Page 118 - Revista da Armada
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R.A.: E porque é que havia a necessidade dessa "maquette" ser
aprovada pelo Ministro?
H.L.: Bem, o Senhor Almirante Crespo, que anteviu e pôs em mar-
cha o processo da criação da R.A., estava altamente interessado em
ver como é que o projecto se iria concretizar. Ele tivera a ideia e sou-
bera transmiti-la aos seus colaboradores, a ideia começou a ganhar
forma e agora era chegado o momento de ver os resultados. Ele, no
fundo, quis ver graficamente como é que aquilo aparecia e se a seus
olhos as ideias se concretizavam na prática. A Revista ficou só a
duas cores, era o preto e outra cor, só a capa é que era a quatro
cores. Eu aí tentei mostrar ao Senhor Ministro o que seria melhor,
no aspecto gráfico, mas ele aí foi inflexível, tinha que ser assim não
havia mais disponibilidade financeira.
R.A.: E conte-nos lá, como encarou o Ministro esta troca de
impressões? Arte final do primeiro cabeçalho da “Revista da Armada” com indicações técnicas
Conseguirá só com estes contactos dar-nos uma imagem pessoal para a gráfica.
da sua figura?
Constatei que o Ministro se considerava em relação à Revista da
H.L.: Pareceu-me que o Senhor Ministro tinha com a sua visão acer- Armada como se diz "o pai da criança", sendo o Comodoro
tado em tudo no objectivo que tinha traçado para a feitura da Malheiro do Vale, o fiel da balança, principalmente quanto aos
Revista. Agradou-se da parte estética, se bem que depois houve temas e conteúdos de artigos que poderiam perigar ou ferir quais-
sempre pequenas alterações, ajustamentos e melhorias, mas o quer susceptibilidades na época.
Senhor Almirante mostrou-se sempre muito dialogante, com uma
conversa afável e interessante. Houve ainda outros encontros, em R.A.: Considera pois que o Ministro colocou sempre em primeiro
que a ponte era feita pelo Comandante Elpídio. lugar a missão da Revista?
Eu depois deixei a Bertrand e Irmãos e comecei a trabalhar como
"free-lancer" e aí, já com a Revista a ser executada nas oficinas gráfi- H.L.: Sim, eu acho que ele pretendia com a Revista, para além da
cas do Instituto Hidrográfico, passei a maquetar, paginar e corrigir informação e divulgação das actividades da Marinha, desenvolver
textos em casa. Passei assim a fazer o mesmo trabalho para a o espírito de corpo, a camaradagem e estreitar os laços dos elemen-
Bertrand e Irmãos, funcionando como "free-lancer", e aí até tive ou- tos da Corporação, salientando sempre a componente humana da
tros contactos com o Ministro, na execução de livros encomenda- Marinha e na realidade, a ideia básica manteve-se até hoje na
dos pelo Gabinete, como os livros "100 Anos de Vida no Mar", etc. mesma linha de actuação.