Page 226 - Revista da Armada
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/1e0, o belo Tejo, qlle cin/ila sob a bruma cas dos banhistas, brancas, pomiagudas, do joelho e um boné de pralO, montoli a
aquática como UI/1 peito de aço coberto dão-lhe o ar de um acampamenlo de ópera cavalo e veio a Lisboa numa dessos galo-
por 11m I'éll de gaze, batido pelo largo sol. cómica. padas legendárias, terror dos cortesãos.
Perdeu mllilO da sua fama antiga o ce- JI/I/to da água, barracões de madeira, muitos dos qllais derrogavam a etiqueta,
lebrado Tejo. Poderíamos mesmo (Uzer embO/ldeirados, ostell/am as SI/as varO/!- deixando de segl/ir o soberano e ficando
que alguma coisa perdeu também das suas das cobertas com IOldos recortados, debai- extenuados pelas estradas.
antigas águas. xo dos quais ondeiam os véus e se agitam Em Lisboa quis o rei assestar nos cais
Das .wa.l· margells já se não exportam os leques da.v senhoras. a sua artilharia e meter a pique. a tiros de
as canas, que, segundo Estrtlbtio, davam Dos barrllcões .mem para o mar pran- peça, as embarcações francesas, SlIrgiram
as penas preferidas ,los escritores roma- chas, em que WIS esperam, pitorescame/lte porém obstáculo.\' que lUio permitiram pôr
I/OS. drappés nos seI/.\" lençóis II/rcos, e de qlle em prdlica este alvilre mais extraordinário
Tmnbém já mio produz o OIlfO, de que OlltroS se precipitaI/! de mergulho /III vaga. talve: do que o próprio caso que lhe dera
Duarte Nunes de Leão cOII/a que se fez 11m Alguns peqllenos botes, com especta- origem. Sua Majestade mandou entiio
ceptro parti D. lotio 11/. dores, bordejam na áglla. COl!Slruir lima hateria em Caxias c passou
Finalmente, já mio .wem da ,HIU incom- As cores dos ve.\"lidoJ dI' Verão, dm o el/lrl'lt'f os seus ócios faundo fogn de ar·
parável baia os allt:'fO.\'Os galeões que /10 chapél/s de sol abatu.\", das handeiras des- lilh(Hio sobre 11m l'elllO //(/I'io que se colo·
tempo da Rellascençu varreram do Ocea-
fraldadas. prodllzem soh u soluIIII/ g/"On- CII'" /1/) mar COIIIO illvo aos reais tiros. E,
110, para abrir campo ã história de "OVOS de mancha ale/l,re. riden/l', cheia de II/~, no depois disso, SilO Majeswde permallf'cia
feitos, a velllfl tradiçiio das t'Onqlústas dos
meio (Ia areill flllva . /1/1/ilO em Caxil/.I·. l'igiamlo o mar, r.fpe-
fenícios e dos descobrimentos dos nor· Ao ludo da praia destaco magnifica- rando lall'l'~ qlle II esquadra fral/ce.va lhe
mandos, meme, com /111111 lel'e cor de sepia sobre o apareces.fe di' 1/01'0, e,v((lfIdo ele prepl/rado
Em compensação aí temos o Aterro, /ransl'are/lle allll, a bela Torre de Relem, para o rei·eber. Mas II e,fquadra fUlI/cesa
com as .fl/as alta:i e es/{/úa.l' chaminés emp" com os sellS relvados e hastiões, as .fllas náu VO/IO/l. Vo/wram 0.1" nal'Íos q/le ele
lIachadas de fI/mo, a fábrica de gelo artifi· gl/aritas, os selu eirado.f, o .I'ell elegallte apresaru, traumlo" sell bordo os homens
cial, o gasómnro, o ofirino de serração a adarl'e, em cujas ameÍlu se elllalham as que plueram /10 trono a Sr.~ D. Maria 1/ e
vapor, Lá e,flã (I Grande HUlcI Cenlra1. cmus floreleadas de CriSln, e i/ ~'II/I bote- desterraram Ilarll , 1"I:mpre o Ilrtilheiro de
com o SilO ('aSII de ballho.f e o seu restou-
ria airo.w ( 'ali/O o terraço italiano de 11111 Caxias.
rallte frtlllcb , Mai.f acima, II bandeira in· palácio de recreio. A CIl,liaJ, q"" lJells guarde e consen'e
glesa/reml/lll/UI lurgll varanda do Bragan- ('Oll! o seu jardim r CO/II a SilO Iri.fle e me-
Considerada como cons/rl/~'ão militar,
cc Hotel. Curmagens (Ie NOl'a lorqw', PII- I/ importância da Torre de Relém éabsoll4' lancó!im prllÍlI. sl'gue·.I·/' Pafo de Arcos,
xada.f por ml/la.f brasileiros, rolam apara· dc lodll.~ as praÍlIJ da margem do Tejo 1/
tosamellte sobre ° carril americano e salpi· tamenle /lula. As SilOS muralhas de ('a/lla-
ria desaparect!fiam dentro d(' poucos mi- qlle mais lkmfogadamenll' I'é o mllr e res-
cam ° cais com as suus alegres core.f ambll' nlllOS verejadas pela artilharia //Iodemi/. pira a atmosfl'ra marilim". Tem apellas
lantes. - O que tudo prova que alguma A IÍnica arma defensil,a que a Torre de uma fila - (I estrada -, mas essa está a
coisa se tem feito fiO ml/ndo /lestes três sé- Bdem pode empregar cO/llra n i/limigo beira da água, exposta a sudoe.fte, de
culos qlle nós temos pa.uado a recordar é a sI/a beleza. A slIa guerra terá de ,ver mOlln lllle descobre largullleme o Oceal/o.
qlle foi por nosso intermédio ql/e as nUlu IOdl/ por souism' como o da.f crial/lru.\· Depois de Pedrollços é eS/a a praia em qlle
da India trouxeram à Europa as pimelltas
coqucttcs. se agfllpam mais harracas. As árvores da
de Ceilão qllinta do wnde das A/rúço\'as facllltam-
Do Olllro lado do rio fica·nos Almada, Quando há poucos anos a Torre man- -lhe Iml pequeno flllldo freKo de I.'erd/lra.
dO/I uma bala a um navio de guerra amt!fi-
de cuja elevação.fi' descobri' l/ara UI/1 latia Uma ou duas rasas, (·U}OS estores exterio-
Lisboa inteira, desde Sal/los-o-Velho at~ COlIO ql4e demandova a barra, o coman- res veslem as jallela,~ de petl"ellos IOldos à
Belém, e para o OI/tro a i"dl/Strial Arrel1le· dante da embarcação reunil/ conselho de flamenga, ildo·lhe IImll certa feiçâo con-
la, o rea/engo Azeitão, Palme/fi acastela- oficiais e prop6,t a réplica ao fogo da Tor- fortável.
da, o Barreiro, com a .HIO e.ftação do cami- re. Votou-se por unanimidade que não se
abrisse lima canhoneira contra aqutla Porque é qlle náo lém todas as casas da
nho de ferro do Sul, o Lavradio ,'om 0.1 jóia, Ião delicada, que ,ve desmoronaria ti beira·mar este.f eSlOre.f alpendrados? Por-
suas apreciadas vinhas, e Se.fimbra, a piso
primeira descarga. que não cOlllribllem O.f proprietários com
cOS(J, .
Diz-se qllf! Almada fom fl/lltlad/I pe/O.f Para lima corveta americana, receber esse peqllf'llo aceuório do pilOresco, de
ingleses que vieram ao Tcjo /UI expedição 11m liro da Torre de Belém era o mesmo C1/SIO tão módico, e tiio agradável para
de Guilherme, (l da longa espada, e que que para um homem valente levar lima bo· quem habita as casa.f expostas ao sol?
Afonso Henrique.f doara aquele território fetada da mdo delicalla, franzina, perfu- Quase fOda.f as casas do campo e d(Jj
aos que desisti.~sem da rrulOda da Palr.Hi- mada, de lima linda mulher f,aca e peque- prllia.f dO.f .wbúrbiO.f de Lisboa, são parti-
na. Bon.f tempos em que III/lU l'xpt'diriio I/itw. À bahl qlle a T orr(' em'ioll ao lIal'io, cularmenle IIIIOS, de.vcamailas, ,ectilineas,
inglesa se peitava com IIII! m'.fg,1I di' /('rrll o /lIIvio re,Wnlllleu I/Ial/(Iallllo um beijo ti feii.uima.f. Qllerem Irllllsformá-las rapida-
ali da outra banda! Que llirifl a Ingl(l/('(rll Torre. Somenle, COI/lO 1/ amante capricho· mente, IOrná·las agradáveis, simpáticas,
se nós hoje oferecis.femo.f a [aoIMl/dl' ti" so ql/t' segura os pl/lsos da SilO bela e lhe apetitosas? Pintem-nas de cinzento, de cor
residir fia Trafaria aO,f ,~('II.f t',tpt'tlidoll/j· ml'le ã forfa lias cabelos o aal'O encarna- de lousa 011 de pós de chumbo, adornem-
rios qllr preferi.uem ficllr em flos,va.l·terrIU do que Irazia fia ca.wca, o americano vin· '/lIlS dI' lima .fin~ela trepadeira, a hera, a
e fazerem a viag,l'fn (lO Pá/o'! gOI/,se lIa Torre ohrigando-a a arvorar o glic/nia, o heliOfrÓpio 'ou a madressilva;
Mas o vaporzinho de Cascai,f Il'l"II/ltflll estrelado (lo "adlhão dos E.ftados. visfam·lhe.f os janelas de gralldes gelosias
a sua ãncora I' par/iii. Eü Caxia,f e o seu palário real. re,fidél1' branca.f, ou.fl/spendam.mbre as varandas
Aquele renque de palácios ql/e esta- da ",edill'cta do Sr. D. Miguel/lOS úllimos largos e,ffOre.f ,foliellles de listas verticais ou
mos vendo, gravemente enfileirados, com lem(1OS do .veu remado O desditoso sobe· de 8ramles quadrados escoreses. Se há um
os sel/s jardins I,ltlllllldos de pfllmdr/IS l' tI~' rllllO 11(Ihillll'/I ortlillariameme Queha. mllro de jardim, SIIbsliluam·no por uma
araucárias, é a JU/lql/eim. O 11I'IIW'/II1 ,'d/- Um II//l. IU'hall/lo-fl' ai ocupado a caçar sebe, por lima simples grade de madeira
ficio redondo qlle muis além sobrl'ssai /lO (IOmho .• 1111.{ terrllS tio IlIfall/ado, foram pintada de verde 011 por um valado plama-
arvoredo é ° observatório da Tapada da (1IIf/idpl/r.1I11' qlle UIIIIII'S(IUadra francesa, dode caClOS.
Ajllda, Ao poente fira -/lOs o grallt!" I' pI" "/llradl/l/o Tejo. 1/("1111111'/1 de apresar todos Não há casa que resista a eSle processo,
sodo palácio de D. loâo VI, 'IIU' /I mU/ulOIl 11.1' /W.f.W.I· 1I111'im (ii, guerra a t{tulo de in· porque as casas são um pOIlCO como as
edificor no me.wwll/gI".'m 'II/e fom dl'l'o, demni~llfúO "or 11m il/sullO de que dois mlllheres, que só são feias quando são tão
rodo pelas dwma.f o III/ligo fltI(/J, Imh/lllllo frall('/·.f/·s IlIIl'ÍlIIlI sido objeclO. Diante da estúpidas que se não sabem dotar com essa
ainda por D. MI/ria I. Ao /IIIS("('I/II' ad.Ha· nOlida de.fll' faflo. I'erdildeiramellle el/or- segllnda beleza suplementar que se chama
mos ainda, ('O//UI S,'/IIinl'lus d(1 ddmk me - 1111111 flOlill1ll lll/e elllra I/II//! parlO e asimpatia.
morra, os dprl'.flr.l" imán'is dos Pm:l'rl'.f se apodera dr IIIJ!lI marinha de guerra - Paço de Arcos dizem que é a praia aris-
Passamos em freI/te dfl pmil/flfl Torrl'. o soh('fallo, I'eslido com 111110 casacdo de tocrática dos subúrbios de Lisboa. Não sei
É animadissimo o Jl'1I IIspecto As bl/rra· briche. bO/(ls de mOl1lar. meia,f de lã acima bem donde é qlle esta fama lhe procede.
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