Page 100 - Revista da Armada
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ESCOLA NAVAL



                                   OS NAVIOS-ESCOLA “VEGA” E “POLAR”
                                       NA REGATA CANÁRIAS - FUNCHAL

           Os navios-escola “Vega” e “Polar”, sob o comando do Cten Bus-
         torff Silva e Cten Marques Ferreira, respectivamente, largaram da BNL
         na 3ª semana de Agosto a fim de participarem na edição de 1999 da
         regata internacional Canárias / Funchal.
           A guarnição em ambos os veleiros era composta por cadetes da
         Escola Naval, todos voluntários, que, em período de férias escolares,
         quiseram participar nesta regata. O “Vega” levava dois aspirantes e 8
         cadetes, e o “Polar” 9 cadetes, além da sua guarnição fixa.
           Nos primeiros dias de viagem, com a Nortada a soprar rija e os ca-
         detes em “adaptação”, as milhas pareciam mais compridas, mas a vi-
         são da Ilha de Porto Santo na manhã de 24, depressa fez esquecer
         esses primeiros dias.
           Depois de 4 dias de banhos de mar e de sol, na ilha que foi em tem-
         pos residência de Colombo, os veleiros fizeram-se ao mar, em direc-  que, ali no cais nos brindou com uma visita fora de água, quase um
         ção à Madeira. Com o Mar da Travessa encrespado, as escotas folga-  cumprimento, que nos tirou o prazer de dar umas braçadas.
         das com o vento na popa, a cidade do Funchal apareceu depressa.  A noite foi calma, mas logo pela manhã o “enchio” provocado pela
           Na tarde do dia 31, a seguir ao almoço oferecido ao Comandante e  ondulação obrigou-nos a suspender mais cedo. O vento continuava
         Oficiais do Departamento Marítimo da Madeira, os veleiros soltaram  fraco de NE, o que não fazia prever boas perspectivas para o regresso,
         rumo para Sul.                                       já em regata.
           O vento, fraco do quadrante NE, permitia uma velocidade de 4 nós  O Pico Teide, com os seus 3718 metros, foi avistado a cerca de 70
         e um rumo muito estável. Ao pôr-do-sol, a                             milhas, mas só na manhã do dia 4 atracámos
         bordo do “Vega”, depois do primeiro treino                            na marina do porto de Santa Cruz de
         de manobra de velas, já a pescaria era gran-                          Tenerife.
         de. Os anzóis acabados de comprar tinham                                Na manhã do dia 7, o dia da largada, o
         feito as primeiras “vítimas”. Alguns tunídeos,                        vento soprava forte de NE, o que fazia prever
         potras e mesmo um “familiar” de peixe espa-                           uma largada à bolina e talvez um pouco mo-
         da preto enchiam o balde. No “Polar” a pes-                           lhada. Assim foi à saída dos molhes, mas já
         caria foi ainda mais farta.                                           perto da largada o vento foi caindo …
           A viagem continuou com vento fraco, sol e                             Dos 36 veleiros participantes em todas as
         treino de vela. Alguns cadetes com mão de                             classes, o “Vega” e o “Polar” eram sem dúvi-
         cozinheiro preparavam as refeições, sempre                            da os mais bonitos, mas após a largada, os
         fartas, pois o ar do mar abre o apetite (!…) e                        veleiros mais velozes marcaram a diferença.
         a “formiga branca” não perdoa.                                          As perspectivas para a regata eram muito
           Na manhã do dia 2 de Setembro os navios                             diferentes. O “Vega” mais competitivo, o
         largaram ferro na Baía das Cagarras na Selva-  Uma cagarra juvenil fora do ninho.  “Polar” mais lento e a forçar um rumo mais
         gem Grande.                                                           aberto.
           Na Ilha percorremos os caminhos íngremes e de pedra solta, vimos  Face às condições meteorológicas, foi uma regata com pouca
         coelhos, lagartixas, muitas cagarras, a maioria juvenis ainda nos ni-  história. Para o “Vega” as condições apenas se alteraram à chegada
         nhos, por vezes enterradas na pouca areia. Vale a pena acrescentar  ao Funchal, onde em 15 minutos se içou e arriou o balão e trocaram
         que alguns cadetes ao ouvirem falar das cagarras, mostraram um sor-  as genoas. Nessa altura o “Polar” navegava a 3 nós, mas atendendo à
         riso ao canto da boca, pois a conversa soara a “gambuzino” voador.  sua qualidade de veleiro da classe M, fez o que os outros partici-
         Ficaram pois incrédulos quando lhes dissemos para irem ver os ni-  pantes já tinham feito, “cerrou” a bolina com a ajuda da máquina.
         nhos. Neste caso a dúvida durou pouco tempo. Bem perto da casa do  O “Vega” fez a regata em 45h 28´ e o “Polar” em 64h 30´. O 1º
         guarda lá estavam uns bicos grandes envoltos em penugem.  veleiro a chegar, o protótipo espanhol “Canárias”, passou a linha de
           O banho, logo na enseada do pequeno cais de desembarque, foi  chegada na madrugada do dia 9, ou seja, menos 6 horas que o
         um verdadeiro mergulho num oceanário vivo. A água calma, transpa-  “Vega”.
         rente e tépida, deixava ver toda a fauna marinha e não foi a moreia  Ficava assim completada mais uma regata oceânica em que partici-
                                                              param os veleiros da Escola Naval.
                                                               No jantar de entrega de prémios, o Secretário Regional do Turismo
                                                              e Desportos, referiu-se aos veleiros da Marinha, agradecendo a sua
                                                              presença e fazendo votos para que o “Vega” continue a ser presença
                                                              nesta regata de que já foi vencedor, e o “Polar”, que pela primeira vez
                                                              visitava o Funchal, também se torne visitante assíduo.
                                                               Na viagem de regresso, que durou 5 dias para ambos os veleiros,
                                                              ainda que com a “ajuda” da máquina, o vento soprou ponteiro,
                                                              atingindo 25 nós. Na tarde do dia 16, os navios atracaram na BNL.
                                                              Na 2ª feira recomeçavam as aulas e mais um ano lectivo.
                                                               Para os cadetes foi uma magnífica experiência, onde foi possível
                                                              conciliar o treino com o lazer, ou não estivessem em férias escolares.


                                                                   A Escola Naval está disponível em: www.escolanaval.pt

         26 MARÇO 2000 • REVISTA DA ARMADA
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