Page 170 - Revista da Armada
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Aproveitando o efeito produzido por
                                                                                 todo este uparato. explicou amavelmente
                                                           ORMUZ                 ao  capitão da  nau  de Cambaia que ele.
                                                              1507               capitão-mor  daquela  esquadru,  tinha
                                                                                 vindo por mandado de EI-Rei D. Manuel
                                                                                 de  Portugal, apenas para tomar Ormuz
                                                                                 sob a sua protecção e autorizar todos os
                                                                                 navios que navegavam por aqueles mares
                                                                                 que o  continuassem a  fazer  livremente
                                                                                 desde que, evidentemente, o reconheces-
                                                                                 sem  por  soberano  e  senhor.  Pediu-lhe
                                                                                 que levasse o  recado  a Cogeatar e que
                                                                                 lhe dissesse mais o seguinte: que, no caso
                                                                                 de estar disposto a aceitar tão generosa
                                                                                 oferta.  se  devia  apresentar  no  dia
                                                                                 seguinte naquela mesma nau para assen-
                                                                                 tar ponnenorcs: caso contrário. que teria
                                                                                 muita  pena,  mas que se  veria obrigado
                                                                                 a queimar todas as  naus que estavam no
                                                                                 porto  e  a  tomar  Ormuz pela  força  das
                                                                                 armas como havia feito com as cidades
               .~
                           QUEIXO~1E                                             da costa de Oman que lhe tinham resis-
                                                                                 tido.  E acrescentou, à laia de confidên-
                                                                                 cia. que a si tanto lhe fazia,  mas até que
                                                    _ - - . '~ 'h
                                                   /~LARECA -~                   preferia que Cogeatar recusasse porque
                                                                                 ele próprio,  assim  como os  fidalgos  e
                                                                                 soldados que ali  via, já estava com sau-
                                                                     ]           dades dum  bom  combate!
                                                                                    Ao  receber  a  mensagem  de  Albu-
                                                                                 querque, Cogeatar pensou que ele devia
                                                                                 ser doido  para  se  atrever  a desafiá-lo.
                                                                   "  ,  Vento   apenas com seis pequenas naus metidas
                                                                       ,         no meio de sessenta muito maiores e bem
                                                                                 guarnecidas de gente de annas.  Mas o
                                                                                 capitão da grande nau do rei de Cambaia
                                                                                 aconselhou-o  a  que  tivesse  cautela.  O
                                                                                 capitão português e os fidalgos e solda-
                                                                                 dos que estavam com ele pareciam gente
                                                                                 muito perigosa. Que se lembrasse do que
                                                                                 tinha acontecido às cidades da costa de
                                                                                 Oman!
                                                                                    Cogeatar era um polftico hábil e pru-
                                                                                 dente.  Por  isso,  não se precipitou.  Foi
                                                                                 consumindo todo o dia 26  com  respos-
                                                                                 tas  evasivas  e  dilat6rias,  procurando
                       (Elquc: .... ""m escala)
                                                                                 ganhar tempo. para que a sua armada de
                                                                                 terradas pudesse chegar a Onnuz, o que
            guerra  psicológica.  Apesar  de  Icr  os   Tratava-se duma enonne nau, perten-  veio  a  acontecer  nessa  mesma  noite.
            navios e as  guarnições a cair aos boca-  cente  ao  rei  de  Cambaia,  que  tinha  a   Ao notar que a coberto da escuridão
            dos e dos seus capitães eSlarem à beira   bordo peno de mil  homens entre mario   as  naus  que  estavam  mais  perto  dos
            da rebelião. comportou-se como se dis-  nheiros e soldados.  Pois o que aconte-  navios portugueses mudavam de posição
            pusesse da maior e mais  bem equipada   ceu  foi  que,  perante  o  «uhimatum,.  de  e  ouvindo  O  rumor  provocado  pelo
            armada do mundo e acabou por conven-  Afonso de Albuquerque, o  seu  capitão   intenso  movimento  dos  batéis  que
            cer disso  os  seus  adversários.  criando   acobardou-se e foi-se apresentar imedia-  traziam  reforços  de armas  e  soldados.
            neles um complexo de inferioridade e de   tamente  no  navio  daquele.  Para  o   Afonso  de  Albuquerque  compreendeu
            receio.                            receber, Albuquerque momou uma ence-  que Cogeatar nào se assustara suficien-
               Uma  hora  depois  de  ter  fundeado,   nação grandiosa, aparecendo ricamente   temente  e  decidira  combater.
            como não tivesse aparecido  ningutm a   vestido,  rodeado de  fidalgos  e  homens   Ao amanhecer  do dia 21,  os  portu-
            cumprimentos,  Albuquerque  mandou   de annas cobertos com armaduras relu-  gueses  puderam  constatar que  as  naus
            recado à maior nau que estava no porto.   zentas e empunhando lanças e espadas.   inimigas tinham  ido fundear mais junto
            junto da qual  tinha  largado  ferro.  para   no  meio  de  bandeiras,  colgaduras  e   à praia, muito próximas umas das OUtras,
            que o seu capitão viesse imediatamente   almofadas de seda. à mistura com pelou-  tendo  a  maior  pane  delas  os costados
            a  bordo,  caso  contrário  a  afundaria!   ros.  bestas e  machados de abordagem.   protegidos com arrombadas feitas com

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