necessidade, de  ajuda  ou  esclarecimento. O
            preendemos a necessidade da nossa existência. As nos-  nosso pessoal apenas espera ser útil e prestável. Por ve-
            sas múltiplas missões (são tantas que se tornava fasti-  zes teremos que ser mais rigorosos e enérgicos, é a nos-
            dioso enumerá-Ias) exigem que frequentemente nos ve-  sa missão. Nunca a violência nos dará prazer ou a "parti-
            iamos na necessidade quer de ser exigentes, severos e   cipação" será  o nosso objectivo. Serão utilizadas ape-
            rigorosos, quer amáveis, garbosos e simpáticos. E aqui   nas em última instância.
            entra a tal combinação de elementos a que me referi no   Em tempos de alguma perda de valores éticos, mo-
            início desta pequena prosa. Também na nossa forma de   rais e outros de carácter superior, no seio da sociedade
            ser polícia assumimos o tal espírito de infante e o .. huma-  nacional,  entendemos  terem  as  Forças  Armadas  uma
            nismo ..  marinheiro. Por vezes é dificil conjugar dois fac-  responsabilidade  ainda  maior  na  manutenção  interna
            tores de naturezas tão diferentes e até antagónicas, mas   desses valores. Nós pugnamos por isso.
            a verdade é que temos conseguido.                     Oe forma que pretendemos ser sensata, honesta e si-
               A qualidade do nosso pessoal, especialmente selec-  multaneamente  .. arejada .. ,  modema  e  disciplinada,  o
            cionado para esta missão, tem garantido a diferença en-  pessoal da PN anda na rua com o objectivo último de de-
            tre nós e as restantes policias militares. Não estamos a   fender, dignificar e prestigiar a organização a que perten-
            tentar fazer comparações qualitativas, do estilo ser me-  ce e de que com orgulho afirma ser parte integrante: a
            lhor ou pior.  Nada disso. Respeitamos e admiramos os   Armada. Que quando se encontrar um militar da Marinha
            nossos  congéneres  do Exército  e da  Força  Aérea  de   de Guerra portuguesa, com capacete branco na cabeça,
            quem,  aliás,  temos  colhido  alguns  ensinamentos  e  a   se saiba que se encontrou um homem bem formado, jus-
            quem prestamos a nossa pública homenagem.          to, e sobretudo, se encontrou um camarada de armas em
               Afirmamos apenas que somos diferentes, porque le-  quem podemos confiar,  seja  em  que  circunstância for.
            mos que ser diferentes e porque a nossa origem assim
            odetermina.                                                                           Loureiro Nunes,
               Tão diferente que é lidar com um marinheiro america-                                    cap.·ten.FZ
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