Page 197 - Revista da Armada
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ques de lastro usava-se um peso móvel para das. Existia ainda um
alterar o caimento. Conseguia-se deste modo hélice vertical com o
fazer o submarino manter a cota, no caso do mesmo objectivo, mas
caimento ser nulo, ou variá-la caso o cai- que também era inefi-
mento fosse AV ou AR. caz devido às di-
mensões do navio. Fi-
O IMPULSO FRANCÊS nalmente, o navio não
possuía sistema para
A partir do inicio da segunda metade do conhecer a direcção
século XIX os passos mais importantes para em imersão, o que o
chegar a um submarino com utilização ope- obrigava a aflorar cons-
racional foram realizados por franceses. Nes- tantemente à super-
te país que, ao longo da sua história, sempre fície para se poder ori- "Gymnote um maravilhoso pequeno submarino que, em 1888, estava na ponta
teve os portos bloqueados e a navegação entar. de tecnologia. Não tinha mais que 18 m de comprimento e 30 toneladas
costeira ameaçada pela forte marinha ingle- A inexistência na de deslocamento, mas era muito robusto tendo efectuado mais de mil imersões".
sa, foi grande o entusiasmo pela nova arma. época dum sistema
Poucos submarinos posicionados próximos eficaz para a propulsão dos submarinos foi Ultrapassando os doze nós à superfície e
dos portos e ao longo da costa inglesa, pode- um obstáculo importante ao desenvolvimen- atingindo perto de 10 nós em imersão pos-
ria ser a resposta do mais fraco à secular es- to dos mesmos. O problema só viria a ser ul- suía algum valor militar. O seu raio de acção
tratégia asfixiante do oponente. trapassado quando se começaram a construir era de cerca de 175 milhas, a 5 nós, à super-
motores eléctricos de tracção capazes de de- fície, servindo perfeitamente para defesa
bitar a potência necessária para movimentar costeira. Como principal limitação pode-se
navios de dimensões razoáveis. apontar a inexistência de periscópios, que o
O primeiro submarino verdadeiramente obrigava a vir frequentemente à superfície.
digno desse nome foi concebido pelo enge-
nheiro naval francês Gustave Zédé. Começou A LUTA POR UM SISTEMA
por construir, em 1886, o Gymnote, desti- DE PROPULSÃO EFICAZ
nado a testar as ideias do seu criador. Trata-
va-se de um pequeno submarino, com cerca
de 18 metros de comprimento e deslocando Um problema que se colocava aos sub-
apenas 31 toneladas. Ainda estava bem pre- marinos «puros» (6) era o limitado raio de
sente o fracasso que tinha representado o acção, pois apenas possuíam motor eléctrico,
Plongeur, sendo as suas grandes dimensões não se podendo afastar muito da sua base
uma das causas do insucesso. para poderem carregar baterias. Uma solu-
Estando já equipado com um motor eléc- ção que foi equacionada para obstar a esta li-
trico atingia a velocidade de 7 nós à superfí- mitação consistia em criar navios que se po-
O Nautilus de Robert Fulton. Para poupar o esforço deriam designar por «Porta-submarinos».
dos três homens que accionavam o hélice, Fulton cie e 5 nós em imersão. O seu raio de acção
equipou-o com uma vela que, em caso de era de 65 milhas à superfície e 45 milhas em Tratavam-se de navios de grandes dimensões
necessidade, podia ser recolhida em poucos segundos. imersão. Para entrar em imersão alagava os que rebocariam os submarinos e carregariam
tanques de lastro situados no interior até ficar as baterias destes, sendo eles apenas utiliza-
Assim, em 1864 surge o Plongeur, segun- com uma reserva de flutuabilidade bastante dos para acções de curta distância a partir do
do projecto do almirante Bourgois e do enge- reduzida. Bastava então usar os lemes hori- navio-mãe. A ideia não vingou uma vez que
nheiro Brun. Tratava-se dum navio já com di- zontais para variar a profundidade. se perdia o mais importante elemento de uti-
mensões consideráveis: comprimento supe- Foi um navio essencialmente destinado a lização táctica do submarino: a surpresa.
rior a 40 metros e deslocamento acima das testes, e foi assim que sempre foi utilizado. Foram então realizados diversos estudos para
400 toneladas. O casco era em aço e extre- Nele foram testados os lemes de imersão em conseguir um navio com dois sistemas pro-
mamente resistente. diversas posições por forma a optimizar a sua pulsivos, um para a superfície e que lhe per-
A sua principal limitação residia no sistema função, para utilizar na concepção de futuras mitia um grande raio de acção e recarga das
propulsor. Usava um motor a ar comprimido construções. Com base nos resultados desses baterias e outro apenas para curtas acções
(5) que apresentava diversas falhas. Devido às testes foi construído o primeiro submarino em imersão. Nascia assim o conceito de sub-
limitações existentes na época para armaze- com poder militar efectivo, o Gustave-Zédé. mersível.
nar grandes quantidades de ar a pressões Com um casco construído em bronze, O primeiro navio digno desta nova
elevadas as velocidade conseguidas eram ex- comprimento 48 metros e deslocando 272 designação seria o Narval, projectado pelo
tremamente baixas e os raios de acção curtos. toneladas em imersão, o Gustave-Zédé esta- engenheiro Laubeuf, tendo a sua construção
O ar utilizado na propulsão tinha que ser eva- va armado com um tubo lança-torpedos, sido iniciada em 1898. Dotado de um motor
cuado, produzindo bastantes bolhas facil- transportando mais dois torpedos de reserva. eléctrico para navegação em imersão e de
mente detectáveis à su- um motor a vapor para
perfície. A regulação era navegação à superfície
efectuada através dum e carga de baterias foi o
êmbolo hidrostático que primeiro navio do gé-
permitia variar o volume nero verdadeiramente
do navio para que a im- autónomo. Nos EUA
pulsão igualasse o peso. também foi reconhe-
A variação da profundi- cida essa limitação que
dade era realizada re- era o reduzido raio de
correndo a lemes hori- acção. No entanto, a
zontais que não tinham solução utilizada, em
efeito devido às baixas O Narval, pode considerar-se como tendo sido o 1º verdadeiro submersível. Era uma espécie 1893 e 1897, nos sub-
velocidades consegui- de navio torpedeiro, accionado por motor eléctrico em imersão e por motor a vapor à superfície. marinos tipo Plunger e ✎
REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2000 15