Page 332 - Revista da Armada
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urgente desnecessária, face às fora de horas, o que lhe valeu estar E a terminar:
ameaças anteriores ... e, finalmente, «hospedado» durante três meses na ( ... ) Homem aberto e generoso,
a que diz assunto a seu favor parece Fortaleza de Moçambique. chapa ganha chapa gasta, Manuel
não ter cabimento. pois a verdade é Também ai, com a sua graça e dos Santos morreu em Lisboa, sem
que eu não estava envolvido em alegria, se fez idolo da guarnição, e deixar fortuna, a 2 de Outubro de
nada, era apenas uma testemunha nem por isso deixou de ser promovi- 1951, com 78 anos. Figura das mais
abonatôria, nada havendo que pu- do mais tarde a primeiro-marinheiro, populares do seu tempo, nem a vi-
desse ser a meu favor ou contra. após exame feito na corveta «Rainha bração dos aplausos nem o convívio
E é assim que correm as coisas D. Amélia». dos nobres e dos importantes o fize-
dos tribunais neste abençoado país! Desde os primeiros passos na ram perder a simplicidade, nem es-
Marinha que Manuel dos Santos se quecer essa vida de marinheiro que,
•••••••••••••••••••• tornara conhecido pela sua perma- dizia ele, teria escolhido para sempre
nente boa disposição; logo na sua se não fosse a paixão do toureio. No
Do capitão José Robalo, Setu- primeira viagem, de 18 meses, na seu livro de memónas que, homem
bal, uma carta com palavras de ami- corveta «Afonso de Albuquerque», de poucas letras, um jornalista o aju-
zade pela Revista e um recorte do
sob o comando de Augusto Henrique dou a escrever, confessava: «O mar
jornal .. O Tiro Civil», de 15 de Abril de Correia, se fez amigo de toda a gente é bom e bravo como o touro.» E,
1898, que julga poder interessar aos - e entre ela um aspirante chamado mais adiante: «Foi no mar que eu
nossos leitores, por falar de um anti- Gago Coutinho. Anos depois, quan- aprendi a querer ao Sol e a não ter
go marinheiro que foi afamado tou- do encontrava o glorioso almirante, medo dos touros.»
reiro. Trata-se de Manuel dos San- Manuel dos Santos cumprimentava-
tos, que viveu entre 1873 e 1951.
o sempre dizendo: "Viva quem é N. R. - Nâo confundir esle loureiro com
Acerca dele fizemos os seguintes ex- uma glória mundial." E o almirante o célebre matador Manuel dos Santos (19251
tractos do livro "No País das Toura- respondia: «Viva quem é uma glória /973).
das», da autoria de Solilóquio, que é nacional." E assim ficavam nas devi- ••••••••••••••••••••
o apodo usado na crónica pelo nosso das proporções, a fama do popular
distinto colaborador e amigo capitão- toureiro e a do almirante que a histó-
-de-fragata Cristóvão Moreira, na ria dos nossos dias consagra.
parte que se refere à sua vida na Da «Afonso Albuquerque» pas- ANIVERSÁRIO DA REVISTA
Armada. sou Manuel dos Santos a corveta
De entre os marinheiros de que "Mindelo», onde tem porcomandan- Tiveram a gentileza de nos enviar
reza a história da tauromaquia, o te outro nome ilustre da Armada, Au- saudações pela passagem do nosso
bandarilheiro Manuel dos Santos foi gusto de Castilho, que põe ao azou- 15. 0 aniversário a Direcção do Clube
certamente aquele que nas nossas gado marujo a alcunha de «Vida Ale- Militar Naval, com parabéns a lodo o
arenas atingiu maior popularidade, gre". E, estando o navio em S. pessoal que nela presta serviço pelo
popularidade que se estendeu ao Tomé, dã brado a sua actuação hila- trabalho desenvolvido ao serviço da
Brasil e da qual não desmoreceu nas riante, pormenorizadamente descri- Marinha de Guerra portuguesa e vo-
suas actuações em Espanha, onde ta no jornal da ilha, numa récita que tos de prosperidade para o futuro, e
aparece citado, e com direito até a fo- a guarnição ali organizou a favor dos da revista .. Mais Alto", com palavras
tografia, nessa autêntica bíblia do colonos indigentes, dirigida pelo de muita simpatia, manifestando o
toureio que são «Los Toros» de Cas- guarda-marinha Metzener; o espec- brigadeiro pil. av. Mendes Quintela a
sio. táculo rendeu um conto e seiscentos sua solidariedade pela nossa cam-
E, depois de exaltar a sua valen- mil réis, uma fortuna para esse tem- panha para que as estátuas que
tia: po. existiam nas antigas províncias ultra-
( ... ) Concluída a primeira apren- Da «Mindelo» passou Manuel marinas venham para Portugal.
Os nossos agradecimentos.
dizagem na Escola de Marinheiros, dos Santos ii «Limpopo», e depois ii
Manuel dos Santos estava pronto a «Liberal», cujo comandante era o en-
iniciar essa vida aventurosa que lhe tão primeiro-tenente D. Bernardo da
ia permitir, como ele contava, conhe- Costa Mesquitelfa, que foi prestigio-
cer as Áfricas e o misterioso Oriente, so almirante e pai de o. Bernardo
e ali conversar por mímica com os Mesquitelfa que havia de ser empre-
chineses, diante da Grande Muralha, sário no Campo Pequeno e também
essa vida de marinha da qual até ao o mais famoso crítico taurino do seu
fim só guardou boas recordações, tempo.
exceptuando os três meses que pas- (. . .) Segundo-marinheiro, ga-
sou na baía de Tungue, a um quarto nhando catorze mil réis por mês, as-
de ração, vendo mOrrer camaradas sustou com um pau de marinheiro
que a biliose dizimava. De tudo o res- um fulano que lhe acenava com boa
to falava com alegria, até do castigo maquia para que ele alterasse o seu
que apanhou quando em Macau, testemunho em certo juramento. Foi
embarcado no transporte «África», esse carácter franco que, com sua
reagiu na mesma moeda ii violência valentia e improvisação, Manuel dos
com que foi acordado quandO dormia Santos levou para as arenas. ••••••••••••••••••••
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