Page 155 - Revista da Armada
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Por um Poder Naval adequado
Por um Poder Naval adequado
aos Interesses Nacionais
aos Interesses Nacionais
m artigo publicado, em 1985, na Revista Militar o actu- cionamento pelos interesses das grandes potências e como
al CEME, após clara análise à situação portuguesa, con- os grandes conflitos mundiais têm, segundo Pirenne e a
Ecluía: História, normalmente com protagonistas, em campos opos-
“Sendo Portugal um país charneira entre o primeiro e o tos, as potências marítimas e as potências continentais, nós,
terceiro mundos, o Norte e o Sul, o desenvolvimento e o que não temos possibilidade de ser neutrais, devemos, como
subdesenvolvimento, ... entre as Américas e a Ilha Mundial, país marítimo, estar, como estamos, ligados à potência marí-
o mundo marítimo e o mundo continental, ... a Europa e a tima. Hoje, com os acontecimentos mundiais da última
África... nunca terá força para ser neutral e necessita de um década, há quem advogue a não necessidade de forças
aparelho de força por o não ser”. navais, a dissolução da NATO ou o seu afastamento da reso-
Os acontecimentos mundiais registados na última década lução dos problemas europeus. Esquece-se a proliferação de
conduziram, conforme aludi em recente artigo, a uma maior conflitos, por enquanto, de menor dimensão, a insipiência
maritimidade da Europa e ao afastamento do Velho Conti- das organizações europeias de defesa, a maritimidade do
nente de qualquer potencial “Perturbador Continental” mas nosso país e a localização de parte do território em plena
não eliminaram a afirmação de que Portugal necessita de área de interesse dos aliados do outro lado do Atlântico.
um aparelho de força. E, se somos – e bem - pertença da organização de defesa
Se precisamos de um aparelho de força, a geografia impõe do Atlântico Norte, temos de ter presente que , para um
que sintamos a maritimidade e que não descuremos a defe- apoio mútuo possível, prático e eficaz, a constituição da
sa naval. nossa esquadra tem de ser tecnologicamente compatível
Sem necessidade de citar Fournier, basta considerar a com aquela que a NATO tem destinada a operar na sua, e
situação geográfica do nosso país para concluir que uma or- nossa, área de interesse.
ganização naval não é peça de luxo, mais ou menos dispen-
sável na nossa administração, mas sim o natural e indispen- Mas, não podendo esperar da Aliança a resolução de to-
sável corolário das necessidades derivadas daquela situação dos os nossos problemas, temos de ter a noção clara dos
especial. meios necessários.
A nível estratégico mundial, a consequência mais evidente O primeiro objectivo do poder naval português não pode
da nossa posição geográfica continua a ser o nosso condi- deixar de ser a defesa marítima do Continente e Ilhas, a vi-
8 MAIO 99 • REVISTA DA ARMADA