Page 370 - Revista da Armada
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- No Norte é o “mar mulher” assim denominado pela sua man-  DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
         sidão, no Sul o “mar homem” caracterizado pelas suas águas
         revoltas. A lenda refere-se a dois irmãos, sobreviventes do  O território é dividido em “sucos” à frente dos quais estão chefes tradi-
         Dilúvio, ela a mulher estava na costa Norte enquanto o irmão se  cionais denominados “liurais” e a quem são conferidos atributos sagrados.
         situava na costa Sul.                                 Relembro a acção heróica dos liurais D. Aleixo e D. Jeremias frente
                                                              aos invasores japoneses quando da II Guerra Mundial e em honra dos
            “Entrei pelo mar mulher                           quais a Marinha deu o nome a duas lanchas. O termo “cavalo do
            açodado, a colher algas.                          reino” tem o significado de homem livre.
            Esqueci-me do meu mister
            Embalado pelas ondas.                                “Ele está onde está, meu dono.
                                                                 Ele está morando nos ermos,
                                                                 filho do Sol.
            O mar homem não se esquece
            Embalado pelas ondas”.                               Nem de joelhos lá chego.
                                                                 Eu sou cavalo do reino.
         DA METEOROLOGIA                                         Nem de joelhos lá chego.”

         - Com um clima tropical húmido Timor tem a época das chuvas

            “Chove, chove, sem parar,
            na berma da minha aldeia.
            O vale adensa a neblina
            Afundada na ribeira.

            Um veio d’água perdeu-se
            Afundado na ribeira”.

         - a época da seca                                    Aclalás.

            “A luz do Sol encantou                            DA RESISTÊNCIA DO TIMORENSE ÀS PRIVAÇÕES
            a terra verde, orvalhada.
            Uma brisa perpassou                               E DA SUA ÉTICA
            Suavemente na várzea.
                                                                Ao longo dos tempos sofrendo várias invasões e guerras com con-
                                                              sequentes mortes, destruições e carências de toda a ordem, o povo
            O arroz rumorejou                                 tem sobrevivido devido a um forte sentimento de individualidade
            Suavemente na várzea”.
                                                              étnica onde se salientam a coragem firme, a humildade e a dig-
                                                              nidade.
         DAS POVOAÇÕES
                                                                 ”Aprendi a não ter fome.
           Os centros populacionais estão perfeitamente dissimulados na lu-  Aprendi a não ter sede.
         xuriante vegetação da ilha, nomeadamente Díli, pelo que de longe, à  Pedra no rio lavada,
         luz do dia, não se tem a noção da sua real dimensão.    troco-a pela minha inteireza.
                                                                 Sou homem, não sou de pedra.
            “Muitas cidades e ruas.                              Troco-as pela minha inteireza”.
            Luzes me enganam, talvez.
            Díli, à noite, encandeia.
            De manhã, ninguém a vê.                              “Sorrio e tenho tristeza
                                                                 pela fome que me come,
            É tal qual a minha aldeia.                           pela mentira negada.
            De manhã, ninguém a vê”.                             Estou só e tenho verdade.
                                                                 Contra mim próprio, afirmo:
                                                                 estou só e tenho verdade”.

                                                              DO ESPÍRITO DOS ANTEPASSADOS

                                                                O timorense como povo oriental está extremamente ligado ao
                                                              espírito dos seus antepassados  e por isso nas suas habitações e em
                                                              muito do seu artesanato, nomeadamente nos panos e esteiras, ins-
                                                              creve desenhos que se relacionam com os seus antecessores.
                                                                 “Melhor do que sonhar alto
                                                                 é tecer na minha esteira
                                                                 desenhos articulados
                                                                 pela alma dos meus avós.

                                                                 Desenhos não revelados
         Aldeia indigena.                                        pela alma dos meus avós”.                      ✎
                                                                                       REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 99  7
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