Page 8 - Revista da Armada
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Antologia do Mar
e dos Marinheiros
João de Barros Pejo cap.-frag. Cr istóvão Moreira
idadão. pedagogo. escritor e poct.l. João de Bar·
ros tem como poucos o direito de figura r nesta
C antologia: porque. mesmo desfeito o sonho que
acalemou. de ser afiei:11 da Marinha. o mar foi para ele.
sempre. inspiração c companhia, libertação e transcen-
dência. E voltadas para o oceano ficaram as estátuas er-
guidas cm sua mCJllória, monumentos enfrentando o
Atlântico, um na praia de Santa Cruz, Oulro na avenida
marginal da Figueira da Foz, onde o «poeta do mar» nas-
ceu em 4 de Fevereiro de 1881. «Aquele mar da minha in·
fância ... »
Desde então até 1960,25 de Outubro, quando amor·
le. que sabia anunciada. veio buscá-lo. foram oitenta anos
de umu vida que a beleza do seu espírito fez admirada, e
a nobreza do seu carácter tornou respeitada. Licenciado
em Direito pela Universidade de Coimbra. foi professor
de liceu. director-geral do Ensino Secundário. secretário-
-gerai do Ministério de Instrução. evidenciando na sua
condição dc educador as virtudes expressas nas palavras
que mereceu a Ferreira de Castro: «A energia sempre
pronta a sublimar os impetuosos arranques do espírito e
da matéria. a força que condena todos os desânimos. que
repudia todas as subserviências, que se rebela contra to-
das as servidões eexalla o amor. a liberdade e a superação
humana.» Autor. com 16 anos, do seu primeiro livro de
poeta, .. Versos». vieram depois .. Algas. (1899) ... O Po- (Foto do Srn'iço dr OOCllmtnlQçuo do • 0;6,io dr Nmfcias. J
mar dos Sonhos .. (1900). «Terra Florida» (1909), passan-
do pela que foi talvez a sua obra poética maior ( .. Anteu .. , generoso do ideal republicano, veri:.l interrompida pela
1912). precedendo ttAnsiedade .. (1913), .. Vida Vitorio- ditadura), do seu interes!.C pela educação infantil (com a
sa» (1917). «Ritmos de Exallação» ( 1922). e entre outros ardoros,l defesa dos Jardins-Escola João de Deus). ficou
o poema fundamemal de .. Sisifo»; João de Barros ganha- como expressão deliciosa a sua adaptação em pras:1 da
ra par:I sempre um lugar na poesia portuguesa contempo- epopeia de C<lmões: .. Os Lusfadas Contados às Crianças
rânea. E sobraram-lhe ainda as horas necessárias para a e Lembrados ao Povo». Começava assim. o episódio do
vasta produção literária e jornalística, em boa parte con- gigante Adamastor: ttEstávamos então em Julho. quando
sagrada li causa da aproximaçiio humana e cultural entre o sol. correndo o ZodíOlco. entra no signo do Leão.
Portugal e o Brasil. obra em que se destacam «A Energia A armada singnlva pelo OCCimo fora. e lá iam desapare-
Brasileira .. (1912) ... Caminho da Atlântida» (1918), «A cendo o Tejo querido, e a fresca serra de Sintra. onde nos
Aproximação Luso-Brasileira e a Paz .. (1919) ... Sentido ficavam os olhos. e o coração cheio de saudades ... Por
do At][mtico» ( 192 1). «Heróis Portugueses no Brasil» fim. já não víamos senão océu eo mar.»
(1922), .. Palavrlls do Brasil:.. (1936) e .. Almas do Brasil» O mar. sempre o mar, no pensamento e na obnl dessa
(1937). Ou ando. em 1922. acompanhou o presidente An- notável figura. de quem Vitorino Nemésio disse «scr um
tónio José de Almeida na sua visita ao país irmão. o poeta dos portugueses mais generosos desle século»: «recusa-
João de Barros era desde há dois anos um dos dez sócios do como marinheiro por miopia. ninguém viu mói is longe
poTlugucses da Academia Brasileira de Letras. E cm o alcllnce da eduC:lção nacional e do Atlflntico». Por isso.
1925.110 tomar efémera a pasta dos Negócios Estrangei- com o auxílio da prodigiosa memória do jornalista Antó-
ros no Ministério de Domingues dos Santos. fiel seria à nio Valdemar, fomos buscar ao livro «Educação Republi-
sua amizade de sempre. cana» dois trechos de «O Mar na Educação Portuguesa»,
Da função de educador (que João de Barros, paladino que tem aqui particular cabimento porque se trata do tex-
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