Page 196 - Revista da Armada
P. 196
Castela que se encontravam fundeadas mais próximo de
Santos. dada a direcção do vento e o estado da maré, é
possível que nem sequer tenham largado do fundeadouro CERCO DE LlSBOA- 1384
com reeeiode serem levadas pelo rio acima.
Logo que a armada portuguesa foi avistada de Lisboa,
o Mestre de Avis meteu-se numa nau com quatrocentos
homens de armase, na companhia de outras naus mais pe- \ LEGENDA
.......
quenas e barcas cheias de soldados, procurou ir em seu ....... r_~IIII/f1lO<*>
auxílio. Mas as embarcações começaram a ser levadas "'" fI'OMD<*>eÚ<Citl
-_.
e_ *i0\7""
o-
para montante pelo vento e pela corrente e só com muita • 2 -
r
dificuldade conseguiram voltar à cidade, onde a popula- ~ .. .? 3-De.--<*>
--
AoIIoIlDAndIIAA>'
ção que enchia as muralhas acompanhava os aconteci- 8H!m U ._~._da
mentos com natural ansiedade. 5-o..sr.c._'"
A batalha naval do Tejo poderá classificar-se como 6-AImNII~
7_~Q*s
um sucesso táctico para os portugueses porque, embora .... ..,.
tivessem perdido tres naus, conseguiram fu rar o blo-
queio, o que deu novo ânimo aos defensores de Lisboa e,
I
possivelmente, terá abalado a confiança em si próprios
dos sitiantes. De qualquer forma, sob o ponto de vista es- COMBATE DAS GALES
tratégico, nada adiantou. Sob o ponto de vista logístico,
a situação da cidade piorou já que a armada vinda do Por-
to poucos mantimentos trouxe e, por outro lado, fez au-
mentar muito o número de bocas dentro da muralha.
No entanto, o plano do Mestre de Avis continuava de
pé. Logo que o pessoal recuperou das fadigas da viagem
e das emoções da batalha. começou activamente a prepa-
rar a armada para travar um combate decisivo com a ar-
mada de Castela. Masestava escrito nos livros do Destino
que tal combate nunca haveria de ter lugar. Poucos dias
depois, chegaram ao Tejo mais vinte e uma naus e três ga-
lés castelhanas o que elevou os efectivcos totais da arma-
da de Castela para sessenta e uma naus e dezasseis galés.
A partir daf. o Mestre abandonou a ideia do combate
naval e resignou-se a jogar tudo por tudo numa sortida
contra o exército castelhano em conjugação com um ata-
são do lado da terra. junto à porta de Santa Catarina, si-
que que D. Nuno Álvares Pereira, vindo do Alentejo, ha-
tuada próximo da zona do actual Chiado. O fim deste ata-
veria de lançar por outro lado. Afinal, nada disso roi pre-
que era atrair a esse ponto as principais forças de defesa
ciso. A peste que já grassava no campo castelhano obri-
da cidade afastando-as da wna da Ribeira.
gou o rei de Castela, no último instante. a levantara cerco
Imediatamente tocaram os sinos a rebate e as torres
e a regressar ao seu país.
e muros encheram-se num abrir e fechar de olhos de gente
de armase de muitos populares.
LISBOA (27 de Agosto de 1384)
Enquanto as atenções estavam distraídas pelo que se
passava junto à porta de Santa Catarina, as galéscastelha-
Depois da batalha do Tejo, os navios portugueses en- nas subiam discretamente o rio em coluna. De começo,
costaram-se o mais possível à muralha de Lisboa, sendo ninguém se preocupou muito com isso, na suposição de
provável que as galés tenham ficado na zona da Ribeira que se tratasse dum simples exercício ou manobra de roti-
(actual estaçâo do Sul e Sueste) e as naus mais chegadas na. Mas. subitamente, as galés inimigas guinaram, todas
à zona de Alfama. Estariam possivelmente com as proas ao mesmo tempo, noventa graus para bombordo e. à voga
voltOldas para o rio, amarrados com dois ferros. com vira- arrancada. arremeteram contra as galés portuguesas.
douras passados para terra, assentando no lodo na maré Convém dizer que para esta operação as galés de Castela
baixa e flutuando na maré alta. Em cada navio deveria vinham com menos remadores do que habitualmente
haver uma guarda de gente de armas relativamente re- para poderem dar lugar a um maiorcontigente de homens
duzida. ue armas.
, -lhes que não seria difícil aproximarem-se de surpresa e nos, as reduzidas guardas das nossas galés aprontaram-se
Observando os castelhanos este dispositivo, pareceu-
Logo que se aperceberam das intenções dos castelha-
lançar fogo aos nossos navios. Levada a proposta ao rei animosamente para lhes fazer frente. Felizmente, havia
de Castela, este discordou. Considerava que aquelas naus na Ribeira um certo número daqueles indivíduos que an-
e galés lhe pertenciam equeria-as intactas. Foi então deci- dam sempre pela borda de água: pescadores nas horas va-
dido montar uma operação destinada a capturar ali galés gas, estivadores à espera de trabalho, vendilhões, vadios.
portuguesas. simples mirones. etc .. os quais. sentindo o perigo que cor-
No dia 27 de Agosto, um pouco antes da hora do riam as galés, gritaram aos que estavam nas muralhas
preia-mar, os castelhanos lançaram um ataque de diver- para que lhes lançassem armas e, munidos de machados
14