Page 115 - Revista da Armada
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O Almirante Manuel Pereira Crespo
            O Almirante Manuel Pereira Crespo


                             e a Revista da Armada
                             e a Revista da Armada





         O Ministro da Marinha, Almirante Pereira Crespo sempre
         tivera em mente a existência dum órgão escrito que fortalecesse
         o espírito de corpo, estimulasse a camaradagem dos homens
         da Armada, com histórias, episódios navais, um misto
         de recordações e memórias vividas no mar e em terra,
         também um pouco de notícias, passatempos, entretenimento
         escrito, contos e narrativas navais, etc.
         A Revista da Armada ao evocar a memória do Almirante
         Pereira Crespo, decidiu conversar com alguns dos ainda vivos
         que formaram um grupo que começou a estudar as várias
         formas de dar corpo a esta ideia depois da concordância
         do Ministro e do caso ter sido levantado no seu Gabinete.
         Assim a R. A. vai entabular uma conversa, à guisa de
         entrevista, com o Comandante Smith Elpídio (SE), na altura
         fazendo parte do Gabinete do Ministro da Marinha e o
         Comandante Sousa Machado (SM) na altura 2º Comandante
         do Comando da Defesa Marítima do Porto de Lisboa.


         R. A.: Como surgiu a constituição deste Grupo de Oficiais para  tivada avançada relativamente à época. O Ministro fazia certas afir-
         pôr a ideia da RA em marcha?                         mações acerca do projecto da revista e as pessoas rebatiam, mas isso
                                                              não lhe tirava de maneira nenhuma o desejo, nem a vontade de
         S. M.: Começou com algumas conversas e troca de impressões  fazer o que tinha em mente. O Ministro tinha a certeza absoluta de
         junto à Casa da Balança e à bica de S. Miguel, em que entraram o  que a Marinha era capaz de fazer uma coisa desta natureza e que era
         capelão, Padre Cabeçadas, nós os dois aqui presentes, e mais tarde  capaz de a manter, enquanto muitas pessoas lhe diziam que era
         o Comte Chuquere da Cunha, em representação do EMA e o  impossível a sua feitura e depois a sua continuidade no tempo seria
         Comte Oliveira Lemos, da Escola Naval. Um grupo informal, sem  posta em causa, pois teria uma vida efémera. Isto depois até se
         ideia de hierarquia, mas com grande entusiasmo e determinação.   poderá constatar nos aniversários da Revista, naquelas comemo-
                                                              rações mais marcantes, nas iniciais, o Almirante Malheiro do Vale,
         S. E.: O Almirante Crespo há muito tempo que alimentava a ideia  fazia ressaltar o facto de  que, para além dos “Velhos do Restelo”
         de fazer surgir na nossa Marinha um órgão escrito, tipo Revista,  que diziam que nós não éramos capazes de fazer e manter uma re-
         talvez influenciado pela “Cols Bleus” da Marinha Francesa, com  vista, a “nossa revista” afinal tinha sido e continua a ser um sucesso.
         aquele formato e composição gráfica, sem publicidade.  Bem, em resumo, esta era a ideia inicial do Ministro, estas foram
                                                              algumas das diligências feitas, e depois a determinada altura a ideia
         S. M.: As conversas com o Ministro, que eram sempre muito infor-  sedimentou.
         mais e fora das horas de serviço, tiveram o auxílio precioso do  Foi então constituído o tal Grupo “ad-hoc” e então, a certa altura,
         Capelão  Cabeçadas, que também muitas vezes em conversa co-  o Ministro disse-me: “Já tenho Director para a Revista”. É o
         migo abordava o tema da criação duma Revista. Um dia o capelão  Almirante Malheiro do Vale”. E eu respondi-lhe: “Não é para me
         foi ao Gabinete, expor a ideia, e no dia seguinte disse-me: “Olha,  gabar, mas já tinha pensado também nessa personalidade, porque
         isto vai mesmo para a frente, vamos fazer uma Revista, o Ministro  conhecia bem os seus escritos, ele na altura estava em Macau a
         gostou da ideia e deu luz verde”.                    comandar o “Gonçalves Zarco”, a acabar a comissão, e fazia aque-
                                                              les belos relatos e postais de Macau.
         S. E.: Voltando um pouco atrás, eu corroboro as informações do  Agora, também já não me recordo bem, mas parece-me que o Mi-
         Comte Sousa Machado, e efectivamente foi mesmo assim. O  nistro teria dito que gostava que houvesse alguém do Estado-Maior e
         Ministro tinha como objectivo realmente fazer uma revista ou um  aí foi indicado o Comandante Chuquere da Cunha, a que mais tarde
         jornal, e mostrava grande empenho nisso e falava nesse assunto  se juntou o Comandante Oliveira Lemos e depois mais tarde ainda o
         com diversas pessoas já  aqui mencionadas, e havia ainda outra pes-  Comandante Junça, mas este numa passagem temporal mais curta.
         soa com quem ele falava muito nisso, que era o Comandante  Parece-me que a génese da revista passou por este grupo aqui citado.
         Alpoim Calvão. Sei que havia muitos detractores desta ideia, que o
         desiludiam, dizendo que isto não ia dar nada, que não havia  S. M.: Não há dúvida nenhuma que tudo culmina no mesmo
         ninguém interessado, mas o Ministro tinha os seus pontos de vista,  ponto, a grande determinação do Almirante Crespo em por de pé
         que eram participados por nós, e pensava que era possível fazer  esta ideia duma Revista e para mim é a sua persistência e dum
         uma coisa jeitosa em bons termos, e como era uma pessoa determi-  golpe de asa, não olhando aos maus presságios e aos detractores,
         nada tinha uma maneira de ver os assuntos de uma forma perspec-  que ele lá ia ouvindo aquelas coisas, sempre com a sua ideia fixa.   ✎
                                                                                         REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2000  5
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