Page 156 - Revista da Armada
P. 156
gilância do espaço interterritorial – praticamente ermos de pela Marinha, no desempenho de missões importantes,
navios de flâmula – e a manutenção, até onde pudermos, da afigura-se-me que, de uma maneira geral, marinheiros e
inviolabilidade da nossa costa (já nos primórdios do século mar continuam sendo estranhos à nossa sociedade. E, se
XX, considerava o general Moraes Sarmento que “a defesa meditarmos um pouco nesta espécie de apatia com que é
das costas deve apoiar-se principalmente nas forças móveis encarada a Armada Portuguesa, teremos de concluir que ela
do mar”). procede da incapacidade, do desconhecimento ou da
Para cumprir este objectivo, há que possuir meios adequa- incompreensão da sociedade e, especialmente da elite
dos, não esquecendo, como a configuração do país exige e política sobre o que o serviço do mar representa.
Mackinder teorizava, a necessidade de componente anfíbia. Assim, temos que, por todas as formas, mostrar à Nação o
Mas o poder naval não se torna preciso apenas para a sua que somos e como poderemos defender e desenvolver os
função primordial de elemento de defesa; tem ainda nas interesses nacionais; temos que esclarecer a escol.
necessidades de fiscalização, de apoio, de socorro, de pre- Julgo que a criação de um poder naval adequado às nos-
sença, de representação, de defesa dos interesses nacionais, sas necessidades de defesa dos interesses nacionais, só será
outras tantas causas originárias. viável quando ele for encarado como um Projecto Nacional
Para o desempenho de funções de serviço público, limito- Permanente e não de legislatura, como tem vindo a ser
-me a evidenciar a necessidade de os patrulhas saírem, seguido, para quase todos os sectores da governação.
urgentemente, do banho-maria em que se encontram desde Projecto Nacional Permanente que lhe é conferido pela
o fim da década de 70. aprovação, em CSDN, de um Conceito Estratégico e de um
Como é óbvio, a capacidade para desempenhar outras Sistema de Forças, mas que não encontra tradução clara nos
funções de defesa dos interesses nacionais estará sempre programas dos partidos e dos governos, nem nos orçamentos.
condicionada à dimensão e qualidade do poder naval exis-
tente; gostaria apenas de relembrar que os EUA, quando en- Há, pois, que motivar as elites para a necessidade de
tenderam dever entrar na luta económica internacional, de- encarar os assuntos de defesa com outra visão e outra von-
senvolveram a sua marinha de guerra. tade; há que concretizar a LPM sem adiamentos, há que
elucidar a Nação para a reflexão de Oliveira Martins: “Pro-
* teger é semear. Nem sempre colhe o fruto, aquele que espa-
lhou a semente; mas uma Nação não é um dia; é a sucessão
Se, como julgo, o poder naval é aquele que melhor carac- das gerações dos seus filhos...”; há que, como defendia o
teriza em si o poder nacional, em todas as suas manifes- almirante Celestino Soares, levar os Governos a correrem
tações e formas, temos que defendê-lo em todos os “fora”; para o mar e ensinarem para que ele serve.
temos que, exaustivamente, lutar por ele e, insistentemente,
reclamá-lo. F. Machado da Silva
Não obstante a visibilidade alcançada, o ano passado, VALM