Page 375 - Revista da Armada
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ESCOLA NAVAL





          Cadetes do Curso “VALM Magalhães Corrêa”
          Cadetes do Curso “VALM Magalhães Corrêa”

                                 a bordo do N.E. “Sagres”
                                 a bordo do N.E. “Sagres”




              esde o primeiro dia                                                         ceiam-se as primeiras vergas,
              em que se entra para                                                        e começamos, aos poucos, a
         Da Escola Naval, a                                                               respirar tudo o que nos
         viagem da “Sagres” é vista                                                       rodeia...
         por todos, sem excepção,                                                          A bordo não há, entre nós,
         como um ponto de viragem                                                         o medo de trabalhar mas sim
         importante na vida. Uns                                                          o medo de ficar de fora, de
         vêem-na como um objectivo                                                        ser inútil num navio onde a
         bem definido, outros como                                                        dinâmica de grupo é uma
         uma prova determinante à                                                         máxima de vida. Dessa for-
         capacidade para viver o mar.                                                     ma e a partir do primeiro
         O certo é que, finalmente,                                                       momento, a procura do sa-
         ela chegou, para nós, no                                                         ber marinheiro foi a nossa
         final de um 3ºano também                                                         primordial prioridade, a
         ele vivido em toda a sua                                                         procura incessante de um
         plenitude no seio da nossa                                                       lugar no grupo, a procura do
         Alma Mater…a Escola                                                              nome deste e daquele cabo,
         Naval. Quer cada um de nós                                                       deste e daquele preceito ou
         a veja com um maior ou                                                           manobra. Começam a sentir-
         menor toque de mito, quer  San Juan de Puerto Rico.                              -se as primeiras saudades de
         se tenham muitos ou poucos exames, a  corações que, certamente, sentiram tudo  casa, mas, mesmo em pleno mar, pude-
         viagem na “Sagres” é certamente essa veia  de vinte e quatro maneiras diferentes,  mos viver essa festa única dos pátios alfa-
         que nos falta como marinheiros…    porém uma pitada de sobrenatural foi  cinhas... a noite de Santo António.
           Feita de magia e mergulhada numa pro-  denominador comum, nos primeiros pas-  Volvidos oito dias de mar, eis que final-
         funda alma latina, a ilha de Porto Rico é o  sos de todos, ao longo da prancha...  mente avistamos essa terra prometida dos
         palco do tão aguardado encontro com a  Partimos de San Juan no dia 8 de  tempos modernos... os Estados Unidos.
         barca dos nossos sonhos... a “Sagres”.  manhã, Triângulo das Bermudas adentro,  Avistámos de imediato inúmeros veleiros
           Chegados no dia 4 de Junho a San Juan,  certos de que a vida começava naquele  que, à nossa semelhança integravam a
         de avião, e ultrapassados os primeiros  momento, naquela largada. E, acima de  OpSail’2000 e que já há muito habitua-
         ajustes a um mundo completamente dife-  tudo, não havia mito que nos detivesse,  ram a “Sagres” à sua cúmplice presença.
         rente, a grande ansiedade foi, desde logo,  nem alma maior que a nossa! Tudo a bor-  No dia 16 de Junho entrámos em Norfolk
         sobre esse grande momento em que nos  do exorciza em nós esse grande oceano  num desfile que, em jeito de valsa, conse-
         iríamos finalmente encontrar com a  português... o Universo. O navio começa,  guiu “divinizar” todo o espaço envolven-
         “Sagres”.  Esta cheirava ainda a Brasil... e  lentamente, a dançar com as ondas do  te. Ao longo do convés e nas vergas vários
         fomos, nessa hora já tardia, vinte e quatro  mar, caçam-se os primeiros cabos, bra-  elementos da guarnição e cadetes deram
                                                                               alma à imagem de uma “Sagres” majes-
                                                                               tosa e imponente, tal como viria a suceder
                                                                               em outros portos, nomeadamente Nova
                                                                               Iorque. Também a exemplo do que viria a
                                                                               acontecer em todos os outros portos, a
                                                                               “Sagres” foi alvo de uma calorosa
                                                                               recepção que foi, em Norfolk, entregue às
                                                                               mãos das crianças de um colégio local e
                                                                               que nos receberam como só as crianças
                                                                               são capazes. Em Norfolk, a organização
                                                                               providenciou para a “Sagres” um local
                                                                               excepcional, perto de todo o fervilhar da
                                                                               multidão que se juntava um pouco por
                                                                               toda a parte para ver os veleiros... porém,
                                                                               como que surgida de um silêncio quase
                                                                               tumular,  uma tempestade tropical abateu-
                                                                               -se sobre a pacata e acolhedora Norfolk.
                                                                               O cais que acolhera a “Sagres” e o “Cisne
                                                                               Branco” mostrou-se insuficiente para
                                                                               aguentar ambos os navios e acabou por
         Visita à Base Naval de Norfolk.                                       ceder aos 70 nós de vento que arrastaram ✎
                                                                                    REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2000  13
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