Page 117 - Revista da Armada
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vistas militares congéneres. Começamos a ver que estávamos a ser  S. M.: Eu também gostaria de acrescentar que à medida que as
         ultrapassados. Aí passamos a uma melhoria da qualidade do papel, à  colaborações iam surgindo, isso despertava nos outros uma certa
         introdução de mais cores, pois os primeiros números eram a preto e  motivação ou emulação.
         branco, excepto a capa e contracapa.
                                                              R.A.: E como é que o Almirante Crespo ia acompanhando todo
         R. A.: Depois da já falada visita ao Jornal do Exército, havia  este desenvolvimento da Revista.
         alguma ideia sobre como se arranjaria o suporte humano, redac-
         ção, colaboradores, etc.? Isto é, para além da concepção havia  S. M.: Bem, nós íamos falando, ele gostava do modo como as
         alguma ideia sobre quem faria a montagem e o delinear do  coisas iam evoluindo positivamente. Estava visivelmente satisfeito
         aspecto gráfico, etc.?                               com a obra realizada e deu sempre a sua concordância quer quanto
                                                              à concepção, quer quanto à sua estrutura de desenvolvimento.
         S. E.: Bem, nós tínhamos a sensação de que a Revista com a missão
         que lhe tinha sido atribuída, foi fundada para não ser mais daquilo  S. E. Começaram também a aparecer artigos pessoais com maior
         que ela é, ou seja, foi definido logo desde o início que ficávamos  peso e densidade de conhecimentos dos autores que eram do agra-
         pela concepção, feitura dos artigos pelos colaboradores e nunca  do do Director, mas às vezes saíam um pouco do âmbito da Revista
         houve intenção de irmos mais além, pelas dificuldades próprias da  pelo seu conteúdo, demasiado pesado para as praças e daí alguns
         Marinha. Se bem que, com a vontade forte do Director iam apare-  não foram publicados. Não podíamos fugir ao objectivo inicial da
         cendo colaboradores em resultado da sua estreita ligação a diversos  Revista.
         camaradas, mas ficando sempre nesse patamar. A certa altura o  Podemos dizer que inicialmente a Revista era tecnicamente ori-
         Director começou a pensar em pedir colaboração a outras enti-  entada pelo Sr. Hernani Lopes, que era um maquetista oriundo da
         dades como Organismos, Unidades Navais e em terra, Escolas,  formação da Escola António Arroio e que trabalhava na altura na
         Capitanias, Etc., e em resultado disso as coisas começavam a correr  Bertrand e Irmãos. Ele ajudou-nos imenso na orientação gráfica e
         melhor, a fluir mais colaboração dessas unidades e organismos,  até mesmo depois, nos primeiros tempos, em que a revista era feita
         mas sempre com muita insistência da nossa parte.     no Instituto Hidrográfico.


           Pareceu importante que a R.A. auscultasse opiniões e trocasse  reunião no Gabinete, em que estavam presentes o Comandante
         impressões com o Sr. Hernani Lopes já citado. Efectivamente, a  Elpídio, o Sr. Comodoro Malheiro do Vale, diversos colaboradores
         Bertrand e Irmãos, que já se tinha ocupado de diversos traba-  como o Comandante Sousa Machado, o Capelão Cabeçadas, etc.
         lhos gráficos para a Marinha, foi a empresa encarregada da exe-  Essa pequena reunião foi realizada para me transmitir o que se
         cução da R.A., na qual o Sr.                                                      pretendia e para indicar
         Hernâni Lopes (HL) de-                                                            como é que a Marinha se
         sempenhou um papel de                                                             devia apetrechar do ponto
         orientação e coordenação                                                          de vista técnico para se exe-
         deveras importante.                                                               cutar a Revista.
                                                                                             Fui então informado do
         R.A.: Diga-nos Sr. Hernani                                                        principal conteúdo temático
         Lopes como é que surgiu a                                                         da revista, do tipo de sec-
         sua intervenção neste pro-                                                        ções, artigos ou reportagens
         cesso da feitura da R. A.                                                         a incluir, em suma, como
                                                                                           montar um esquema orgâ-
         H.L.: Bem, a Bertrand e                                                           nico para a sua estrutura. Eu
         Irmãos já tinha prestigio ao                                                      propus o seguinte: a existên-
         nível nacional e mesmo a                                                          cia duma secretaria que pe-
         Marinha a tinha encarrega-                                                        gasse nos textos dos diver-
         do da execução de diversos                                                        sos colaboradores e os dacti-
         trabalhos. Se repararem                                                           lografasse; esse trabalho
         bem, nas notas técnicas da                                                        passou a ser dirigido pelo
         R. A., desde o primeiro número que aparece o meu nome na orien-  Sargento Horta. Depois para a montagem eu intervinha opinando
         tação gráfica. Até ao nº 30, na IMPRIMARTE, Publicações e Artes  sobre a paginação a duas, três ou quatro colunas, quantos carac-
         Gráficas, que foi a empresa que sucedeu à Bertrand e Irmãos, e que  teres seriam necessários para fazer a página, etc.
         depois mudou a designação para LISGRÁFICA (até ao nº. 75 da
         RA), e só então se passou a execução para o Instituto Hidrográfico  R.A.: Explique agora, para além da génese da Revista que acaba
         em Janeiro de 1978 e que se manteve até Junho de 1992.    de descrever, que contactos teve com o Gabinete e especialmente
                                                              com o Ministro.
         R. A.: Relate-nos agora como se deu a sua intervenção nesta fase
         inicial do arranque da Revista.                      H.L.: Depois desta primeira reunião fui executar uma "maquette"
                                                              que depois fui apresentar ao Gabinete na pessoa do Sr.
         H. L.: Eu era na altura o chefe do departamento de desenho da  Comandante Elpídio. Fui então levado à presença do Senhor
         Bertrand e Irmãos, empresa com larga experiência no campo da  Almirante Pereira Crespo, que no momento da minha apresen-
         indústria gráfica, e como a Marinha tinha nela grande confiança,  tação, me deixou um pouco atrapalhado, porque se me dirigiu
         mercê de muitos trabalhos já executados, o Gabinete do Ministro,  tratando-me por "Vossa Excelência", e eu era um jovem, e nunca
         através do Sr. Comandante Elpídio, dirigiu-se-nos no sentido de  ninguém na vida me tinha tratado assim, fiquei surpreendido.
         podermos vir a estruturar e projectar uma Revista que obedecesse  Nunca mais me esqueci desse facto.
         aos critérios julgados convenientes para a Marinha. Assim, surgiu a  Bem, eu já tinha feito uma primeira apresentação da "maquette"
         definição do número de páginas, a preto e branco ou com mais  no Gabinete, na presença do futuro Director da Revista, o Comodoro
         duas cores, bem como a capa e contra-capa a cores , etc. diversos  Malheiro do Vale. Assim, esta minha explicação da "maquette" ao Se-
         pormenores de execução. Foi assim necessário executar o esqueleto  nhor Ministro, lograva já da primeira aprovação dos elementos e co-
         ou seja a estrutura gráfica da Revista e aí fui chamado a uma  laboradores da R.A.. Eu estava ali na qualidade de autor do projecto.  ✎
                                                                                         REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2000  7
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