Page 302 - Revista da Armada
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CURIOSIDADES
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1S! Parte
o ALM Francisco Maria Pereira da Silva, ácerca d'esta refonna, documento junto nl! 3, do plano geral, que
se lhe segue, de illuminação para toda a costa maritima de
que foi o autor do primeiro projecto de Portugal, documento n 4, da descripção de todos os nossos
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sinalização marítima da costa de Portugal, pharoes e melhoramentos de que careciam, documento nll 5, e de
publicou em 1872 um opúsculo, intitulado outras providencias que então apresentei em diversos relatorios e
officias. Todavia estes meus bons desejos foram contrariados por
"Pharoes, Marcas Maritirnas, Estações
obstacu1os que não estava ao meu alcance remover.
Semaphoricas e Postos Meteorologicos Na inspecção que fiz em 1865 aos nossos 12 pharoes encontrei
em Portugal", contendo o referido projecto, unicamente 12 pharoleiros ali empregados, dos quaes 8 não sabi-
am ler e escrever, apesar de serem obrigados a apresentar mappas
cuja introdução se reveste de grande mensaes do consumo do azeite e de outros serviços. Entre e1Ies, 2
interesse para a história da farolagem tinham para mais de setenta annos de idade, e muito já contavam
vinte e trinta annos de serviço. Uns venciam apenas 320 réis
em Portugal. Vale, assim, a pena,
diários, outros 400 réis e alguns 480 réis, não se guardando ainda
transcrevê-lo aqui. assim n'estes exiguos ordenados uma justa relação com as suas
condições e dos pharoes em que serviam.. Enfim esle deficiente
ntre as reformas e melhoramentos importantes que há a pessoal estava proximo a desappa.recer, já pela avançada idade de
fazer em Portugal sohresae a illuminação de todas as suas uns, já pelas doenças que outros tinham adquirido n'aquelJe
Ecostas maritimas e portos de mar, acompanhada de marcas, monolono e desabrido serviço.
boias e outros signaes que auxiliem e garantam a seguranc;a das Era porlanto indispensavel, primeiro que tudo, crear
embarcações e das vidas dos que os demandam. pharoleiros com as devidas habilitações, e admitir outros empre-
Este assumpto tem chamado a attenção dos govemos illustrados gados competentes para a boa fiscalização e administração de
de todas as nações marítimas, e já teria lambem chegado em lodo o serviço dos pharoes.
Portugal ao estado de desenvolvimento que se encontra n'essas Debalde esperei Ires annos por esta e outras urgentes di~
nações se os nossos governos, lutando sempre com as finanças. posições que tinha proposto. Entretanto observava:
não se considerasseIl\ quasi todos, inhibidos, por falta de meios, 1° Que a ideia dominante n'aqueUa epocha era cortar e diminuir
de emprehender este e outros melhoramentos. Todavia, quando as verbas de despeza no orçamento do estado, embora fosse con-
estes são productivos, ou se acham ligados com as principaes veniente conservar e mesmo augmentar algumas, o que não se
lontes de receita publica, como são estes auxilios para com a nave- confonnava com a despeza a mais que tinha a fazer o ministerio
gação e commérdo d'este paiz, que produzem a grande receita das da marinha com a organisação de todo o referido pessoal para o
nossas alfandegas, e sobretudo quando a despeza que exigem bom desempenho do serviço dos pharoes, achando-se até declara-
póde ser satisfeita por um imposto extraordinario, pago com a do no artigo 711 da já mencionada carta de lei de transferencia
melhor vontade por aquelles que aproveitam da sua utilidade, d'este serviço para o ministério da marinha que: "A despeza da
co'!'ette-se um grave erro economico em não os levar â execução. nova repartição no ministério da marinha não poderá exceder a
E pois para quando se attender a estas conveniencias que verba equivalente applicada para a administração correspondente
reuno n'este volume os principaes documentos pertencentes ao nos ministerios em que actualmente se acha o respectivo serviço".
periodo em que exerci as funcçõe5 de inspector dos pharoes e fiz :lO Que ao passo que o ministerio da marinha não tinha, como
parte de tres commissões, que successivamente se crearam para fica dito. pharoleiros com as devidas habilitações e mais bem re-
a organisação de todo este ramo do serviço publico, preceden- tribuidos, encontrava-se na direcção dos te1egraphos, ou no minis-
do-os de alguns esclarecimentos e considerações, por me pare- terio das obras publicas, um grande numero de te1egrnphistas em
cer que se poderá assim avaliar melhor e resolver esta transcen- disponibilidade, vencendo dois terços do seu ordenado, que,
dente questão. pelas sua habilitações e maiores vencimentos do que os
Foi no ano de 186-1 que o sr. conselheiro José da Silva Mendes phatoleiros, estavam nas melhores condições de substituir estes,
Leal, sendo ministro da marinha, entendeu, de acordo com os evitando-se por este modo a despeza de fonnar-se no ministerio
seus coUegas ministros da fazenda e das obras publicas, a cargo da marinha um novo corpo de pharoleiros, com analogas habili-
dos quaes se achava então o serviço dos pharoes, que passando tações, como se póde ver no programma dos respectivos cursos
este para o ministerio da marinha marcharia com mais van- creados em 1866 no instituto industrial.
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tagem, como consta da proposta de lei n 74-A de 22 de abril de 3" Que os outros empregados de que lambem carecia o ministe-
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1864, adiante impressa, documento n l, e da carta de lei de 20 de rio da marinha para a contabilidade e fiscalização do serviço dos
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junho de 1864, documento n 2. pharoes já existiam n'aquella direcção dos te1egraphos, evitando--
Por decreto de 12 de agosto immediato fui nomeado inspector -se assim a despeza com identicos empregados.
dos pharoes do reino; e confesso que acceitei este encargo com 4 Que, devendo seguir-se à refonna de toclo o citz:do pessoal a
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muita satisfação, pela boa vontade que tinha de concorrer para construcção dos edificios para novos pharoes, e grandes
tão util melhoramento, o que se póde inferir do meu relatorio reparações nos existentes, estas obras eslavam a cargo do ministe
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