Page 93 - Revista da Armada
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guarnição e  outros por necessidade de fabricos.  Conati·   queio  naval,  numerosas foram as confrontações entre as
          tuiam ainda uma boa esquadra, composta pelas naus _Vas-  forças em presença, com baixas de parte a parte.
          coda Gama», _Belém., _Marial., .Princesa da Beira» e -S.   Junot, entretanto, foi transformando Portugal em sat'li·
          Sebastião», fragatas _Fénix», _Amuona», _PrincesaCarlo-  te da França. Começou por desmantelar as forças militues
          ta»,  _Vénus»,  _Tritlo»,  _Andorinha»  e  _Pérola»,  corveta   e enviou 6000 homens para França, a fim de serem incorpo-
          . Benjamim., brigue .Gaivota do Mau e charrua _Princesa   rados no exército imperial.  Os navios, fortalezas, paióis e
          Reab.                                               outras instalações e  unidades militares,  foram  colocados
             No dia 30, ao entrar em Lisboa, Junot soube, com indi'   sob comando francês.
          gnação, que D. Joio já embarcara e saira a barra, pouco an°   A  população  foi  desarmada  e  os  oficiais  de  elevada
          tes da sua chegada. Ainda correu a S. Julião e mandou dis-  patente e  altos funcionários  civis  foram substituidos por
          parar  sobre  o  navio  da  cauda  da  esquadra,  mas  não  o   elementos pró-franceses.
          atingiu.                                               Simultaneamente, foram cobradas pesadas indemniza-
             Com a  ocupação, as forças navais portuguesas ficaram   ções, imposta a lei militar francesa e esmagada a economia
          sob o comando do capitlo-de·marl'-guena francês Magen-  portuguesa, vendo-se a população ameaçada pela fome.
          die, que armou em pouco tempo nove daqueles navios, sen-  Em fins de Março, Junot enviou um comissário a Cotton,
          do as guarnições constituídas, na sua maioria, por portu-  para pedir a importação de farinha, visto os portugueses só
          gueses.                                             terem alimentos para duas ou três semanas.
             Os  nomes  das  naus  uMaria  III,  uPrincesa  da Beiraa  e   Quando os lordes do Almirantado tiveram conhecimen-
          -S.  Sebastião» foram  mudados para .Cidade de Lisboa',   to deste pedido, aproveitaram a oportunidade para abrir de
          .Português~ e  IIBrasil~, respectivamente. A fragata . Tri-  novo as negociaçOes.
          tãol foi adaptada a navio-hospital.                    Afirmavam não ser propósito da Inglaterra provocar a
             A  escuna  uCuriosa~, que  arribara ao Tejo com  agua   fome na população portuguesa, destinando-se o bloqueio
          aberta, abandonando a esquadra que transportava a famí-  somente a prevenir os ataques contra os domínios de Sua
          lia real para o  Brasil, foi  aprisionada e  arvorou a  bandeira   Majestade, desencadeados a partir de Portugal
          francesa, como o haviam já feito os restantes navios.   Conon estava autorizado a  propor, nos termos mais li-
             Junot fez. embarcar a bordo da bateria flutuante .Espa-  berais,  uma capitulação naval que permitisse levantar o
          da de FerrOI toda a pólvora que julgava desnecessária em   bloqueio, exigindo a  rendição da esquadra russa cujos na-
          terra, e na nau . Vasco da Gama», a prata não cunhada pi,   vios seriam devolvidos seis meses depois de terminadas as
          lhada das Igrejas, conventos, coIÚrarias e  capelas de Lis-  hostilidades.  As  guarnições  seriam  repatriadas  o  mais
          boa.                                                rapidamente possivel.
             Além da nau . Belém» e da fragata .Princesa Carlota.,   Os navios portugueses deveriam render-se até ulterior
          de onde os franceses levaram todos os objectos de prata,   acordo com o  Prtncipe Regente, os navios mercantes das
          Junot mandou saquear numerosos estabelecimentos na-  potências beligerantes deveriam ser colocados sob custó-
          vais, entre os quais a Sociedade Real Marltima, o Conselho   dia britlnica at' seis meses depois do fim da guerra, os na-
          do Almirantado, a  Academia Real dos Guardas·Marinhas,   vios neutros largariam do porto e  seguiriam viagem, após
          o Armazém Geral e o da Intendência, a Real JuntadaFazen-  visita de inspecção e, finalmente, seria liberali%ado todo o
          da da Marinha,  a  Junta do Código Penal,  o  Observatório   trMego de mercadorias não militares, no porto de Lisboa.
          Real da Marinha, etc.
             Pouco tempo depois de as tropas francesas terem entra·   Cotton acusou a  recepção destas instruções e, apesar
          do em Lisboa,  Junot soube da presença da esquadra no   de receoso  quanto  à  obtenção de resultados favoraveis,
                                                              emitiu avisos ao longo da costa, prontificando-se a oferecer
          porto.                                              produtos alimenticios se a população pressionasse o gover·
             A segurança desta esquadra estava agora dependente   no francês no sentido de aceitar aquela proposta.
           da boa vontade do seu anterior inimigo, enquanto o seu ex-  Junot reagiu desfavoravelmente por considerar que a
           'a1iado a bloqueava à salda de Lisboa.             sua aceitaçAo seria, em termos militares, um acto desonro·
             Devido a uma epidemia que se declarou nos navios rus-  so. Apesar disso,  enviou'a a  Napoleão que determinou o
           sos, houve atraso nos cumprimentos protocolares entre o   imediato aprontamento de dois navios de linha e duas fra·
           seu almirante e  Junot. No entanto, este autorizou que lhe   gatas, com provisOes para seis meses e agua para dois, em·
          continuassem a fornecer 8000 rações diárias.        barcando  neles  450  oficiais  e  marinheiros  portugueses,
             Só a 6 de Dezembro o vice-almirante Dimitri Siniavin en·   para constituir uma esquadra conjunta, francesa e  russa,
          viou cumprimentos ao general francês, por intermédio de   capu de enfrentar os ingleses que os bloqueavam. Esta or-
          André Dubatchersky, cônsul da Rússia em Lisboa, tendo-se   dem nlo chegou a concretizar·se.
          deslocado  pessoalmente  ao  seu  quartel-general,  quatro   Enquanto Cotton prometia auxilio aos  portugueses, o
          dias depois. Junot retribuiu a visita no dia seguinte.   governo britãnico organizava uma expedição a enviar para
             Logo que a Inglaterra recebeu a declaração de guerra da   Portugal,  sob  o  comando  do  tenente-general  Sir  Arthur
          Rússia, os lordes do Almirantado começaram a  trabalhar   Wellesley, mais tarde duque de Wellington.
          nos planos para capturar a  esquadra estacionada no Tejo.   O desembarque foi feito na praia de Lavos, entre 1 e  5
          Para levar a  cabo a  operação, o  vice'almirante Sir Charles   de Agosto.
          Conon foi nomeado comandante-em-dlefe duma esquadra   Junot via assim deteriorar-se rapidamente a sua posição
          que largou de Plymouth acompanhado de 70 transportes   politica e militar em Portugal, enquanto Siniavin procurava
          com 7000 mil homens embarcados sob o comando do major-  estabelecer futuras comunicações com Cotton.
          -general Spencer. Estas forças viriam a  ser reforçadas por   Assinada a  Convenção de Sintra, em 30 de Agosto de
          outras vindas da Sicllia.                           1808, os franceses viram·se obrigados a retirar, concentran-
             Conon tinha instruções para propor a  rendição da es-  dO'se em Lisboa e embarcando no Cais do Sodré, pelas 5 ho-
          quadra russa, sendo as guarnições repatriadas por conta   ras da manhã do dia 15 de Setembro. Algumas brigadas in·
          da Inglaterra.                                      glesas protegeram'nos contra eventuais ataques da popu'
             Em 14 de Janeiro juntou'se com a esquadra de Smith-  lação.
          Red Squadron-constituida por nove navios.             Entre ingleses e russos foi também elaborada uma con-
             Apesar do bloqueio, o almirante russo procedia de modo   venção, encontrando·se inicialmente MI. Sass, como repre-
          a captar a simpatia dos ingleses, chegando a  dar asilo nos   sentante de Siniavin, e James Kennedy em nome de Cotton.
          seus navios a  famllias  brit&nicas  que fugiam à  ocupação   As assinaturas dos almirantes foram feitas a bordo dos na-
          francesa.                                           vios . Twerdoy.  no Tejo e  .Hibernia~ fora da barra.
             Contrariamente, à  medida que as semanas passavam,   Pelas disposições constantes da Convenção, a esquadra
          as relações entre Junot e Siniavin iam·se degradando, quei-  russa  seria  imediatamente  entregue  ao  vice·almirante
          xando-se o general francês que as rações fornecidas chega·   Charles Conon para ser enviada para Inglatena, ficando ali
          vam a atingir 10 mil pordia, enquanto, para as suas próprias   retida, sendo devolvida seis meses depois da pu. Os ofi·
          tropas, tinham sido reduzidas.                      ciais e  guarnições seriam repatriados a  expensas de Sua
             Durante o peliodo de 10 meses em que se manteve oblo-  Majestade BritAnica.

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