Page 197 - Revista da Armada
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e lanças foram-se meter nelas, prontos para colaborar na o arrastou na queda , sem que ninguém desse por isso. A
ma defesa! muito custo conseguiu desenvencilhar-se dos estribos e
Logo que chegaram à distância conveniente, os bestei- pôr-se de pé, meio sufocado, com água a dar-lhe pelo pes-
ros castelhanos laçaram uma chuva de virotões sobre os coço!
nossos que, todavia, não foi suficiente para lhes abater o Já então as galés caste lhanas estavam tratando de cor-
ânimo. Quando, instantes depois, as galés de Castela tar os cabos das fateixas com que tinham aferrado as por-
afe rraram as portugucsas e tentaram entrá-las, encontra- tuguesas e começavam a retirar. Só que uma delas por es-
ram por toda a parte uma feroz resistência. tar mais envolvida com uma das nossas não se conseguiu
Entretanto, na cidade, o Mestre de Avis galopava a safar. Ao mesmo tempo que o povo que estava na Ribeira
Ioda a brida para a Ribeira, acompanhado de muilO povo puxava as duas galés para terra, alando pelo virador da
que, empunhando as armas mais diversas, corria em auxí- portuguesa, os que estavam nesta entraram na castelhana
lio dos navios. Mas, o caminho a percorrer era relativa- e, depois de rija paleja, tomaram-na.
mente longo porque só se encontrava aberta uma porta O combate tinha terminado. Singular combate este
bastante afastada do local do combate. Foram momentos em que a vitória dos portugueses se ficou devendo, acima
críticos em que tudo dependeu da coragem dos que esta- de ludo, ao destemor e rapidez com que a arraia miúda
vam nas galés. O facto é que conseguiram aguentar-se. E, de Lisboa saiu a defender os seus navios.
a pouco e pouco, foram sendo reforçados pela onda de
gente que vinha da cidade. Os castelhanos, que já tinham Salllmino MOllleiro,
entrado em várias das nossos galés, começaram a ser ine- cap.-m.·g.
xoravelmente empurrados para as suas.
O Mestre de Avis percorria a Ribeira, animando com
Bibliografia "Cllronica do Senhor Rei D. Fernando Nono Rt'i de
a sua presença os defensores e encaminhando os magotes
porwgal» de Fernão LOpel. _Annat's da Marinho Porwgueza» de Igna-
de gente que iam chegando para as galés que se encontra- cio da Cosia Quinlt'la. "História da Marinha Porwguesa_, edição do C/u-
vam em maior dificuldade. Em dado momento, tendo en- be Militar Naval .• História da Marinha de Guerra Porlugllesa» de J. A .
trado pela água dentro, uma seta matou-lhe o cavalo que Rodrigues Pereira ... A Vida de N un'Álvares» de Oliveira Martins.
Voz da Abita
Dos nossos leitores e amigos re- Compreende-se perfeitamente De Orlando Rocha Tavares,
cebemos as seguintes cartas: que sempre que se apresente a Lisboa, a que transcrevemos:
Do " Pezinhos», cabo M, Lis- oportunidade, e são muitas as que se Cada qual tem o mundo que pode
boa, a que transcrevemos: lhes deparam, eles metam a sua gra- ter. É por isso que o meu mundo é o
cinha. É salutar, e dita na devida altu-
Ninguém tem culpa de não ter meuquarlo.
ra cai muito bem. Mas, estar sempre
graça até porque não é coisa que se Sou um deficiente motor. Vivo
a insistir, a propósito de tudo e de
compre ou se aprenda com o tempo. das distrações que me rodeiam -
nada ... não tem graça nenhuma!
Nasce com algumas pessoas. Evidentemente que não vamos naturalmente limitado pela estreiteza
Nasceu com Vasco Santana e de quatro paredes como horizonte.
generalizar. Há quem, orgulhosa-
António Silva, por exemplo, e para São os horizontes posslveis. No
mente, possa incluir-se entre os pri-
citar apenas os dois maiores das mundo possível.
meiros. Esses merecem todo o nos-
últimas gerações. Todas as distrações que tenho-
so respeito pela dignidade que põem
Actuando juntos ou separada- aqui no meu mundo - me foram ofe-
no desempenho da sua difícil mis-
mente, animaram uma época e fize- recidas por pessoas amigas, ao lon-
são. Mas há também, e em maior nú-
ram rir Porlugal de norle a sul. E, ain- go dos anos. Neste conturbado mun-
mero talvez, os que querem ser en-
da hoje fazem as delícias dos que os do em que vivemos, ainda existem
graçados à força, usando para isso
vêem em filmes que, embora ultra- de todos os meios, desde o palavrão homens de boa vontade - o difícil
passados na técnica, se mantlJm ac- éencontrá-Ios.
à ofensa pessoal, desde a insinua-
tuais na graça natural e espontânea Nasci no Bairro Alto, num 5. o an-
ção maldosa à mais descarada. Fa-
desses grandes e saudosos arlistas. zem isto porque têm a certeza de nin- dar com uma larga vista sobre o Tejo,
Vem isto a propósito dos esfor- o qual, naquele tempo, fazia parle
guém os poder mandar calar. A estes
ços que vemos fazer a certas pes- dos meus horizontes visuais - sem-
direi apenas, e para terminar, que
soas para serem engraçadas, no- pre que chegava a uma janela lá es-
nós, os ouvintes, nâo gostamos.
meadamente alguns locutores e tava ele - e esse gosto pelo rio fi-
apresentadores de programas de rá- cou-me.
dioe de televisão. o Entretanto, os ventos da vida me
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