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A última missão
                               A última missão


                                  do “Albacora”
                                   do “Albacora”






            nquanto alguns, de serviço, já esta-
            vam a bordo, outros havia para quem
        Ea alvorada tinha soado bem mais
         cedo do que é habitual. Havia que
         preparar o navio para  receber as indivi-
         dualidades que se quiseram associar à sua
         despedida do reino de Neptuno. Assim
         foi, concluídos os Postos de Combate de
         Verificação e testados que foram todos os
         principais sistemas do navio (revelando-se
         estes perfeitamente operacionais apesar
         da sua idade) estava o navio pronto para
         receber, entre outros, o Ministro da De-
         fesa Nacional e o seu Chefe de Gabinete,
         o ALM. CEMA e o VALM  COMNAV. Es-
         tes não se fizeram esperar e pouco antes
         das 0830 já se apresentavam a bordo; um
         pouco depois do regresso de licenças é
         certo, mas ainda bem a tempo de tomar  Regresso ao Alfeite em companhia do “Barracuda” e do “Delfim”.
         parte naquela que seria uma navegação
         histórica.                         drilha (a exercer funções de Comando)  que no dia D tudo decorra de acordo com
           Com toda a guarnição e convidados a  destinada a elucidar os visitantes, "in  o planeado e perdure a sensação da mis-
         bordo fez-se o submarino ao mar onde o  loco", sobre a vida a bordo de um sub-  são cumprida.
         aguardavam os seus irmãos mais novos,  marino, bem como a sua organização  O momento alto da demonstração
         "Barracuda" e "Delfim". Para aqueles me-  interna e capacidades.      naval ocorreu aquando da vinda à superfí-
         nos habituados a estas coisas de submari-  Depois desta visita e já perfeitamente  cie, em emergência simulada, dos 3 sub-
         nos, é de realçar o facto de estarem os  enquadrados na vida de bordo foram os  marinos em simultâneo. Não sem antes
         três submarinos aptos a navegar. É uma  ilustres visitantes "integrados" na orgânica  registar o inconveniente retardo, origina-
         ocasião rara e representa um esforço  dos quartos, manifestando grande inte-  do pela presença de um "intrometido"
         logístico e humano acrescido, contudo, o  resse e "aplicação" em todas as activi-  pesqueiro, simpático mas sem "convite"
         orgulho sentido por todos os marinheiros  dades desenvolvidas.        para este evento.
         nestes momentos sobrepõe-se-lhe.     Após "Rendez-Vous" à superfície e  Com a luz do Sol a incidir, de novo,
           Voltando à nossa última navegação.  imersão coordenada, os 3 submarinos  directamente no convés emerso mas
         Após os cumprimentos protocolares às  realizaram diversas manobras e evolu-  ainda batido pelo mar, iniciou-se o trânsi-
         entidades embarcadas, os três submarinos  ções, em imersão e posteriormente de  to de regresso ao Tejo. Já em frente ao
         dirigiram-se em conjunto para a área  novo à superfície, em perfeita sintonia.   Padrão dos Descobrimentos, os irmãos
         onde iria decorrer a demonstração naval.  Claro que como nada acontece por  "Barracuda" e "Delfim" passaram pelo
         Enquanto isso, decorria a bordo uma visi-  acaso, toda esta proficiência é fruto de  "Albacora" cumprimentando-o, pela últi-
         ta guiada pelo 2º Comandante da Esqua-  muitos anos de treino e dedicação para  ma vez, de acordo com o Cerimonial
                                                                               Marítimo. Aproveitou-se aquele período
                                                                               para testar outros dos "equipamentos" de
                                                                               bordo: a cozinha e o cozinheiro. Para
                                                                               agrado de todos e na melhor tradição da
                                                                               Marinha serviu-se uma bela refeição para
                                                                               retemperar as forças e proporcionar um
                                                                               salutar momento de convívio.
                                                                                 Ao realizar a última aproximação ao
                                                                               Alfeite, fomos presenteados com uma
                                                                               "sinfonia", carregada de simbolismo, de
                                                                               sirenes dos navios aí atracados que pre-
                                                                               tendiam dessa forma associar-se a esta
                                                                               cerimónia de despedida ao "velho"
                                                                               "Albacora". Nestas alturas em que se vê a
                                                                               solidariedade dos outros camaradas,
                                                                               muitos deles nossos "inimigos" de longa
                                                                               data, em muitos exercícios no mar, o
                                                                               coração fica apertado e - por muito rijos,
                                                                               empedernidos e profissionais que
                                                                               sejamos - os nossos olhos acrescentam

         6 SETEMBRO/OUTUBRO 2000 • REVISTA DA ARMADA
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