Page 261 - Revista da Armada
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soas  quase se amontoavam  em  espaços  impróprios e   estágio. Contudo, o seu pessoal auxiliar, embora em nú-
         acanhados. A partir de 1 de Outubro passado, com a en-  mero suficiente. não é técnico. A experiência conta mui-
         trada em funcionamento das novas instalações, o mestre   to, dissemos-lhe nós, respondendo ela que a experiência
         Silva e o seu pessoal imprimiram uma nova dinãmica à   não é tudo.  Mas lá que a  creche é  um mimo, ai isso é!
         alfaiataria.  Da  Rua  do  Ouro,  no  n.0210-1.°,  frente  ao   Desde a alimentação, devidamente estudada de harmo-
         Grandela, onde ele trabalhava e atendeu muita gente da   nia com o parecer do médico pediatra, até aos horários
         Armada na confecção das suas fardas, veio o mestre Sil-  de entrada e saída, lavagem de dentes, repouso, mudan-
         va instalar a alfaiataria da Cordoaria em 1 de Março de   çade fraldas. etc., etc., tudo está previsto eestabefecido.
         1971 . Apesar dos seus 66 anos, aparenta a mesma cara   Até porque, como diz a responsável Graça Jorge, um
         e o mesmo aspecto dos cinquenta. E pretende, pelo me-  infantário ou uma creche não é um depósito de meninos.
         nos vontade não lhe falta, chegar à longevidade do seu   Cada uma das crianças merece o  seu cuidado pró-
         bisavõ, a quem a morte só levou aos 105 anos, e que du-  prio e especIfico, que não lhe falta na Cordoaria.
         rante muito tempo teve uma urna debaixo da cama, nela   E é assim que, com um trabalho de equipa, onde não
         se metendo uma vez por outra, a fim de experimentar a   falta a colaboração na parte administrativa da encarrega-
         futura morada  .. .                                 da da creche, Aida Rodrigues Mendes, e demais colabo-
             Mas, os achaques que a muitos afligem também se   radoras, a creche da Cordoaria é um modelo de educa-
         apoderam do mestre Silva. Os cálculos renais e o ácido   ção  de infância onde  bem  se  cumpre o ditado  popular
          úrico atormentam-no. Para esta última masela já ele en-  que de pequenino se torce o pepino.  Ali  se modela,  ali
         controu um remédio inédito: uma batata crua permanen-  se  educa.  ali  se serve com todo o  carinho e  desvelo a
         temente no bolso. Quem diria, mas ele o  confessa e é   criança, desde os 2 meses até aos 6 anos de idade.
         verdade, a batata absorve-lhe o ácido úrico ...        Como complemento da creche, e para continuar a as-
             E, com a mesma descontracção com que nos relata   sistência aos filhos dos trabalhadores da Cordoaria, fun-
          tudo isso, nos diz também da sua alegria em servir a Brio-  ciona também o  chamado  Parque Social, desde 1974.
         sa.  «vestindo-a» , tornando-a  bem  apresentada.  «Uma   De condiçôes modestas, embora, o Parque Social rece-
          farda impecável é o melhor cartaz de uma Corporação»,   be e atende as crianças. em ocupação de tempos livres,
          afirma-nos ele.                                    mesmo durante o período de férias.
             É verdade, tem razão, anuímos nós, em concordãn-   Um  trabalho  a  todos os  títulos  louvável  e  que  nos
          cia, ao mesmo tempo que dele nos despedíamos para   apraz registar.
          passar a outra secção.
             Um aprendiz de electricista, o Teixeira, de 17 anos,
          vê com muita alegria a continuação da sua permanência
                                                             «ADEUS,  ATE  AO  MEU  REGRESSO"
          na Cordoaria, onde o pai também presta serviço.
             Na oficina de tecelagem. a Maria Emília, que ali tra-
          balha há 36 anos. e a quem encontramos em plena labo-  Tudo quanto há a dizer da Cordoaria, do edifício mais
          ração. disse-nos, com  certa tranquilidade:  «Trabalham   longo que conhecemos, não se confina no despretensio-
          as mãos. mas descansam os pés». Tínhamos-lhe obser-  so relato que dele acabamos de fazer. A sua história e
          vado que já devia ter as mâos cansadas. E esta bonomia,   a sua gente merecem que lá regressemos um dia.
          esta descontracção. este chamar o trabalho por .. tu  cá,   Aliás. repetidas vezes nos foram pedindo para voltar.
          tu lá» , fomos depará-lo também na Secção Comercial.   Em conversa com o tenente Berrucho. um homem de há
             Muito sorridentes, a Bernardete, na qual corre o san-  muito ligado à  Cordoaria,  e  que encontrámos ciceroni-
          gue de quem isto escreve, a Fátima e «Companhia Limi-  zando o seu sucessor naquela casa, ficou-nos o desejo
          tada", como alguém designou toda a boa malta do Su-  de regressar. Desta vez. no entanto, focámos o  essen-
          permercado, manifestam o interesse de bem atender os   cial.  Pormenores, tais como datas célebres na vida da
          clientes e nâo escondem a sua preocupação pela melho-  Cordoaria, correspondência escrita com ela trocada por
          ria  das suas condições. melhor dito, das suas regalias.
          E bem  merece gente  tão aplicada, que a  sua situação
          melhore sempre que possível.


          CRECHE :  DE  PEQUENINO  SE  TORCE
          O  PEPINO

             Sucedendo  à  Creche  das  Casas  dos  Pescadores,
          fomos encontrar a creche dos filhos do pessoal da Cor-
          doaria.
             A Graça Jorge, a  educadora responsável. cheia de
          jovialidade e dotada de espírito de iniciativa, confessa-
          nos que gosta imenso da sua creche, das suas crianças,
          e está plenamente identificada com o seu ambiente. Eta
          é a .. única técnica a trabalhar sem técnicos», como gra-
          ciosamente afirmou.  Uma vez por outra, tá  lhe aparece
          uma estagiária, oriunda da Escola de Educadoras, e que
                                                             nnlurarill: fingimento de fio em cones (folo do cap. -m. -g. AN Ruy Trin-
          é autorizada pela Direcção da Fábrica a fazer aqui p seu   chtIiras).

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