Page 116 - Revista da Armada
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ficar encarregado de fazer artigos e escrever
sobre este ou aquele tema e assim cada um
lançou a ideia de escrever da sua lavra sobre as
diversas rúbricas do que iria constituir a Revista.
O diverso material fotográfico e de desenho era
trazido e angariado por cada um de nós.
Entretanto vem a notícia, já referida pelo
Comandante Elpidio, de que já tínhamos um
Director, com quem depois conversámos diver-
sas vezes para chegarmos a uma linha editorial
indispensável à feitura da Revista.
O Director começou então a comandar as ope-
rações, nesta base de que cada um seria res-
ponsável por uma dada rúbrica e oferecia todo o
material de texto, fotografias, desenhos, etc.
R. A.: E o Almirante Crespo já tinha alguma
ideia de como iria sair a Revista?
S. M.: O Comandante Elpídio era quem mais
S. E.: A certa altura disse, “Bem estamos prontos, vamos avançar”. dialogava com o Ministro e ia expondo as nossas ideias, ao encon-
tro daquilo que o Ministro desejava, sempre com as directivas
S. M.: Também convém aqui falar numa pessoa que ainda não foi genéricas de que a Revista não se pronunciaria sobre assuntos de
mencionada, mas que ajudou muito nesta fase, muito amigo do Al- política, religião, ou outros que sirvam de palco para discussões ou
mirante Crespo, mesmo sem ter escrito para a Revista, avançou questões dentro da instituição militar.
com uma coisa que mais ninguém fez. Ou seja o dinheiro, as verbas
indispensáveis para avançar com o projecto, o Comandante Jacinto S. E.: Acentuou o Ministro que a Revista era dirigida essencial-
Pereira, Director da Fábrica Nacional de Cordoaria, responsável pe- mente às praças, e isto é fundamental, e deverá ser lida com agrado
los Supermercados de Marinha, e grande amigo do Ministro. Na al- pelos oficiais e sargentos e pessoal civil, com temas actuais da
tura, a Cordoaria já dispunha dos supermercados e então o Minis- Marinha, episódios e histórias de tradição naval, efemérides ligadas
tro pôs o problema no sentido de ser estudada a hipótese de canali- à Marinha, etc. O Ministro punha também uma ênfase importante
zar disponibilidade de verbas dos supermercados para o apoio do na informação, tomadas de posse, condecorações, passagens à
lançamento da Revista. Assim foi acordado que através duns anún- reserva ou reforma e uma rúbrica "Saibam todos" de caracter geral
cios de publicidade na Revista se arranjariam verbas disponíveis. e que ainda hoje se mantem.
R. A.: Então quais foram as principais dificuldades que enfrenta- R. A.: Na verdade muitas das "rúbricas" iniciais de informação e
ram ao nível logístico / financeiro? notícias, convívios, etc. ainda hoje se mantêm com grande actuali-
dade para a Corporação. Julgo que inicialmente a Revista tam-
S. E.: Pois bem, conforme foi dito, com a anuência do Director da bém se preocupava bastante com o aspecto cultural.
Fábrica Nacional de Cordoaria, seria possível arranjar disponibili-
dade financeira, com anúncios comerciais publicados na Revista. S. E.: Tinha sim, por um lado, mas também a actividade da Marinha
Os primeiros números apareceram com publicidade suportada era bastante acentuada e estava virada, não tanto para dentro da
pela Fábrica Nacional de Cordoaria. Marinha, mas para aqueles que tendo sido da Marinha tinham pas-
sado à disponibilidade ou à reforma, mas continuavam a ela ligados
S. M.: Aqui ainda há um pequeno pormenor a acrescentar a isto, por fortes laços de amizade e camaradagem. Assim todos esses, em
que é a ideia do Ministro que a Revista não deveria de ter publici- pontos longínquos do país, iam tendo conhecimento do que cá den-
dade, mas por necessidades financeiras teve mesmo que ser assim. tro se passava.
S. E.: Isso mesmo, independentemente de o Gabinete do Ministro R. A.: E quanto ao aspec-
ter posto à disposição da Revista, após a sua criação, uma verba to gráfico dos primeiros
destinada a apoio financeiro. Depois, nos anos seguintes, creio números da Revista, co-
mesmo que passou a fazer parte do orçamento do Gabinete do mo é que o Almirante
Ministro, do qual a Revista dependia, uma verba incluída numa Crespo reagiu sob o pon-
rúbrica orçamental para apoio à Revista da Armada. to de vista estético e de
apresentação e concep-
R. A.: Com a constituição da tal equipa “ah-doc” para a feitura da ção gráfica da Revista.
Revista como é que se processou o andamento para avançar a par-
tir daí? S. E.: O Ministro gostou
bastante, se bem que a
S. M.: Antes ainda de se falar no nome do Almirante Malheiro do qualidade do papel não
Vale para Director da Revista, nós ficamos a olhar uns para os ou- era a melhor, mas isso era
tros e a interrogarmo-nos como é que havíamos de lançar mãos à o que menos interessava,
obra. Ora bem, na altura já existia o “Jornal do Exército” e então, pois o conteúdo era o
depois de diversos contactos, combinámos ir lá fazer uma visita principal. No entanto, a
para ver como seria a sua feitura. Fomos muito bem recebidos, visi- revista foi melhorando e
támos as instalações, e vimos que aquilo já tinha uma organização e só mais tarde, passado
infra-estrutura montadas, com redacção, secretaria, etc., já com uma bastante tempo é que se
tiragem bastante grande. Depois de visitarmos tudo aquilo e trocar- começou a estabelecer
mos impressões, começamos a ver, por assuntos, quem é que devia comparação com as Re- Capa da primeira Revista da Armada.
6 ABRIL 2000 • REVISTA DA ARMADA