Page 296 - Revista da Armada
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A última missão
A última missão
do “Albacora”
do “Albacora”
nquanto alguns, de serviço, já esta-
vam a bordo, outros havia para quem
Ea alvorada tinha soado bem mais
cedo do que é habitual. Havia que
preparar o navio para receber as indivi-
dualidades que se quiseram associar à sua
despedida do reino de Neptuno. Assim
foi, concluídos os Postos de Combate de
Verificação e testados que foram todos os
principais sistemas do navio (revelando-se
estes perfeitamente operacionais apesar
da sua idade) estava o navio pronto para
receber, entre outros, o Ministro da De-
fesa Nacional e o seu Chefe de Gabinete,
o ALM. CEMA e o VALM COMNAV. Es-
tes não se fizeram esperar e pouco antes
das 0830 já se apresentavam a bordo; um
pouco depois do regresso de licenças é
certo, mas ainda bem a tempo de tomar Regresso ao Alfeite em companhia do “Barracuda” e do “Delfim”.
parte naquela que seria uma navegação
histórica. drilha (a exercer funções de Comando) que no dia D tudo decorra de acordo com
Com toda a guarnição e convidados a destinada a elucidar os visitantes, "in o planeado e perdure a sensação da mis-
bordo fez-se o submarino ao mar onde o loco", sobre a vida a bordo de um sub- são cumprida.
aguardavam os seus irmãos mais novos, marino, bem como a sua organização O momento alto da demonstração
"Barracuda" e "Delfim". Para aqueles me- interna e capacidades. naval ocorreu aquando da vinda à superfí-
nos habituados a estas coisas de submari- Depois desta visita e já perfeitamente cie, em emergência simulada, dos 3 sub-
nos, é de realçar o facto de estarem os enquadrados na vida de bordo foram os marinos em simultâneo. Não sem antes
três submarinos aptos a navegar. É uma ilustres visitantes "integrados" na orgânica registar o inconveniente retardo, origina-
ocasião rara e representa um esforço dos quartos, manifestando grande inte- do pela presença de um "intrometido"
logístico e humano acrescido, contudo, o resse e "aplicação" em todas as activi- pesqueiro, simpático mas sem "convite"
orgulho sentido por todos os marinheiros dades desenvolvidas. para este evento.
nestes momentos sobrepõe-se-lhe. Após "Rendez-Vous" à superfície e Com a luz do Sol a incidir, de novo,
Voltando à nossa última navegação. imersão coordenada, os 3 submarinos directamente no convés emerso mas
Após os cumprimentos protocolares às realizaram diversas manobras e evolu- ainda batido pelo mar, iniciou-se o trânsi-
entidades embarcadas, os três submarinos ções, em imersão e posteriormente de to de regresso ao Tejo. Já em frente ao
dirigiram-se em conjunto para a área novo à superfície, em perfeita sintonia. Padrão dos Descobrimentos, os irmãos
onde iria decorrer a demonstração naval. Claro que como nada acontece por "Barracuda" e "Delfim" passaram pelo
Enquanto isso, decorria a bordo uma visi- acaso, toda esta proficiência é fruto de "Albacora" cumprimentando-o, pela últi-
ta guiada pelo 2º Comandante da Esqua- muitos anos de treino e dedicação para ma vez, de acordo com o Cerimonial
Marítimo. Aproveitou-se aquele período
para testar outros dos "equipamentos" de
bordo: a cozinha e o cozinheiro. Para
agrado de todos e na melhor tradição da
Marinha serviu-se uma bela refeição para
retemperar as forças e proporcionar um
salutar momento de convívio.
Ao realizar a última aproximação ao
Alfeite, fomos presenteados com uma
"sinfonia", carregada de simbolismo, de
sirenes dos navios aí atracados que pre-
tendiam dessa forma associar-se a esta
cerimónia de despedida ao "velho"
"Albacora". Nestas alturas em que se vê a
solidariedade dos outros camaradas,
muitos deles nossos "inimigos" de longa
data, em muitos exercícios no mar, o
coração fica apertado e - por muito rijos,
empedernidos e profissionais que
sejamos - os nossos olhos acrescentam
6 SETEMBRO/OUTUBRO 2000 • REVISTA DA ARMADA