Page 418 - Revista da Armada
P. 418
.--- --
•
•
o comandamt A[o/lSo dt Ctrqueira com a famma, após o rtBrtsso vi/o·
rioso a Luboa. (A [010 rtproduzida, cupu du Ilusr",r'o Portugues.,
n. "'68()IMIJfço 1919. tncontruvu-st tmoldurada na Cma dm Bombas do
Ar5tnal da Marinha. Na rtvolla dt 19 dt OUlubro dt 1921 foi par/ida t
golptada. ,tndo sido rtColhida pt(o cabo fogutiro DiIu, mOTudor na
Calçada do MOfllt, ts/abtltcido com umu vtnda dt vinh01no lArgo da
Graça).
,\al,: 00- .......
1\-1. do em capotes ou mantas de minde. Ao verem-me, comen-
António C. Monttiro, marirrh~iro n.- 68JJ. [trido tm combolt taram uns para os outros: Olha, o mestre caçou um dalas-
(_C,oquu. dt A/btr/o dt Sousa, publicado na IIIJS~ Porlugues., sa"(*),
n.- ó791Ftv. 1919).
Guardado por duas praças, aguardava o comandante,
quando me mandaram seguir para o local onde este se en-
Afonso de Cerqueira. Es/ávamos em Fevereiro de 1911 e contrava, por detrás duma elevação coberta de neve onde
a coluna alcandorava-se nos comrafortes da serra. Afonso dois marinheiros aqueciam café em marmitas. Surgiu, en-
de Cerqueira era um capitão-de-fragata 0110 e enérgico, tão, o comandame Cerqueira com outros dois oficiais de
com uma barbicha pintalgada de prelO e branco. Quando Marinha, molhados até aos ossos, com os bonés deforma-
ali cheguei, ap6s haver percorrido caminhos de cabras, o dos pela chuva e com os capotes, de gola levantada, pelos
meu guia deixou-me, depois de me indicar com o dedo: l ombros. Estendeu-me a mão, sorridente, e disse-me: Já li
além, senhor, por detrás daquela fraga! Pé aqui, pé além, as suas cartas! Como é que veio aqui parar, com este tem-
agarrando-me às urzes, aproximei-me do alto. De súbito po? Quer café? l uma zurrapa, pois o que trouxemos de
ouvi um brado: Quem vem lá? Esbarrei com um marinhei- Lisboa já acabou!
TO, envolto numa manta, apomando-me uma espingarda. Que sim senhor, podia pimar o que quisesse, mas que
Não linha dado pareie! não me afastasse muito dos postos porque podia ser cum-
Pedi-lhe para falar ao comandame, declarando que primentado por alguma bala dos realistas que se alcando-
trazia credenciais para ele, e era dum jornal de Lisboa. ravam nos socalcos da serra. Antes de emardecer, lá vinha •
Eu não posso deixar o posto - disse-me ele - e o se- eu acompanhado por um cabo e um marinheiro a/é a casa
nhor não pode estar aqui! Afaste-se para ali (e apontava- dos meus anfitriões - um casal de velhotes, de pele enruga-
me o local) até vir a ronda. Tenha porém a certeza que se da e crestada pelos frios, e por uma neta, moça de 18 anos,
I
sair de lá leva um tiro! de olhos pestanudos e negros, a Joaninha, que manhã cedo
Foi neste ambienle festivo que aguardei, enregelado, a ia apascentar as cabras, voltando ao lusco-fusco para as
chegada da ronda. Pareceram-me séculos! Era constimfda meter no redil, sempre embiocada numa saia de estame-
por um sargento e duas praças. Aquele, perguntando-me nha, calçando sapatões de couro pregado. O casebre que
o que queria, mandou-me avançar. Moslrei-lhe as creden- habitavam tinha paredes de pedra cinzenta, com fresta.s a
ciais d'.,O Século,. eda .Ilustração Portuguesa,. e uma car- servirem de janelas. De noite, o vento assobiava no ripado
ta de Silva Graça para o comandante. Caminhe d minha pregado, e eu, no sótão, sobre uma tarimba assente sobre
freme, ordenou, mandando um marujo entestar o cami- as lajes de lousa, e rodeado de queijos de cabra em curtj-
nho. Com aquele aparato todo, parecia que ia preso. menta ...
Quando chegámos ao plaina, numa fraga da serra, dei
com marujos dispersos por tendas, tendo o tronco envolvi- (O) Nomt dado aos rta!u/U$ t monárquicos.
20