Page 422 - Revista da Armada
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ortagem
DIA MUNDIAL caso de emergência, ninguém nos pode vida de que, enquanto algumas naçóes vi-
DOMAR ajudar c só elas podem salvar a Nação. Da ram o âmbito da sua vida polftica e econó-
mica quase completamente circunscrito à
fome, pelo menos ..
E vamos então transcrever o discurso exploração das terras, outras, por circuns-
Culminando as comemorações do Dia do comandante Serra Brandão, presiden- tâncias diversas que a História aprecia, fo-
Mundial do Mar deste ano no nosso país. te da Sociedade de Geografia. ram atraídas mais especialmente para o
realizou-se uma sessão solene na Socieda- Mar e nele procuraram elementos para o
de de Geografia de Lisboa, no dia 25 do Senllor Ministro, seu engrandecimento ou até a razâo da sua
Permita·me, em primeiro lugar, que
passado mês de Setembro. saúde Vossa Excelência e llle diga quão existência como estados soberanos. Tal
Presidiu o ministro da Defesa Nacio- como sucedeu com os povos cujo território
naL dr. Leonardo Ribeiro de Almeida, grato foi para nós ver comemorar nesta ve- é em grande parte banhado pelo mar e
tusta Instituição o Dia Mundial do Mar: os
ladeado pelos ministros das Obras Públi- que, por dificuldades naturais ou antil/o-
cas, Transportes c Comunicações. cng.o objectivos perseguidos pela Sociedade de mias políticas, não puderam encontrar fiO
Geografia, a probidade do vasto trabalho
Oliveira Martins; chefe do Estado-Maior interior das terras o indispensável à sua
realizado, a dignidade e as tradições desta
da Armada, almirante Sousa Leilão; se- sala, terão justificado a escolha. existência 011 à expansão da SIlO energia e
cretário de Estado dos Transportes e Co- A Sociedade de Geografia de Lisboa, do seu génio. ,.
municações, dr. Sequeira Braga; secretá- com o prestígio qlle lhe impóem I I I anos Se com épocas de mais fortuna e outras
Tio de Estado das Pescas, cng." Oliveira de actividades proflcua, independencia de menores resultados tirou sempre do
Godinho; presidente da Sociedade de política e desinteresse material, vem ulli- mar a Nação Por/uguesa o esteio principal
Geografia, capitão-de-fragata Serra mamellte realizando, dentro das suas mo- da Sl/a independência, nunca o seu pro-
Brandão e presidente da IMO (Organiza- destas possibilidades materiais e através da gresso e a sua integridade deixaram de se
ção Marítima Inlcrnacional), vice-almi- sua activa Secção de Transportes, um es- encontrar na dependência do Mar. Como
rante Leonel Cardoso.
A abrilhantar a cerimónia encontra- forço que ajude a criar as condiçóes legais, dizia há dias o Senllor Presidente da Repú-
va-se presente a Banda da Annada. administrativas e operacionais que facili- blica na sua mensagem emanada de bordo
Sala cheia, com vários almirantes e tem a recuperação do lugar que nos com- do navio-escola Sagres, «no mar residi-
oficiais superiores da Annada, elementos pete, e se considera imperativo nacional, ram desde os alvores da nacionalidade al-
das Marinhas de Comércio e das Pescas e no campo dos transportes marítimos, no gumas das razões mais sólidas da nossa in-
dependência e da perel/idade das nossas
seu CO/lceito mais lato que abrange os por-
muitos convidados, discursaram sucessi- IaS, ocomércio, a pesca e o recreio. fronteiras ao longo dos séculos. O el/cer-
vamente: os presidentes da SG e da IMO, Quando se realizou, em 1958, com o ramento do ciclo imperial, o retorno li di-
o contra-almirante ECN Ribeiro da Silva, maior brilho e algum proveito o /I Con- mel1São europeia e a adesão às Comunida-
da Inspecção Geral de Navios, o contra- des reforçam a importância da vocação
-almirante Martins Cartaxo, director-ge- gresso Nacional da Marinha Mercallte, a marítima de Portugal. Valorizar a dimen-
Sociedade de Geografia de Lisboa, convi-
rai de Marinha, o secretário de Estado dada expressamente para nele participar, são atlântica de Portugal com o objectivo
dos Transportes e Comunicações, o direc- apresentou uma comunicação, de que tive de favorecer uma posição autónoma do
tor-gerai das Pescas, eng. ~ Eurico de Bri-
Pais no espaço europeu ocidental constitui
to, e o ministro da Defesa Nacional, num a honra de ser relator, subordinada ao - ainda segundo o Senllor Presiden/e da
tema .. O Regresso ao Ma",. Algumas das
bem delineado e inteligente improviso.
Na impossibilidade de publicarmos minllas breves palavras de hoje são repro- República - um tema obriga/ório para re-
todos os discursos. fazemo-lo somente em dução ou resumo da mensagem de então flexão eacçóes poIÍlicas".
relação ao primeiro por ser o que trata o da Sociedade de Geografia àquele Con- ° mar é o campo de batalha do próxi-
assunto de uma maneira geral, aliás com gresso. mo século: batallla política, batallla tecno-
brilhantismo. O Mar, importame factor ecológico e lógica, balalha económica, balalha jurídi-
Os restantes, abordaram assuntos es- agente climático, faço de união entre os ca e, alé, batalha militar.
pecíficos de vários sectores das activida- povos, fonte de vastos recursos alimenta- O mundo vive hoje uma segunda con·
des ligadas ao mar, procurando cada um res e matérias-primas, espaço estratégico quista dos mares: delJois da conquis/Il dos
chamar a atenção para as carências do seu do planeta, tem merecido ao longo dos mares como vias de navegação, surge ago-
ramo, ficando claramente demonstrado o tempos o mais vivo interesse e despertado ra, muito mais radical, a conquista dos
estado de degredação a que chegaram as as maiores cobiças. Por estas razóes, o di- mares como fonte de riquezas exploráveis.
Marinhas de Comércio e das Pescas, reito intemacional evoluiu recentemente Os países que qlleiram participar, mo-
aquela praticamente no zero (excepção no semido de limitar e resolver os confli- des/amente que seja, na corrida aos ocea-
feita a petroleiros) e esta a caminhar para tos, reduzir o fosso económico entre as na- nos terão de fazer para isso um grande es-
ele a passos largos. ções, preservar os recursos vivos, facilitar forço. E, dentro desta linlla, o Presidente
Num país como o nosso, que não pode a utilização das matérias-primas, incre- da República Francesa, Valéry Giscard
virar as costas ao mar, porque depende mentar a investigação científica, reforçar a d' Estaing, pedia ao Governo que lançasse
dele, esta situação é lamentável c há que segurança e travar a poluiçãó. «uma nova política do mar, coerente,
ultrapassá-Ia, com coragem e pondera- Fome de riquezas só há pouco desco- enérgica e ousada". Em 1976, escrevia o
ção. bertas ou ainda hoje impensáveis, o Mar então pre.fidente da Sociedade de Geogra-
Integradas que estiveram ambas no merece a melhor alel/ção e os maiores cui- fia de Lisboa: "Os problemas do mar são
Ministério da Marinha, até 1974nS, co- dados, pelo que nunca serão em demasia eXlraordinariamente importantes e vastos
nhecemo-Ias por dentro, sabemos da~ ca- o esforço nacional e o entendimento e a e dizem respeito a Ioda a Humanida-
pacidades dos seus profissionais e julga- cooperação internacionais. Este é o senti- de (. .. ). Mal andaríamos nós, com Q.V res-
mos posslvel a sua indispensávcl ressur- do das cerimónias que hoje se realizam em ponsabilidades que as /lassas lradições
reição. Se há coisas que neste país não po- 129países. marítimas impóem, se ficássemos para
dem ser dispensadas, a Marinha de Guer- "Não estabelece a História uma perfei· trás 110 movimento em direcção ao mar
ra, a Mercante e a das Pescas, são certa- ta delimilação entre povos marítimos e po- que por toda a parte se regista. "
mente três delas. Lcmbremo-nosque, em vos que o não são. No entanto, não há dú· Não é apenas /IOS seus reflexos nas acti-
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