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neiras para a fiscalização, tanto na Metrópole opinião do almirante Morais e Sousa (que
como nas Colónias (2). havia chefiado a comissão técnica que em
A opinião do articulista citado seria decer- 1905 avaliou o projecto do primeiro-tenente
to partilhada por diversos outros elementos Valente da Cruz), como reconhece o próprio
que se preocupavam com a reorganização almirante Azevedo Coutinho nas sua "Me-
naval portuguesa. Nestas condições é fácil mórias", e nos conta Maurício de Oliveira na
entender o papel que o submersível poderia sua obra "Os Submarinos na Marinha Portu-
assumir numa Marinha de recursos reduzidos guesa":
mas que tentava sair da situação de decadên- "Devo dizer aqui que foi com o seu con-
cia em que se encontrava há longos anos. selho autorizadíssimo (o do almirante Morais
Numa Marinha que não poderia aspirar a e Sousa) e devido ao seu estudo conscien-
possuir grandes unidades de linha, o submer- cioso e completo que, em Junho de 1910,
sível poderia servir como elemento dissuasor sendo eu ministro da Marinha, se fez a enco-
caso alguma potência tentasse impor pela menda à Itália do primeiro submersível que a
força naval um determinado ponto de vista. Marinha Portuguesa possuiu – o "Espadarte".
A Liga Naval Portuguesa, e especialmente Embora eu não deixe de ter um certo
o seu «fundador» António Alves Pereira de desvanecimento em poder reclamar a honra
Matos, desenvolveram diversos estudos sobre de ter contribuído para ser feita essa aquisi-
a decadência das nossas marinhas, de guerra, ção, seria puerilmente pedante se não puses-
mercante, de pesca e de recreio, apresentan- -se bem em relevo que foi a alta conssidera-
do propostas fomentando o ressurgimento ção e confiança na opinião e nos estudos do
naval. Além dos diversos artigos da lavra de almirante Morais e Sousa e o seu conselho
sócios da referida liga merecem especial sempre seguro que me levaram a assinar o
destaque duas obras da autoria de Pereira de contrato para a construção do "Espadarte".
Matos: A Marinha de Guerra, publicada em um texto a defender a aquisição de meios Não terá também sido alheio aos factores
1897 e O Problema Naval Português de navais modestos, entre os quais se voltavam que ajudaram à decisão, o facto de entretan-
1910. Tanto num como noutro estudo são a incluir os submersíveis: to estar a despontar uma nova máquina de
apresentadas propostas concretas sobre qual Depois veio a chamada pequena esqua- combustão interna que parecia ser a solução
deverá ser a composição da nossa esquadra, dra. Abriu-se o concurso, viu-se que a verba que se procurava para a propulsão dos sub-
embora apenas a segunda considere que a de 5800 contos de réis era insuficiente. Mas marinos, problema este que maiores obstácu-
esquadra portuguesa deveria possuir sub- se com essa verba se não podiam adquirir los levantava ao seu desenvolvimento. Trata-
marinos. Tal não significa que no texto de todas as unidades d’essa força naval, algumas va-se do hoje familiar e vulgar motor Diesel,
1897 não se tenha abordado esta possibili- de valor militar quasi nullo, porque se não que Rudolf Christian Karl Diesel, célebre en-
dade. No entanto, os submarinos existentes adquirem os destroyers e os submersiveis, genheiro alemão, inventou e desenvolveu, e
na época ainda não possuíam valor militar que embora sejam bem pouco são contudo que apresentava reconhecidas vantagens so-
efectivo, razão pela qual ela apenas faz um alguma cousa (3). bre os motores até então usados, nomeada-
resumo da evolução do submarino até à De realçar que nesse mesmo ano chegou a mente melhor rendimento e combustível de
época e indica quais as características que Portugal o Espadarte. manuseamento muito mais seguro. Diesel
deve ter este tipo de navio para ser usado patenteou o seu invento em 1892 e desde lo-
como plataforma combatente. A ENCOMENDA DO 1º SUBMERSÍVEL go os principais construtores se apressaram a
É ainda digno de registo o trabalho desen- PORTUGUÊS desenvolvê-lo e a dar-lhe aplicações práticas,
volvido pelo primeiro-tenente Portugal Du- tendo em 1906 os engenheiros alemães con-
rão, no âmbito da Liga Naval, na elaboração Como se vem evidenciando, desde finais seguido adaptá-lo à propulsão submarina.
duma memória descritiva sobre a necessi- do século XIX que várias correntes tentavam Este problema da propulsão dos submari-
dade da aquisição dum submarino. Desse convencer o governo a equipar a nossa Mari- nos está bem ilustrado na obra do tenente
relatório, que foi entregue ao ministro da nha com este tipo de navios, quer pela aqui- Fontes Pereira de Mello sobre o seu submari-
Marinha, se transcreve: sição em estaleiros estrangeiros quer pela no. Nela se pode ler (4):
"... da alliança que necessitâmos, passá- apresentação de projectos nacionais para a "Uma das questões mais importantes do
mos à defeza que temos a garantir aos nossos construção de submersíveis. Na época estes problema dos submarinos é a que diz res-
cooperadores, encarou-se essa defeza pe- movimentos de opinião tinham grande in- peito á força motora, e póde talvez dizer-se
rante o estado financeiro do paíz, viu-se que fluência junto dos centros de decisão. Foi en- que é esta uma das partes do problema que
ella era necessaria e tinha que ser economi- tão decidido, quando geria a pasta da Mari- mais serias difficuldades tem apresentado.
ca; na parte maritima como armas acessiveis nha o Almirante João de Azevedo Coutinho,
ao thesouro, indicámos unicamente torpedei- encomendar o nosso primeiro submersível. Vários teem sido os systemas empregados,
ros e submarinos; para os tripular uns e ou- Para este desfecho muito terá contribuído a e os principaes são os seguintes:
tros, dissémos que só se 1.º - Motores electricos, tanto
poderia fazer com pessoal para a navegação á su-
habilitado e pratico, e para perficie como debaixo
essa pratica temos apenas a d'agua;
escola de torpedos com a sua 2.º- Motores de ar comprimi-
pequena flotilha de tor- do, tanto em navegação
pedeiros de instrução, mas á superficie das aguas
falta-lhe o submarino... como em navegação
É o que se pede, é o que se submarina;
deseja; ..." 3.º- Motores de vapor d’agua
No ano em que a Liga Na- d'agua, tanto á superficie
val Portuguesa desapareceu como debaixo d'agua,
(1913) devido a divergências empregando o vapor
internas, vemos surgir mais Um projecto português – 1889. O que seria o submarino Fontes a navegar em imersão. proveniente de caldeira ✎
REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2000 13