Page 200 - Revista da Armada
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•         As e.rqJUldras do ma'qll~s de Nisd e de Nelson 110 bloqueio ti Multa.  "tmdo·s(' em primeiro pltmo /l1U1II  portugl/esa .Príncipe Real.  (óleo de Alber/o
             Cwilâro. I!XpOSIO 110 MI/$I'II de Muri"ha).


             o retrato do almirante



             marquês de Nisa





                    duque  de  Palmela,  quando  era  embaixador  em   comenta a situação de  Lord Hamilton perante estes factos
                    Londres, informou o comandante Jayme do loso,   não menos notórios com o almirame inglês Nelson  que é,
              O então  director do Museu de Marinha ao  tempo    ao péde Nisa, hediondo.
             instalado no  Palácio das Laranjeiras, que se encontrava   Mais tarde, e após o cerco de Malta em que a esquadra
             à venda num antiquário londrino um retrato em miniatura   portuguesa teve acção de relevo, Nelson escrevia a Nisa
             do almirante marquês de Nisa, oferecido pessoalmente a   e, entre outras notícias locais,  mandava-lhe cumprimen-
             Lady Hamilton quando a esquadra do seu comando, en-  tos atenciosos de Lady Hamilton.
             viada em auxílio da Inglaterra, eSlava fundeada em Nápo-  Estas amabilidades dispensadas  por  Lady  Hamilton
             les. Esta poderosa força naval portuguesa, guarnecida de   ao almirante português iriam  entontecer Nelson  de ciú-
             bem treinadas equipagens, entusiasmou a corte napolita-  mes, o qual, na sua correspondência com o Almirantado
             na, receosa dum ataque das forças francesas. Nisa foi  re·   inglês, diminuia, ostensivamente, os preslimosos serviços
             cebido da forma  mais cativante pela população que viu,   prestados  à  Coroa  britânica  pela esquadra  portuguesa.
             assim, assegurada a sua defesa. No entanto, o almirante   No entanto, numa atitude dúbia, escrevia a Nisa lisonjei-
             português tinha que ir ao encontro do almirante Nelson,   ras palavras, tais como: V.  Exa. éo mais distintoalmiraflte
             a fim de colocar a esquadra à sua disposição. O facto leva·   (. . .); Nelson telle o grato prazer de o ter presente no cerco
             ria o então primeiro cônsul Bonaparte a proferir a célebre   de Malta;  V.  Exa. foi dos primeiros e certamente ainda aí
             afirmação: Tempo lIirá em que Portugal pagará com lágri-  estará para assistir à rendição.
             mas de sangue o ultraje que está fazelldo à República Fran-  Nisa não assistiu à vitória porque a esquadra teve que
             cesa.                                               regressar a  Lisboa para descanso das guarnições, depois
                Nisa, segundo a poetisa Leonor da Fonseca Pimentel,   de longa permanência nocerco.
             em  carta a sua amiga Maria Ana Sarmento, é um muito   Dos amores do marquês de Nisa com Lady Hamilton
             esbelto moço, tem vinte e nove anos e é já chefe-de-esqua-  ficou-nos uma curiosa carta deste para o seu amigo Antó-
             dra,  é de majestoso porte, tez morena e olhos verdes, e en-  nio  Borges de Ançã, em que dizia:  É uma muito esbelta
             tonteceu desde logo todas as napolitanas.  E mais adiante,   inglesa algo descuidada do seu íntimo o que surpreende,
             uma  das  mais atentas aos seus fallores  é a  Ema Leona e   por  Nápoles  não  usufruir  de  escassez  de  água-de-rosas
             nOlla Lady Hamilton a qual,  com grande escdndalo públi-  nem se poderem criar rosas sem água.
             co passeia em caleche aberta com o moço almirante, indo   A  alusão à  falta  de  higiene  íntima da  formosa Lady
             para os arredores. No refresco dado por Suas Altezas à ofi-  Hamilton é notória. E  mais adiante, esteve comigo a bor-
             cialidade  portuguesa  da  esquadra  que  aqui se  ellcontra   (lo  d(111l/1i  «Rainha" onde lhe dispensei um ligeiro refres-
             fundeada foi notório o desvelo de bem fazer com que Ema   co;  desejO/l ficar,  mas tille de inventar um pretexto para a
             distinguiu Nisa a pontos de ser comentada a sua ida a bor-  fazer sai, antes das A ve-Marias que, como sabes,  é tradi-
             do da nau-chefe portuguesa onde o almirante portugu€s a   cional,  para  quem  não é  da  Armada,  não permanecer a
             recebeu e onde se manteve até ao entardecer.  Toda a gente   bordo.

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