Page 230 - Revista da Armada
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Um inventor português
fundo do mar é um manancial inesgotável de ri· Mas, paralelamente a esta actividade, existe uma ou-
queza. Além de recursos naturais, ali jazem as tra constituída por caçadores de tesouros. Dispondo de
O obras de arte e os tesouros que, devido ao mur aparelhagem igual e por vezes superior à dos arqueólo-
cruel e ii ferozes combates, se afundaram com os navios gos, a estes novos corsários dos oceanos, o que lhes inter-
que os transportavam. São magníricas estátuas gregas que ressa, fundamen talmente, é o que pode dar lucro imedia-
não chc~aram a decorar as residências dos tribunos de to: os lingotes de ouro o u de prata, os objectos fabricados
Roma. E a praw dum galeão espanhol que encalhou num nestes preciosos metais. as moedas valiosas. e até alguma
baixo não assinalado. É O ouro do Brasil que uma nau peça que, devido ao seu valor histórico ou artístico, seja
portuguesa tnmsportava c que, atacada por um corsário, generosamente bem paga . Tudo isto é feito sem qualquer
acabou por arder perdendo-se as pessoas e os bens. Tudo preocupação de nào danificar outros objectos que por ve-
isto jaz no fundo do mar, onde, por vezes, uma camada zes sào deteriorados ou simplesmente abandonados por
de areia vai protegendo da erosão tantas peças de museu não terem interesse comercial, ou cntào removidos in-
e as manté m reunidas ao longo dos séculos. conscientemente da sua posiç;io original, impossibilitan-
A arqueologia subaquática , devido às novas tecnolo- do que o arqueólogo, um dia, possa explorar metodica-
gias, tem tido nos últimos anos um desenvolvime nto es- mente O .. sitio». É assim que a maior parte das vezes tem
pectacular. Trabalho consciente, cuidadosamente pro- de proceder o caçador de tesouros, porque nem sempre
gramado, a arq ueologia tem co nseguido resultados q ue consegue a autorização do país onde os restos do navio
estão bem patentes, na recuperação do «Vasa»C) que é afundado se encontram e, portanto, a rapidez da opera-
sem dúvida o exemplo mais notável que podemos assina- ção é, sem dúvida, o segredo e a alma do seu negócio,
lar. No processo arqueológico há a preocupação constan- Aliás, esta actividade, nada fáci l de impedir. não é recen-
te de assinalar a exacta posição em que se encontra cada te. Há séculos que o home m, em mergulho livre ou com
objecto, ou mesmo um pequeno fragmento, para se pro- a ajuda de material mais rudimentar ou mais sofisticado.
curar reconstituir todo o conjunto com o maior rigor e as- a vem praticando, para a recuperação dos bens perdidos
sim contribuir para um melhor conhecimento das coisas no mar.
e dos homens do passado. É um trabalho demorado, pa- Esta introdução serviu para apresentar ao leitor um
ciente, que exige o recurso a historiadores e cientistas, inventor português que conhecemos através de um reque-
para que os o bjectos achados sejam devidamente identifi- rimento que se e ncontra na Biblioteca Central da Mari-
cados nos mínimos detalhes, e para que se criem as condi- nha e). Nele, um tal José da Costa Freire, afirma ter en-
ções de modo a que uma permanência de séculos debaixo contrado solução para tirar do fundo do Mar as Preciosi-
de água não prejudique a sua conservação quando fo rem dadesqlle nelle sepllltâo Navios Afllndadose pede que lhe
expostos em novo ambiente. seja concediC:o o privilégio de exploração da sua máqui-
na. Mas, vale a pena reproduzir este curioso documento:
(I) Majtsforo nayio afundado no aliO dt 1628. quando saiu do por/o Senhor
dt Es/ocoImo pt/a pr;mrira "tI. O proctsso Ilus/IU r«/Iptração. q/lt ItVt Diz José da Costa Freire, Machinisla e que Avendo
inir:wtm 1959, ItmsidomuitoconlpluotdisM"dioso. dado Publicos Testemunhos de Slla Aptidão IUI invenção
de Novas Machillas como fora a de lirar Agoa do Pucinllo
no Real Hospital da Vil/a da.~ Ctlldas como he bem IIOtOriO
a V. Mages/(u!e; Agora (em illvelltado Olllm qlle se indica
IW dezenho incluzo para ir tirar do f/llldo do Mar as Pre-
ciozidades que nelle supultão Ntlvios Afundados. e por
q/leaos inventores se tem V. Q Mageslade Dignado a Exem-
plo de Seos A/lgustissimos Predecessores, premear com o
Privilegio Excl/tzivo de Certo Numero d'Almos perlel/de
I o Supp.' que V. a Magesrade haja por bem fazer-lhe a Mes-
\- mtl Expecial Graça /lzalldo para com elle SUP1). ~ de Sua
Relll Grulldeza COI/cedendo-lhe ° Seu Excluzivo Privilegio
por Vime Ali/lOS com a pena de Cadêa pagar ao Supp.' o
Trallsgri'ssor a qllamia di' Vinte Mil Cmzados de Cada
Vez que transgridir e se Valer qlliur de Sua Machilla; to-
mando-se-Ihe a qlte fizer à imitação da do Supp.'
P.' a v." Mag. r porSllll Grandeza
es(a graça
E.R.M.'"
rOfO do dtstnho 110 primrirQ doc/m/emo "ímst:"rÍlO. f)MsZOI, Rddl4
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