Page 259 - Revista da Armada
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dos, malhas, fios, cordões, cabos, vassouras, escovas,
         etc, Um sem número de artigos, produzidos nas respecti-
         vas oficinas, que dão vida, ainda hoje, ao longo edificio
         da Junqueira, que nasceu para  servir a Armada e cuja
         história, cheia de acontecimentos e vicissitudes, se vem
         desenrolando desde há 200 anos.



          COMO  NASCEU  A  CORDOARIA
            o vaivém das nossas naus, mercê, e sobretudo, dos
         contactos com as nossas possessões em África, na índia
         e no Brasil, exigiam grandes estruturas de apoio. A Ribei-
         ra  das  Naus  era  o  repositório  dessas  infra-estruturas
         que, a determinado momento, se julgaram insuficientes.   Actual oficina de cordame: estiragem de sisaI (fala do cap.-m.iI. AN
                                                             Ruy Trincheiras).
          Lá estava também a velha oficina dos cordoeiros navais,
         onde se fabricavam as enxárcias destinadas aos navios.   na  história  da Cordoaria  que  representam  um  avanço
             Em 1770, após conhecimentos adquiridos em Ingla-  substancial.  Entre elas destacam-se a de 1877, em que
         terra,  o cordoeiro  António Baptista de  Sá pretende,  ele   a força do vapor faz trabalhar as suas máquinas, e a de
          próprio, montar uma cordoaria e  requer o privilégio do   191 4, ano em que a electricidade passa a ser na Cordoa-
          fornecimento à Armada Real. Tal não lhe foi concedido,   ria a força motriz. Contudo, é  também nesse ano que a
          antes, ao contrário, foi obrigado pelo marquês de Pombal   Fábrica passa a depender da Direcção das Construções
          a aceitar o lugar de mestre da oficina dos cordoeiros da   Navais por decreto do ministrada Marinha, almirante Pe-
          Ribeira das  Naus,  sendo-lhe garantido que ele iria  ser   reira da Silva, donde seria destacada por um outro decre-
          também  mestre da fábrica que o  Estado  iria construir.   to de 1938, emanado do ministro Ortins de Bettencourt,
             Eram os primeiros passos para o edifício da Junquei-  para ficar dependente da Superintendência dos Serviços
          ra. Para a manufactura dos cabos e amarras Baptista de   da Armada.
          Sá não dispunha de espaço na Ribeira das Naus, e só   Já quase nos nossos dias, em  1970, uma profunda
          os areais da praia da Junqueira lhe permitiam tal intento.   remodelação se dá com a criação das secções comer-
          Assim. D.José, em 1775, assinou um diploma da cons-  ciais nos estabelecimentos da Marinha sob a administra·
          trução da nova fábrica de cordoaria a implantar naquele   ção da Direcção da Fábrica Nacional de Cordoaria, com
          local.  Todavia,  s6 em 1783 se deu início às obras e s6   a criação do Quadro Privativo do Pessoal Civil  Perma-
          em 1788 se dá por concluída a construção de duas alas   nente em 1975 e,  finalmente, nesse mesmo ano, com a
          paralelas, separadas por um pátio, que também só muito   reorganização  dos  serviços  da  Fábrica,  repartindo-se
          mais tarde foi coberto para minimizar as condiçóes desu-  !Xl' duas Divisões: a Industrial e a Comercial. Esta última
          manas de trabalho a que os cordoeiros estavam expos-  Divisão, ao contrário da Industrial, inteiramente sediada
          tos.  Logo em 1797, dadas as crescentes necessidades   no  edificio da Junqueira,  reparte-se  por quatro  locais:
          da Armada, foi imperiosa a construção de pequenas ofi-  Edificio da Marinha (Terreiro do Paço), Secção n,O 1; Rua
          cinas abarracadas  junto  ao  muro do edifício que dava   da  Junqueira,  Secção  n.02; Laranjeira,  Secção  n.03, e
          para a Rua da Junqueira. Porém, não muitos anos após,   Base Naval de Lisboa, no Alfeite, Secção n.04.
          parece que em  1814, já se punha em causa a extinção   Nelas são prestados serviços, tais como: venda de
          da Real Fábrica Nacional de Cordoaria a que se opôs o   artigos de mercearia, drogaria e papelaria, bebidas, utili·
          parecer de Luis António de Leiro e Seixas Souto Maior   dades,  pronto-a-vestir,  brinquedos,  electrodomésticos,
          (Filho), e em 1868 nova onda contrária terá surgido que   fardamento, sapataria e ainda fornecimento de refeições
          mereceu do almirante José Cândido Correia a seguinte   em snack-bar e restaurante,  fabrico  e fornecimento de
          afirmação: Felizmente não houve tempo para se resolver   pão às unidades da Armada e abastecimento de artigos
          tão grande absurdo que era cumprir o determinado de   com isenção de direitos às cantinas dos navios, s6 para
          riscar da lista dos estabelecimentos do Estado a Cordoa-  consumo no mar. Não será descabido afirmar que dificil·
          ria.  Algumas crises daquele tempo em que, como hoje,   mente se encontrará um organismo que tantos e tão va-
          o pais parece ser pródigo, determinaram que a Cordoa-  riados serviços preste a qualquer Corporação, como é o
          ria  sofresse  algumas  reformas  e  determinaram  ainda   casada Fábrica Nacional de Cordoaria.
          que umas vezes ela dependesse do Arsenal da Marinha,
          outras  da  Secretaria de Estado dos Negócios da Mari-
          nha,  da Superintendência da Inspecção do Arsenal, do   NEM  s6  CORDOARIA  MAS  SEMPRE
          Conselho do Almirantado, da Administração dos Servi-  CORDOARIA
          ços Fabris. Essas crises, como todas afinal, podiam con-
          siderar-ser algumas como crises de crescimento e ou-   Ainda hoje a Fábrica Nacional de Cordoaria cumpre
          tras como verdadeiros desaires. Mas os maiores desai-  a missão que lhe incumbiram ao nascer.
          res, superando todas as crises, foram os incêndios defla-  O seu destino era servir a Armada.  Isso o tem  feito
          grados um em 1826, outro em 1881 , e ainda um terceiro   e continuará a fazer, bem podendo nós, a seu  respeito,
          em  , 949, destruindo o  primeiro parte do edifício, o se-  parafraseando um fado conhecido, dizer: Tenho o desti-
          gundo o armazém de linho e o último a oficina de velame.   no marcado desde a hora em que nasci.
             Mas se tais datas marcaram um retrocesso, outras há   O velame e afins ali são feitos. os cabos ali continuam

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