Page 195 - Revista da Armada
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que lá houvesse c, depois, voltar lIO Tejo com maior pro-  Os castelhanos são imediUlarnente avisados por inter-
          babilidade de vencer li armada castelhana.           médio de duas galés que tinham de vigia  nas imediações
             A  14 de Maio de  1384,  largou a nossa  armada rumo   do cabo Raso e, nessa mesma tarde. começam a org .. ni'lilr
           ao Porto sobocomando de D . Rodrigues de Sousa.    o seu dispositivo de batalha mudando o fundeadouTt)'da
             Chegada  àquela  cidade,  contribuiu  decisivamente   maior parte dos seus navios para junto da margem norte .
           para repelir as forças castelhanas que a pretendiam ocu-  na zona compreendida entre Belém e Santo!>.
           par. Na sequência dessa acção, as nossas galés dirigiram-  A frota castelhana era constituída por quarenta naus
           -se para as COSias  da Galiza onde andaram às presas du-  e treze galés.  Dada a forma como se veio a desenrolar o
           rante alguns dias.                                 combate. é de supor que  próximo  de  Belém  estivessem
   •         Entretanto, no Porto, trabalhava-se febrilme nte  para   fundeadas  um  certo  núme ro  de  naus.  possivelmente  as
   I       reforçar a armada com  navios, gente de armas e  manti-  mais fortes, depois as galés. e mais perto de Santo!>o resto
           mentos.  Quanto 3  navios, foram-lhe acrescentadas mail>   das naus. Em todos os na vios deverá ter sido embarcada
          quatro galés e dez naus o que é deveras importante. Mas   muita gente de armas de reforço. retirada da!>  tropil!>  que
           no que diz respeito a gente de armas c a mantimentos as   cercavam a cidade.
           dificuldades  foram  as  maiores  porque,  exceptuando  o   Aproveitando O afrouxamento do bloqueio re!>ultélnte
           Porto, todo o resto do Norte estava ainda por D .~ Beatriz.   da  éllteração do dispositivo inimigo.  nessa  me!>Ill:1  noite.
           Em face  disso, mandou o Mestre recado a Nuno Álvares   veio de Cascais um batel para dar novas da armada e con-
           Pereira para seguir para  aquela cidade, com  toda a  sua   sertar com O Mestre a forma de actuar nodia seguinte. Ao
           hoste, a fim de embarcar na armada .               saber que Nun' Álvares não tinha embarcado. o Me!>tre fi-
             Por seu lado, os chefes desta , para remediar a falta de   cou muito pesaroso e. parecendo-lhe muito arriscado tra-
           gente,  enviaram  um  emissário  ao  alcaide  de  Coimbra,   var  um combate  decisivo com as guarniçóe!)  dos navio!>
           D.Gonçalo, ofercccndo·lhe o  comando  da armada , em   desfalcadas. deu ordem para que.  na  manhã seguinte.  ii
           substituição de Rodrigues de Sousa que havia sido depos·   armada se limitasse a lentar furar O bloqueio e atingir lis-
           to, se quisesse passar-se para o partido do Mestre. Depois   boa evililndo, tanto G~.w.nto po!)!)ível.  o combate.  Depoi!>
           de ter posto certas condições que foram aceites. D. Gon-  de desembarcados os mantimento!) e cmbarcad .. gente de
           çalo acedeu e m .. rchou para o Porto com a gente de armas   armas da cidade. se iria contra u!) ca!)telhano!). Com e!)ta!)
           de Coimbra. embarcando-se na armada.               ordens foi despedido o balei que regressou a Ca!>Cai!- !)em
             E porque lhe parecesse que já dispunha de força bas-  novidade.
           tante para bater os castelhanos ou porque receasse que,   Ao oulro dill.  18 de Julho. pelas nove hora!) da m'lIlhã.
           em chegando Nun'Álvares, o Mestre transferisse para ele   com maré a encher e vento bonançoso a fresco de oeste.
          o comando, decidiu sair desde logo do Porto no que foi   começou a despontar a nossa armad ..  por detrá!) da ponta
           apoiado por Rui Pereira que, embora tio de Nun·Álvares.   de S.Julião.
           também não estava disposto a servir sob as suas ordens.   Ao chegllr a Belém. admitimos que viesse formada em
           Recorde-se  que  Nun'Alvares  nessa  altura  tinha  apenas   três colunas paralelas. melhor ou pior orgllnizlldw.: a pri-
           vinte  e  quatro  anos  e  gozava  da  absoluta confiança  do   meira composta por cinco grandes naus sob o comando de
           Mestre de A vis.                                   Rui  Pereira ; a segunda constitulda pela .. dezassete gillés,
             Em vão Nun'Álvares, que se dirigia em marchas for-  navegando ii  vela,  por est ibordo da  primeira: a  terceira
          çadas para o  Norte, escreveu cartas a D.Gonçalo e  Rui   formada pelas doze naus mais pequenas. navegando por
           Pereira pedindo-lhes para esperarem por ele, primeiro no   estibordo  da  segunda.  relativamente  perto  da  margem
           Porto, depois em Buarcos. Ambos fizeram orelhas mou-  sul.  Dada a força e a direcção do venlo e o facto da maré
          cas e apressaram a viagem quanto puderam.           estar a encher . todos os navios deviam \ ir a andarhcm.
             Entretanto, em Lisboa. o rei de Castela, ao saber que   Ao chegar próximo de Belem. 11' naus de Rui Pereira.
           a  nossa armada largara do Porto, reuniu imediatamente   possivelmente  porque  se  teriam  adiantado.  guinaram
          cm conselho os seus principais chefes navais a fim de deci-  para  bombordo durante  algum  tempo,  reduzindo a  ve-
          dir a estratégia e a táctica a adoptar para lhe fazer frente.   locidade e  permitindo que o  resto da armada se aproxi-
           O almirante Sanches de Tovar e o comandante das galés   masse.
          eram de opinião de que se fosse esperar a armada portu-  Pouco depois, as naus de Ca~tcla que e ... ta\am fundea-
          guesa  no  mar.  a  sul  das  Berlengas.  O  comandante  das   das próximo de  Belém levantaram  ferro e  foram  ao en-
           naus era de opinião de que se deveria combater dentro do   contro das nossas.  Por~m .  como o vento ('fil de oe~tc. só
           rio.  dada a dificuldade em se aguentar numa posição de   poderiam governar a SE ou  ESE. o que quer di7er que.
          espera no  mar e m que seria  obrigado a fazer constantes   possivelmente, terão cortado a proa ;I~ !)lIa~ gal~~ atrasan-
          viragens  de  bordo debaixo de  nortada.  Pensava que  as   do a partida destas para o ataque. Pelo mc!)mo motivo w
          naus acabariam  por descair para o sul da  barra do Tejo   deverão ter abalroado as  naus de  Rui  Pereira com estas
          o q'Je deixaria as galés sozinhas. O rei preferiu não correr   já bem dentro do rio. Seis nau'ca<ítclhanas aferraram tres
          riscos e decidiu que se desse o combate dentro do rio.  Fi-  das cinco naus portuguesas com a ... quais travaram um fu-
          cou então assente que a armada castelhana se conservaria   rioso combate noqual perdeu li vida Rui Pereira.
          fundeada junto da margem norte e se lançaria ao ataque   Enquanto as três naus suportil\ am todo o pe~o do ini-
          da armada portuguesa. a favor da nortada. logo que aque-  migo. acabando por ser tomada"  o  re~to da armada. tor-
          1:1 começasse a e ntrar na parte mais estreita do rio.   neando pelo sul ii zona de com~atl·. e~capou-~e para  Li~­
             A  17 de Julho. chega a nossa armada a Cascais. onde   boa.  Pela  razão acima apontada. ou por qualquer outra
          fundeia. na força de cinco grandes naus de guerra. dezas-  causa fortuita,  as galés  castelhana~ n:'o conseguiram .. I·
          sete galés e doze naus mais pequenas.               cançar  nenhum  dos  nossos  ",.vio!>.  Ouando  às  nau~ de

                                                                                                             13
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