Page 299 - Revista da Armada
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RIBA-COA
As terras de Riba-Coa são basicamente o
esp.1.ÇQ que fica entre o rio Coa e a actual fron-
teira espanhola (rio Águeda e ribeira de
Tourôes), tendo a sul, a serra da MaJcata e a
norte, o rio Douro. Trata-se de um extenso
planalto, dominndo a sudoeste pelo maciço dn
Estrela, e prolongando-se para leste, por mais
de uma centena de quilómetros, onde SObress.li
a cidade de Salamanca, em pleno reino de
Leão. E é precis.lmente porque a região consti-
tui um corredor entre elevadas e agrestes mon-
tanhas, que qualquer dos reinos o cobiçou,
fazendo dele um motivo de conflito, no sentido
de aproveitar o seu valor agrícola e tentando
dominar militarmente um espaço estratcgico
de passagem fácil.
O mais antigo documento que refere esta
zona - precis.,mente ,com os limites ocidentais
definidos pelo rio Agueda e pela ribeira de
TaI'lru: Olllro l/roça collqlllslmfa por D. SlllIrha U.
TourÕt'S - é umn carta de povoamento dI." 1130
(já com Afonso Henriques no governo do
A FRONTEIRA SUL
Condado Portucalense), mas em 1145, os castelos de l..ongroiva e
Mari.,Jva eram oferecidos por Fernào Mendes de Bragança (vas-
Como ~i referimos, logo que foi afastada a ameaça Almó.,da, em salo de Afonso Henriques) à ordem dos Templários, factos que
Navas de Tolosa, D. Sancho II, dando continuidade a uma política provam a sua integração no reino de Portugal, nestes primeiros
que vinha dos seus antecessores, I.lm;ou-se na conquista das fortifi- tempos de reino independente. ..
c.,ções do vale do Guadi.,na, procurando isolar o reino do Algarve Todavia, em 1161. Fernando II de Leão, funda ClUdad Rodngo
e "condená-lo" a ser português. No entanto, quem viria a tomar e institui aí uma nova diocese, a que resolve oferecer os terrenos
posse efectiva dessas terras era D. Afonso III, depois de ter afastado de Riba-Co.l, demonstrando ~i uma dara intenção de os anexar li
seu imliio do pocIer e depois deste ter morrido exilado em Toledo. com, leonesa. A diocese não teria um reconhecimento imediato
Mas, entretanto, reinava em Leão e Castela, Afonso X, o conquis-
pelo papado, mas, entretanto, as suas razões para domi~ar a
tador de Sevilha, que se considerav" com direitos de soberania região, onde já se encontr,wam os conventos de Santa Mana de
sobre o Algarve poreste ser parte do reino de Niebla, cujo soberano Aguiar (Castelo Rodrigo) e o de S. Julião do Pereiro (entr.e
fbn M."hfut era seu vass,.,lo. Por isso, por alturas de 1250, recl.,mou Reigada e Cinco Vilas. na mt.1.rgem esquerda do Coa), eram eVl-
junto do papa Inocência IV, pelo facto do rei português se ter dentes e de difícil oposição por parte do poder politico por-
apoderado dos seus castelos algarvios. A questão era muito delica- tuguês. Na ânsia de avançar para sul e ultrapassar rapidamente ii
da, ea sua solução não era fácil: os direitos de Afonso X resultavam linha do Tejo. Afonso Henriques descurara o povoamento e a
da vass..,lagem de Ibn Mahfut, mas os do rei português eram apoia- fortificação de uma região que, assim, ficava ameaçada por um"
dos por uma ocupação efectiva da regi.io. Ainda p<,ra m.,is n.io era verdadeira ponta de lança, que era o castelo dI." Ciudad Rodrigo.
um território de fácil acesso militar, um., vez que o protegi.,m, as Sabe-se que em 1172 (ou 75), numa tentativa de ludibriar a
serranias a norte e o caudaloso Guadi.,r .. , a leste. Todavia Afonso III própria realidade, o nosso primeiro rei ainda concedeu uma carta
resolveu p.lctuar com o soberano mstelhano procurando alcançar de couto ao convento de Santa Mari,l de Aguiar, mas era tarde
05 seus objectivos sem se embrenh.lr numa guerra de fins duvi- para reparar o que já eslava consolidado por Fernando [~. A
dosos e despesas elevadas. Aceitou ficar com o Algarve como feu- posição do rei português em frágil em lodos os pontos de V15ta:
datário vassalo de Afonso X, e, p.1ra selar o arordo, casari.., com D. acabara de ser derrotado e humilhado em Badajoz e não tinha
Beatriz, filha bast.lrd" do rei de Le.io e CasteL.l. Naturalmente que força militar nem fortificações que pudessem impedir o rei de
este cas.lmento iria levantar problemas de vária ordem, um., vez Leão de tomar posse de Riba-Coa. Para além disso, Afonso
que o rei português ~í era c.,s.,do com D. Matilde, condessa de Henriques, por causa de uma grave fractura que fizera numa
Bolonha, mas enquanto Beatriz esperava a maioridade p<,ra os peml durante a c.lmpanh.l de B.ldajoz, nunca m.,is poderia mon-
esponsais, a condessa faleceu e o assunto foi esquecido pela própria tar a C<lvalo e voltar a conduzir as sua hostes em ordem de b.,talha.
igre~" que antes acusara Afonso H[ de bigami.1..
Alguns anos mais tarde, porém, Afonso X acabava por tomar
posse de Niebla (262), ao mesmo tempo que os conflitos entre
Portugal e Castela na fronteira do Guadiana obrigavam a que fosse
petlS<ldo um novo tratado, mais daro e menos pesado para Afonso
III. Ficou, então, acordado que o novo feudatário seria o jovem
infante D. Diniz - sucessor do trono de Portugal e neto do rei de
Castela, por parte de sua mãe - que ficaria obrigado a socorrer seu
avô com cinquenta lanças, em caso de guerra.
As circunstãncias fariam com que este dever de vass.llagem
acabasse de todo: num acordo firmado em Badajoz a 16 de
Fevereiro de 1267, o Algarve ficava definitivamente integrado no
território português, como uma herança p<lm D. Dini.z; em compen-
sação os castelos de Aroche e Arncen..l que h.,virun sido conquista-
dos por Afonso m na Andaluzia, transitariam para Castela, ficando
a fronteira entre os dois reinos separada pelo rio Guadiana, entre
Cai.,eomar. ÚllfI'tII/Oth S/II Marill dr tlsuMir. 110 rotlf{IJoth Ríhl-CQII. ,
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