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Crónica de Timor
                   Crónica de Timor



                                                       5ª Parte

                                             Missão Cumprida!





         SEXTA ESTADIA EM TIMOR (24 DE
         MAIO – 06 DE JUNHO)


            sta estadia em Timor foi, desde logo,
            marcada por uma "novidade": a deslo-
         Ecação, no dia 26 de Junho, ao enclave
         de Oecusse, para efeitos de entrega de 20
         toneladas de material de reconstrução (cha-
         pas de zinco, pregos e barrotes de madeira)
         oferecido pelo Ministro da Defesa Nacional,
         que, impressionado com o grau de destrui-
         ção dos edifícios, o tinha prometido às
         autoridades locais, aquando da sua última
         visita ao Território, por alturas da Páscoa.
         Nesta deslocação tivemos a companhia das
         três equipas de jornalistas "baseadas" em Dili
         (RTP, Agência "Lusa" e TSF), que não quise-
         ram perder o importante significado da visita
         de um navio de guerra português ao enclave.
         As suas expectativas não foram, defraudadas,
         pois a entusiástica recepção por parte da  Entrega do material de construção oferecido pelo Ministro da Defesa Nacional em Oecusse.
         população local que, pela primeira vez em
         25 anos, via flutuar ao largo a bandeira  períodos de presença no Território). Também  sonho irrealizável. Entrámos, assim, na fase
         portuguesa (e não nos estamos a esquecer  as estruturas da UNTAET primaram pela  dos acabamentos: pintura de interiores e
         nem a diminuir a importância da anterior  ausência, não obstante o facto de termos pre-  exteriores, instalação de sanitários e chu-
         visita do NRP "Vasco da Gama", que privi-  viamente recebido a confirmação da pre-  veiros, remate do telhado, assentamento de
         legiou a utilização do seu helicóptero orgâni-  sença do Administrador Transitório da ONU,  vinílico nos pavimentos interiores, colocação
         co), veio dar um colorido especial a esta  Dr. Sérgio Vieira de Mello, e do Comandante  tecto falso e pavimentação dos alpendres
         presença. O trânsito decorreu sem novidade,  da Força de Manutenção de Paz, Tenente-  com óxido de ferro. Também o brasão e as
         apesar da passagem junto à costa indonésia  -General Jaime de Los Santos, que foram,  cruzes de Cristo da fachada foram rematados
         ter justificado algumas precauções em termos  subitamente, chamados a um "compromisso  com a dignidade que o seu profundo sim-
         de segurança, nada de muito aparatoso que  de última-hora". Fomos, porém, brindados  bolismo merecia.
         pudesse ser interpretado como uma provo-  com a visita inesperada de D. Duarte Pio,  No dia 4 de Junho, apesar de não estar
         cação, num flagrante desafio ao inalienável  que não quis perder a ocasião de vir a  inicialmente previsto, o navio foi atracar, pela
         direito da "passagem inofensiva". No dia 28  bordo. A presença do Duque de Bragança,  última vez, em Dili, para que a guarnição se
         de Maio o navio atracou, uma vez mais, no  convidado "em cima da
         porto de Dili (não obstante a emoção e a  hora", abrilhantou, inopina-
         solenidade da primeira vez, estas atracações  damente, uma festa que
         acabaram por se tornar rotineiras), para uma  deveria ter sido um dos
         recepção a bordo por ocasião do Dia da  grandes eventos sociais da
         Marinha (optou-se por festejar este dia em  capital do Território.
         Timor, junto dos militares portugueses,  Terminado o fim-de-
         porque ali teria, decerto, maior significado e  -semana, havia que regres-
         impacte do que em Darwin). Não obstante a  sar ao trabalho e, assim, par-
         honrosa presença dos Comandantes do  timos para mais uma tirada
         Sector Central e do Batalhão Português,  da "grande maratona" de
         assim como a das chefias das Missões  reconstrução do hospital de
         Diplomática e Humanitária Portuguesas, o  Liquiçá que conheceu,
         evento ficou marcado pela quase total  desta vez, um notório anda-
         ausência das autoridades políticas e religiosas  mento. Nunca, como aqui,
         timorenses (o Presidente do CNRT, José  acreditámos tanto ser pos-
         Alexandre "Xanana" Gusmão, encontrava-se  sível atingir o fim da última  Recepção a bordo a D. Duarte de Bragança.
         em mais um dos seus périplos diplomáticos,  das quatro fases de recupe-
         no âmbito da sua incansável promoção da  ração a que nos tínhamos proposto, mas a  pudesse despedir convenientemente desta
         independência timorense junto das altas  verdade é que o extraordinário empenho da  que foi uma das três cidades pelas quais se
         instâncias internacionais – foi, aliás, quase  guarnição acabou por tornar bem real aquilo  "repartiu" ao longo de quatro meses. A suave
         impossível "apanhá-lo" durante os nossos  que, ao princípio, se afigurava como um  melancolia desta primeira despedida acabou ✎
                                                                               REVISTA DA ARMADA • SETEMBRO/OUTUBRO 2000  9
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