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Por um Poder Naval adequado
           Por um Poder Naval adequado


                     aos Interesses Nacionais
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             m artigo publicado, em 1985, na Revista Militar o actu-  cionamento pelos interesses das grandes potências e como
             al CEME, após clara análise à situação portuguesa, con-  os grandes conflitos mundiais têm, segundo Pirenne e a
         Ecluía:                                              História, normalmente com protagonistas, em campos opos-
           “Sendo Portugal um país charneira entre o primeiro e o  tos, as potências marítimas e as potências continentais, nós,
         terceiro mundos, o Norte e o Sul, o desenvolvimento e o  que não temos possibilidade de ser neutrais, devemos, como
         subdesenvolvimento, ... entre as Américas e a Ilha Mundial,  país marítimo, estar, como estamos, ligados à potência marí-
         o mundo marítimo e o mundo continental, ... a Europa e a  tima. Hoje, com os acontecimentos mundiais da última
         África... nunca terá força para ser neutral e necessita de um  década, há quem advogue a não necessidade de forças
         aparelho de força por o não ser”.                    navais, a dissolução da NATO ou o seu afastamento da reso-
           Os acontecimentos mundiais registados na última década  lução dos problemas europeus. Esquece-se a proliferação de
         conduziram, conforme aludi em recente artigo, a uma maior  conflitos, por enquanto, de menor dimensão, a insipiência
         maritimidade da Europa e ao afastamento do Velho Conti-  das organizações europeias de defesa, a maritimidade do
         nente de qualquer potencial “Perturbador Continental” mas  nosso país e a localização de parte do território em plena
         não eliminaram a afirmação de que Portugal necessita de  área de interesse dos aliados do outro lado do Atlântico.
         um aparelho de força.                                 E, se somos – e bem -  pertença da organização de defesa
           Se precisamos de um aparelho de força, a geografia impõe  do Atlântico Norte, temos de ter presente que , para um
         que sintamos a maritimidade e que não descuremos a defe-  apoio mútuo possível, prático e eficaz, a constituição da
         sa naval.                                            nossa esquadra tem de ser tecnologicamente compatível
           Sem necessidade de citar Fournier, basta considerar a  com aquela que a NATO tem destinada a operar na sua, e
         situação geográfica do nosso país para concluir que uma or-  nossa, área de interesse.
         ganização naval não é peça de luxo, mais ou menos dispen-
         sável na nossa administração, mas sim o natural e indispen-  Mas, não podendo esperar da Aliança a resolução de to-
         sável corolário das necessidades derivadas daquela situação  dos os nossos problemas, temos de ter a noção clara dos
         especial.                                            meios necessários.
           A nível estratégico mundial, a consequência mais evidente  O primeiro objectivo do poder naval português não pode
         da nossa posição geográfica continua a ser o nosso condi-  deixar de ser a defesa marítima do Continente e Ilhas, a vi-

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