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ACADEMIA DE MARINHA
“BOCAGE - POETA E MARINHEIRO. O HOMEM E A SUA ÉPOCA”
Realizou-se no passado dia 13 de Janeiro, no auditório da Acade- três anos, e os seus feitos heróicos e as suas aventuras amorosas, que
mia de Marinha, a primeira Sessão Cultural do ano 2000, tendo o o obrigaram a fugir para Macau, onde ainda se demorou entre cinco
Contra-Almirante Médico Naval Félix António, seu membro efectivo a seis meses, até regressar a Portugal, aonde chegou já em 1790.
e ex-director da Revista da Armada, apresentado uma comunicação Respigando por vezes excertos dos seus poemas mais significa-
subordinada ao título “BOCAGE – poeta e marinheiro. O Homem e tivos, tanto no amor e na amizade, como na sátira e no burlesco, o
a sua Época”. orador falou em seguida detalhadamente sobre a vida do vate sadino
Começando por justificar a escolha do tema, frizou que Bocage, na Nova Arcádia, com as suas polémicas, e invejas e intrigas dos
durante mais de cinco anos, também integrou a nossa Marinha, refe- árcades, e nos Botequins, em que se sentia muito mais à-vontade,
rindo, ainda, que nestes tempos que vão correndo, em que, por co- com os seus amigos, poetas e boémios, até à sua prisão, por ordem
modismo, egoísmo, ambição ou do Intendente Pina Manique,
vaidade, se alienam os mais na cadeia do Limoeiro, por
inquestionáveis valores morais e “papéis ímpios e sediciosos”,
se postergam os mais inde- com posterior transferência
clináveis direitos humanos, para os cárceres da Inquisição,
ainda que consignados numa para o Mosteiro de S. Bento da
Declaração Universal com mais Saúde e, finalmente, para o
de meio século, mas até agora Hospício das Necessidades, só
nunca cumprida na sua pleni- tendo sido libertado após cerca
tude.... nada mais oportuno do de um ano de reclusão.
que rememorar Bocage, que, se A parte final da comunicação
agora por cá andasse, saberia, do Contra-Almirante Félix
com a sua extraordinária veia António foi dedicada à doença
poética e o seu vigoroso sentido de Bocage, um aneurisma da
satírico, como o fez de maneira exímia na sua época, desmascarar, aorta, à sua morte e à sua sepultura, com algumas achegas pessoais
em versos acutilantes, ainda que por vezes salutarmente brejeiros, a decorrentes do trabalho de investigação a que procedeu, terminando
inépcia e a idiotia, a impostura e a mesquinhez, a mentira e a assim:
hipocrisia, a arrogância e a malvadez, a corrupção e a aleivosia, a Mas, porque além de poeta sublime e talentoso, foi homem verti-
depravação e a desfaçatez.... cal e caridoso, revolucionário arrojado e generoso, amante atrevido
Depois de indicar as suas principais fontes bibliográficas, citando, e vigoroso, e marinheiro aguerrido e aventuroso, sentimentos tão
a propósito, vinte dos autores mais conhecidos, falou detalhada- caros a quem, como nós, algum dia teve a honra de envergar a farda
mente sobre o seu local de nascimento, em Setúbal, e a respectiva do botão de âncora.... permitam-me que aqui deixe uma sugestão:
árvore genealógica, referindo-se aos seus ascendentes que mais o Que a Marinha o homenageie no seu seio, perpetuando sua
devem ter influenciado no sentido da sua vida de poeta e também, memória e mostrando aos vindouros a egrégia figura do seu mari-
embora fugaz, de marinheiro. Em seguida, fazendo uma descrição nheiro-poeta, aproveitando um dos próximos aniversários do seu
crítica do ambiente social, cultural, político e religioso da época do nascimento, parecendo-me que não ficaria nada mal, para o efeito,
seu nascimento, da sua infância e da sua juventude, o conferencista um busto do insigne vate, lá em baixo, no átrio de entrada para esta
narrou vários aspectos da sua vida de estudante e de boémio, desi- Academia, instituição que é o mais fiel depositário do valioso
gnadamente na Academia Real dos Guardas-Marinhas e no património cultural da nossa Corporação, a que tem direito a estar
Botequim do Nicola, em Lisboa, referindo-se a alguns dos seus ligado, perenemente, o excelso poeta Bocage, lídimo paladino do
primeiros poemas. inconformismo e da liberdade, e uma das grandes figuras humanistas
Após ter mencionado a nomeação de Bocage como guarda-mari- e literárias das Idades Moderna e Contemporânea no nosso País.
nha, por carta patente de 4 de Fevereiro de 1786 da rainha D. Maria
I, o Contra-Almirante Félix António relatou pormenorizadamente a Nota:
viagem do poeta até à Índia Portuguesa, onde permaneceu cerca de Resumo de uma comunicação do CALM MN Félix António.
Exposição de Pintura
Exposição de Pintura
o próximo dia 1 de Março serão inauguradas na
Academia de Marinha duas exposições de pintura do
NArquitecto Telmo Gomes, subordinadas aos temas
“Portugal no Mar – Recordações de Navios que ajudaram a
fazer História” e “Os Navios de Cabral e a Marinha Histórica
do Brasil”.
Esta exposição estará patente ao público até ao dia 24 de
Março.
De salientar, que esta mesma exposição será apresentada no
dia 28 de Abril no Espaço Cultural da Marinha, no Rio de
Janeiro, por ocasião das Comemorações dos 500 anos do
Descobrimento do Brasil apoiada pelo Ministério da Marinha
do Brasil e o patrocínio directo do Almirante Max Justo
Guedes.
REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2000 25