Page 53 - Revista da Armada
P. 53

era duplo, pregado e calafetado por dentro e por fora.  Depois   lbn  Batuta, viajante e geógrafo árabe. que este\'e na China
          de um ano de serviço, era colocada nova camada de forro,  no  cinquenta anos depois de  Marco  Polo, refere que os  mer-
          segundo ano outra camada, até atingirem a sexta camada. No  cadores chineses dispunham de grandes juncos, maiores que
          seu  regresso à Europa,  Marco  Polo partiu  de Quanzhou  para  os do tempo da  Marinha Song, com  dezenas de camarotes
          Ormuz, em  1292, com  uma  frota  de catorze navios,  trans-  onde viajavam  com  concubinas e esposas. Os  marinheiros
          portando a bordo uma  jovem princesa  destinada  a esposa  do  semeavam  hortaliças e legumes, a bordo, em gr.lndes caixotes
          Cã dos Tártaros de Levante, isto é, de rei da  Pérsia.   de madeira.
           Com a poderosa marinha de que d~punha,  Kublai  Khan  fThln-  O junco, cujo nome deve ter tido origem no javanês "Djong",
          dou emissârios a Samarra, Ceilão e à lndia para estabelecer a sua  que significa embcll"Cação ou navio. a que os Portugueses chama-
                                                                                       H
          innuênda, pennitindo assim aos mercadores chineses irem, pouco  ram junco e os Holandeses "jork é um  tipo de navio como não
                                                                                        ,
          a pouco, tirando aos árabes o lucrativo comércio das espedcllias.   há outro no mundo. Em 5.00J anos de existênda pouco mudou. e
                                                              as  suas velas mostraram-se das mais eficientes que o homem
                                                              inventou. O segredo desS.l  eficiência  reside principalmente nas
                                                       s      réguas, que além de manterem a forma da  vela e controlarem a
                                                              sua orientação. tomam fácil o rizar e o arriar, suportando o mate-
                                                              ria!  de que a \'ela é feita.  Se o junco se afunda, a vela  enrolada
                       o                                      pode servi.r de salva-vidas.
                                                                (); juncos tradicionais não tinham quilha. nem cadaste. A estru·
                                                              tura do casco era muito sólida de\~do a possuir anteparas transver-
                                                              sais que fonn.wam compartimentos estanques. (); juncos maiores
                                                              tinham antep.lras longitudinais. A compartimentagem estanque só
                                                              viria a ap."lrecet" na Europa cinco séculos depois. Com mau tempo,
                        ('
                                                              arriavam os mastros e era usua! utilizarem ânroras flutuantes feitas
              :T/ 8.E T   ,  :                                de redes e de cabos lançados pela proa ou pela popa.
                   ,
                  ,                                             Os  juncos oceânicos, com  o seu desenho caracterfstico,
                 "                                            alcançaram o apogeu  na  segunda metade do século XII,  tendo
                                                              continuado a aperfeiçoar-se até ao século XV. Tiveram num,papel
                                                              muito imponante nas migrações pata as Filipinas e SE da Asia, a
                                                              partir do século XVI,  mas a concorrência dos navios europeus
           ,        • Kurlmi"9                                provocou o seu declínio, que se acentuou com o aparecimento
            ,
            ,   YVNNA N                                       dos  navios a vapor na segunda metade do séruIo XIX.
                                                                Dois anos antes da conquista  da  capital  Hangzhou, Kublai
                                                              Khan invadiu o Japão a partir da Coreia com uma frota de quatro-
                                                              centos navios, 4O.00J  homens e 15.CXX>  cavalos. No  entanto, um
                                                              tufão fez com que a invasão fosse desastrosa. Mas,  Kublai  Kh.ln
                                                              não desistiu e durante sete anos preparou outra frota, com cerca
                                                              de 4.500 navios e lS(),(XX) homens. a maior que até então o mundo
                                                              jamais vira. Tal como aconteceu com a primeira, um  tufão fez
                                                              gorar a invasão, e até hoje, os japoneses pensam que as suas ilhas
                                                              estão  protegidas  por  ventos  divinos  a  que  chamaram
                                                       Fig. 7
                                                              "KAMTKASES".                                     li
                                                                                      REVISTA DA ARMADA ·  fEVEREIRO 97  15
   48   49   50   51   52   53   54   55   56   57   58