Page 376 - Revista da Armada
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numa espécie de Concílio dos Deuses
onde, no silêncio abissal do cair da noite,
parecem guardar em si todos os segredos
do Mar. Seguimos, dia 4 de Julho, num
majestoso desfile naval, com 114 veleiros
de diversas classes, rio East adentro, sob o
olhar atento da Estátua da Liberdade e do
Presidente Clinton... O 4 de Julho, dia de
todos os americanos, mostrou-se de facto
o grande motor de todo este evento em
Nova Iorque. Durante a nossa estadia, de
4 a 9 de Julho, partilhámos as nossas som-
bras com as dos arranha-céus, esses
gigantes que, em silêncio, guardam uma
cidade que é mito, que é Éden e Inferno
Colégio de Hampton Road (Norfolk) – Bolo de boas vindas. num só imenso jardim de betão, insólito,
quase irreal...e maravilhoso. A “Sagres”
cais e navios... Valeu no momento a de mansões, a entrada para esta pequena ficou no Cais 17, com a Ponte de Brooklin
assistência imediata por parte da organiza- cidade americana é, no mínimo, românti- como pano de fundo, local privilegiado e
ção e a actuação da guarnição da “Sagres” ca. Entre outros eventos importantes, a cais de honra por excelência, o que facili-
que, durante a tempestade, se viu em registar em Newport, destacamos a pre- tou tanto o nosso contacto com a cidade
braços com alguns visitantes que per- sença do Almirante CEMA que a bordo do como o contacto da cidade connosco.
maneceram a bordo e que mereceu refe- N.E. “Sagres”, ofereceu uma recepção por Nova Iorque continuará na mente de cada
rências elogiosas na imprensa local. A ocasião do aniversário do Naval War um de nós como a cidade-mito dos tem-
“Sagres” saiu rapidamente de onde estava College. A presença do maior responsável pos modernos, como a Alexandria ameri-
para vir a aportar na Base Naval de hierárquico da Marinha valoriza inques- cana onde a tocha da Liberdade conti-
Norfolk. Despedimo-nos de Norfolk, no tionavelmente a nossa missão e dá alento nuará a iluminar o rumo da Humanidade.
dia 20 e desenhámos desde logo no hori- à guarnição. Filadélfia e Newport são, sem Após mais uma curta navegação chega
zonte o próximo porto: Filadélfia. Apesar dúvida, dois portos essencialmente dife- a vez de New London, porto que acaba
de toda a turbulência dos acontecimentos rentes um do outro e, nesta pluralidade de por surpreender pela simplicidade e pela
em Norfolk, a viagem entre este porto e o mundos que o mar nos oferece, também rusticidade de uma cidade piscatória que
de Filadélfia decorreu sem novidade e cada dia que vivemos é diferente do ante- vive das memórias e de um passado dedi-
toda a vida que foi retomada a bordo rior... cado à grande pesca da baleia. Nos olhos
silenciou o sopro dos ventos tempestuosos É chegada a vez de Nova Iorque – Nova das pessoas pudemos ver uma vida que
que se haviam abatido sobre o nosso Iorque, ou, “in the american way”, New em nada se assemelha à dos portos prece-
primeiro porto da América do Norte. York, New York, tal como foi eternizada dentes. De facto, com a imagem de Nova
Chegando finalmente ao cais de atra- na famosa música de Frank Sinatra, é Iorque ainda bem presente em todos nós,
cação, no dia 23, após mais uma entrada como uma cidade onde todos os mundos sentimos que, apesar de a poucas milhas
em desfile com outros veleiros, pudemos se encontram. Podemos, através de uma da grande metrópole, New London está a
sentir o entusiasmo de uma pequena mul- visita por Manhattan, fazer uma autêntica um mundo de distância de tudo o que lá
tidão entre a qual se perdiam bandeiras e viagem à volta do Mundo! Mais uma vez vimos e sentimos.
olhares portugueses numa alegria conta- reunidos sob o pano de azul-imenso do Chegando a Boston, à chamada Celtic
giante. Entre toda a actividade protocolar mar e do céu, os navios encontram-se America, no dia 16, entre um denso
intensa que se seguiu pudemos de facto
verificar o quão importante é a “Sagres”
como embaixadora do nosso Portugal, do
nosso Mar...
Sente-se respirar em Filadélfia o berço
de uma nação! Sabemos todos quão
recente é a história dos Estados Unidos, e
o quanto ela foi influenciada pela cultura
e modus vivendi europeus e esta cidade
deixa claramente transparecer a organiza-
ção e as linhas estruturais europeias.
Nos dois dias que separaram Filadélfia
do porto seguinte, Newport, tivemos a
oportunidade de experimentar um autênti-
co quadro-vivo da Natureza... circunda-
dos por uma tempestade, vimos acen-
derem-se no horizonte, sobre o pano
escuro da noite, mil e um relâmpagos que
desenhavam, no medo de cada um de
nós, o fascínio por todo este mundo que
nos toma a alma e, acima de tudo, nos
enche tanto, tanto...
Chegados a Newport, no dia 29,
pudemos encontrar uma paisagem que
não nos pareceu ser de todo americana...
recortando uma costa verde e “decorada” New York – Faina nas vergas, após atracação.
14 DEZEMBRO 2000 • REVISTA DA ARMADA