Page 196 - Revista da Armada
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ordinaria, alimentado debaixo d'agua o tendo o referido navio chegado a Portugal tanques de lastro e bombas de esgoto.
fogo das fornalhas por meio de ar com- em 1913. Uma possível explicação para Quanto ao controlo da profundidade, ele era
primido, ou empregando o vapor prove- esta situação poderá estar no facto de a conseguido usando um processo que não
niente de reservatorios contendo agua transição da Monarquia para a República teve continuidade, recorrendo a um hélice
sobre-aquecida, systema preconisado não ter acarretado grandes alterações em de eixo vertical. Não dispunha de órgãos de
por Nordenfeldt; termos de política naval. Os republicanos manobra em direcção.
4.º - Motores de vapor d'agua, empregando continuaram a demonstrar grande interesse Embora tenha sido concebido para fins bé-
só o vapor durante a navegação á super- pela renovação naval, mas os problemas fi- licos, as tentativas de o utilizar militarmente
ficie, e o vapor misturado com ar com- nanceiros permaneciam. Apesar disso fo- acabaram por fracassar. Foi utilizado para
primido, quando o navio se acha sub- ram construídas algumas unidades comba- tentar afundar um navio inglês fundeado
merso; tentes de pequena tonelagem: contrator- frente a Nova Iorque, durante a Guerra da In-
5.º - Motores de vapor d'agua quando a nave- pedeiros e mais três submersíveis. dependência dos EUA. Porém, a dificuldade
gação é á superficie e motores electricos Apresentadas que estão algumas das con- de manobrar a embarcação impediu que ti-
para a navegação submarina; dições que levaram à decisão de equipar a vesse conseguido fixar a carga explosiva no
6.º - Motores de petroleo, gazolina, alcool, nossa Armada com esta nova arma vamos casco do navio, embora se tivesse consegui-
etc., tanto para a navegação á superficie, passar um breve relance sobre os passos do aproximar discretamente do seu alvo.
como durante a immersão; mais importantes percorridos até se chegar
7.º - Motores de petroleo para a navegação a plataformas submersíveis com valor ope- FULTON E OS SEUS DOIS
ordinaria, á superficie das aguas, e mo- racional. NAUTILUS
tores electricos durante a navegação
submarina. EVOLUÇÃO DO SUBMARINO O segundo submarino considerado nesta
De um interessante estudo feito por Mr. breve cronologia também foi concebido por
D'Équevilley, sobre as vantagens e inconve- A ideia de utilizar a navegação em imersão um americano, Fulton. No entanto, os seus
nientes dos differentes systemas de motores como uma forma de conseguir uma aproxi- Nautilus, uma vez que apresentou dois navios,
empregados na navegação submarina, mação discreta e daí obter vantagens tácticas foram propostos para ser utilizados em França,
tiramos a seguinte comparação dos raios de será bastante antiga. Apesar de existirem quando este país se encontrava em guerra
acção que deveria ter certo barco submarino, referências anteriores a projectos e inclusiva- com a Inglaterra, nos finais do século XVIII.
empregando qualquer dos systemas indica- mente algumas tentativas práticas de navegar O primeiro navio de Fulton tinha casco de
dos para ter a mesma velocidade: em imersão, iniciaremos esta narrativa nos madeira e a propulsão em imersão também
1.º - Electricidade, 125 milhas; finais do século XVIII. Convém também es- era conseguida à custa da força-motriz dos
2.º - Ar comprimido, 16 milhas; clarecer que não se pretende fazer uma enu- tripulantes. Possuía já um leme de governo e
3.º - Vapor sómente, 12.000 milhas; meração exaustiva. Muitas das tentativas de o controlo da profundidade era efectuado
4.º - Vapor e ar comprimido, idem; navegar em imersão não serão aqui aborda- através de lemes horizontais. Este processo
5.º - Vapor e electricidade, 7.000 milhas; das. Escolheram-se apenas alguns casos para- manteve-se até hoje. Contudo, na época
6.º - Petroleo, gazolina, alcool, etc., 15.000 digmáticos, que se destacaram pelas inova- seria pouco eficaz dadas as reduzidas veloci-
milhas; ções introduzidas ou pelos resultados conse- dades praticadas. O seu armamento era cons-
7.º - Petroleo e electricidade, 11.000 milhas. guidos. tituído por uma carga explosiva que o sub-
Por este pequeno quadro comparativo se marino fixava no casco do inimigo e fazia-a
vê que o maior raio de acção é o propor- A TARTARUGA DE BUSHNELL explodir recorrendo a um cabo, para garantir
cionado pelo emprego dos motores a pe- a sua própria distância de segurança.
troleo, e sendo o motor electrico o que O primeiro veículo submarino que se Uma característica bastante importante
mais facilmente se accommoda ás necessi- apresenta foi construído pelo americano deste navio era o seu comportamento como
dades da navegação submarina, ninguém Bushnell, em 1776, e foi baptizado de Turtle. submersível, ao possuir dois sistemas propul-
duvidará de que um systema mixto, de pe- E começamos por ele por ter sido concebido sores. À superfície usava uma vela envergada
troleo e electricidade, será o que mais con- para utilização militar, estando equipado num mastro que se podia abater, podendo
vem aos submarinos de qualquer typo que com uma mina de casco. Era tripulado por deste modo efectuar trânsitos relativamente
sejam. De facto é esse o systema motor ho- um único elemento cuja força muscular era a extensos. Em imersão usava somente a ener-
je mais aconselhado para os submarinos, força motriz que assegurava a manobra. gia muscular, o que apenas lhe permitia per-
seja qual fôr o grupo a que pertençam, em- Apresentava já algumas características que se correr curtas distâncias.
bora ainda alguns como o Narval usem o mantiveram nos submersíveis posteriores: O Nautilus II diferia do anterior nalguns
vapor e a electricidade. aspectos. O casco era em aço e a respiração
O systema preconisado por Nordenfeldt no interior era conseguida consumindo ar
acha-se hoje abandonado por ser de muito comprimido armazenado, enquanto que no
difficil adaptação nos barcos submarinos. primeiro se recorria a um tubo que vinha até
Os barcos francezes do typo Lutin em- à superfície.
pregam um motor mixto de petroleo e Os dois navios foram experimentados pe-
electricidade;os do typo Morse teem um rante comissões de avaliação. No entanto, os
motor exclusivamente electrico; o Narval, resultados obtidos não convenceram os
como acabamos de dizer, usa um motor franceses, tendo os projectos sido abandona-
mixto de vapor e electricidade; e o Holland dos. O período de «paz» que se seguiu às
tem um motor mixto de gazolina e electri- Guerras Napoleónicas levou a que estes in-
cidade, que é rejeitado e deve ser comple- ventos fossem esquecidos.
tamente banido dos submarinos, por ser de Nos primeiros anos da segunda metade do
um manuseamento excessivamente pe- século XIX foi construído pelo bávaro Bauer
rigoso." um submarino cuja força motriz continuava
Embora a encomenda do nosso primeiro a ser a energia muscular dos tripulantes.
submersível tenha sido feita nos derradeiros O sargento Lee, aos comandos da Tartaruga de Bushnell, Merece destaque neste apontamento o siste-
momentos da Monarquia, em 17 de Junho levou a efeito o primeiro ataque dum submarino a um ma utilizado para alteração da cota. Após en-
de 1910, ela foi mantida pelo novo regime, navio de superfície (Agosto de 1776). trada em imersão pelo alagamento dos tan-
14 JUNHO 2000 • REVISTA DA ARMADA