Page 163 - Revista da Armada
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Era assim no século passudo .. (dl'stnho de RogtrChoptlel)
lt anos en/rassem para os estudos, mas I/ão podendo su, fizl's- perde/I todos os hábitos que ad'Iuiriu enquanto esteve no mar. Eu
sem algwna viagem antes, para se conhecer se têm a cOlu /illlição queria um curso mais peq/4I'1/O, mas das mmirias próprias e
própria para a vida do mar, porque, lama a dizer, sucede muitas adaptado ao q/u vai fazer no mar, porque, de cOII,"ráflO, o camli-
I'eles que um Guarda-Marinha q/le tem mostrado talento trUlU- dato ..,ai aparecer com uma idade que já não é própria para o mar.
ct:1/deme e que tem sido premiado em muitos esmdos não tem gos- Esta é a porta por onde hão-de entrar. Os oficiais qlle lemos com
la para aq/ula vida, nem conslifllição própria e, por consequên- alguma habilidade vão-se fau"do ..,elhos, vão acabando; é necf'S-
cia, perde o seu tempo. Por isso, digo que seria conveniente que, sório que haja quem os subslir/la.
quando isto pudesse ser, embarcassem ali aos calOrlt anos e de- O Sr. Palmeirim: - Mas se organizasse Ol/tro curso difuellfe
pois completassem os dois ou três alias de estudos. Antigameme do actual txcllüria dele os conllecimf'fllOS da Física e do Química
os estudos eram de três anos e guolmente os allmos sabiam mais Elemel/tar?
daquilo queé preciso para a vida do mar do que hoje sabem. O Sr. Soares Fral/co: - O que e/I q/4ero é que se faça U/ll cursa
de trés aliaS, cujas disciplll/as o canditlmo possa vencer. e nisto
Outro oficial ouvido pela comissão dc inquérito foi o capi- estó a habilitação poro poder ell/rar na Marinha. Se depois q/ler
tão-de-mar-e-guerra Francisco Soares Franco. comandante do saber mais alg/lma coisa, q/It eSfllde em sua casa; IOdos os que
Corpo de Marinheiros. Transcrevemososeu depoimento: ..,ão f'slUdar à Universidade, se querem saber mais, eswdam de-
pois. porque lá não se aprende tudo.
O Sr. Ávila: - E que pensa o Sr. Soares Franco das habilila-
ções leóricase práticas dos nossos oficiais de Marinha?
O Sr. Soares Franco: - Eu digo q/le as habilitaçóes podem Foi ouvido também pela comissão o capitão-de-fragata Pau-
ser muito boas, menos para fazer oficiais de Marinha. Nós temos lo Cenlurini. que exercia as funções de ajudanle do major-
-general da Armada. Vejamos o seu depoimento:
ac/mUllado uma massa de esmdos sobre rapazes, queé mui/o difi-
culloso que eles possam dar COllla de si; podem ler ideias gerais O Sr. Pa/meirim: - Qual a sua opinião ãcerca do estado ac·
das malérias que se lhe ensinaram, mas lião podem saber bem ne- II/(ll da il/stmção dos Aspiranles? .. Eu goslUva de ouvir a sua
II/mma das disciplinas que estudaram. Eu sou da amiga escola de opinião sobre os seguintes paI/tos: sobre a Escola Naval e a de
Maril/lla e posso dizer que IIl1l1ca fiz aplicação das s/Iblimes leo- COlIstmçâo; se emende q/le a educação que se dá aos nossos Aspi.
ria.f do cálculo imegral e diferencial. rames e Guardas·Marll/llas i cOflvenieme; se acha q/le está bem
O Sr. Á..,ila: - E lem pensado 110 modo de melhorar este organizada; se de..,e ser a bordo; se deve ser colegiada,- se de..,em
ramo? os Aspirames começar pela Escola Politécnica. e passar à Escola
O Sr. Soares Franco: - Eu entelldo que se lião de..,e dar lIIais Naval,. em suma, a sua opinião sobre a educação e il/Stmção dos
lrês anos de estudo aos candidatosqlle se deslillarem para a Mari- Oficiais de Marinha. Parece-me que i negócio que interessa a
Ilha. lodo o oficial, e muito principalmf'lIfe a um cavalheiro ilustrado
O Sr. Ávila: - E de que idade os admitia? como o Sr. Cenmrilli.
O Sr. Soares Franco: - Aos dezassele alias de..,iam estar em- O Sr. Cemurini: - O sistema de educação de Marinha segl/i-
barcados. Um rapaz qlle embarca com ..,inte e dois anos já lião lia hoje é o meS/110 que se seguia há q/lOrente anos, e eu entel/do
é possível acostumá-lo ao lIIar: é necessário q/le..,á 1101'0 porque, que hoje o sistema de educação para a Marinha não pode ter 0110-
depois, já não faz Iwda; é necessário subir às gáveas e fazeroUfros logia com o que se seguia antigameme, porque a companhia de
serviços qlle só se fazem e a que só se acostuma quem mi no~·o. Guardas-Marinhas foi estabelecida debaixo de /Im princlpio, que
PortalllO eu fazia um curso de três alias ensillando lIeles as princi- era só para Cadeles. Aboliu-jf' este privilégio e portanto a Com-
pais disciplinas e aquelas de qlle se pode lirar mais proveito. panhia de Guardas-Marinhas ruía preenche o fim para que foi ar·
O Sr. Palmeirim: - V. Exa. entende qlleos Aspiranles de Ma- ganizada. Entf'ndo que deve haver um Colégio de educandos de
rinlra. alllf'S de frequemarf'm esse curso que propót, df'verão 1'111' Marinha, donde se devem formar oficiais, mas também entendo
barcar? que, com a livre admissão de ,odo o individuo poder entrar para
O Sr. Soares Franco: -Inimigo completo disso. Rapaz q/le a Marinha, deve haver U/ll ColégiO fechado.
começou a embarcar já não eSlllda. Estabeleça-se a bordo as ou· O Sr. Palmeirim: - Mas o bordo 011 em terra?
las a horas cerlas e determinadas como fazem os ingleses e isso O Sr. Celllurini:- Um Colégio como o de Mafra, dar-se lIes'
podia ser de grande proveito se o ,mdessemos conseguir, mas a se Colégio a instmção lIecessdria para a vida do mar e não ser ne-
experiéncia re/llmostrado q/le todos (11IIm10 tim embarcado afiles cessário ir b/lscá-Ia aqui e acolá, nem a seis pontos diferentes da
lião lém dmio conta dos estudos. O nosso Major-General é muite cidade como lem acontecillo. Tenho vislo educandos de Mari"ha
l/essa opinião, porque viu islO na Marinha Britânica; mas é que irem da Moeda à Patriarcal, daf voltarem à Companhia e da
lá um rapaz df'sde pequeno habitua·se à vida do more vai toIllOl/- Companhia irem para outra parte, perdendo assim em passeios
do gosto por ela e ali estuda, enq/lOnto que cá "'1'/11 para terra e umas pom:ar de horas que poderiam ser apro..,eitadru no estudo.
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