Page 371 - Revista da Armada
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VICE-ALMIRANTE AVELINO TEIXEIRA DA MOTA



            O patrono do novo curso da Escola Naval
            O patrono do novo curso da Escola Naval



               velino Teixeira da Mota nasceu em Lisboa a 22 de  bro da Academia Portuguesa de História, da Academia das
               Setembro de 1920, efectuando os estudos secundários do  Ciências de Lisboa, Membro do Conselho Superior Científico do
         ALiceu Passos Manuel e ingressando na Escola Naval, em  “Institut Francais d’Afrique Noir”, representante português e
         1939, como cadete da classe de Marinha. Em 1942 foi promovido  conselheiro da “Comission Internationale d’Histoire Maritime”,
         a Guarda-Marinha e o seu estudo-memória do tirocínio para 2º  membro correspondente da “Real Academia de la História” de
         Tenente versou sobre um tema de História Marítima, que viria a  Madrid, membro da Comissão Internacional de História da
         merecer um rasgado elogio do então Almirante Gago Coutinho  Náutica e da Hidrografia, sócio da “Society of Discouveries” e
         e uma recomendação para que fosse publicado a expensas da  integrou muitas outras instituições nacionais e internacionais
         própria Marinha. Tratava-se de um criterioso e inédito trabalho  que seria fastidioso enunciar exaustivamente. Em 1969 integrou
         histórico sobre a possibilidade                                               o Grupo de Estudos de História
         de cálculo da longitude terrestre                                             Marítima, estrutura que viria a
         segundo um processo aventado                                                  dar origem, em 1970, ao Centro
         no século XVI pelo português                                                  de Estudos de Marinha e, em
         Francisco Faleiro, um dos acom-                                               1978, à actual Academia de
         panhantes de Fernão de Maga-                                                  Marinha, de que foi presidente
         lhães na sua viagem de circum-                                                de 1978 a 1980.
         -navegação. O estudo viria a
         constituir a primeira obra publi-                                              A estima e consideração que
         cada de uma extensa biblio-                                                   mereceu em Portugal e no es-
         grafia que Teixeira da Mota viria                                             trangeiro fizeram com que fosse
         a acumular ao longo de uma                                                    incessantemente convidado para
         vida dedicada ao estudo da His-                                               conferências, colóquios e con-
         tória da Náutica e da Carto-                                                  gressos sobre temas relaciona-
         grafia, do processo dos Desco-                                                dos com a História Africana,
         brimentos e da Expansão Por-                                                  História da Cartografia Antiga e
         tuguesa nos séculos XV e XVI e                                                História da Expansão Marítima
         da História de África, com espe-                                              Europeia dos séculos XV, XVI e
         cial relevo para  a parte ociden-                                             XVII, a ele se devendo a colabo-
         tal desse continente.                                                         ração em prestigiosas obras. Em
                                                                                       Portugal, para além dos traba-
           Em Outubro de 1943 frequen-                                                 lhos já citados, é de referir a
         tou na Escócia um curso de                                                    organização da grande Portu-
         defesa anti-submarina e nos                                                   galiae Monumenta Cartographica,
         anos que se seguiram foi oficial                                              obra em cinco volumes publica-
         de guarnição da canhoneira                                                    da em 1960 (aquando das co-
         “Lagos” e dos contratorpedeiros                                               memorações do quinto cente-
         “Dão” e “Lima”. Em 1946, ao                                                   nário da morte do Infante D.
         serviço do Ministério do Ultra-                                               Henrique) em parceria com o
         mar, estava na então Guiné                                                    Professor Armando Cortesão.
         Portuguesa, de que era gover-
         nador o Comandante Sarmento                                                    O Vice-Almirante Teixeira da
         Rodrigues, e devendo-se à ini-                                                Mota, desempenhou funções
         ciativa e esforço destes dois ofi-                                            docentes na Escola Naval, entre
         ciais a criação do Centro Cultural da Guiné Portuguesa que, de  1959 e 1964, acompanhando a reforma que a mesma efectuou na
         imediato, iniciou a publicação de um boletim trimestral e de  altura, e foi regente da cadeira de História dos Descobrimentos e
         memórias esparsas, algumas delas assinadas pelo próprio  da Expansão Portuguesa na Faculdade de Letras da
         Teixeira da Mota. A Guiné, aliás, viria a constituir uma paixão  Universidade de Lisboa
         deste notável Oficial de Marinha, que a ela dedicou alguns dos
         seus mais brilhantes estudos publicados, como sejam “O  Em 1976, com o posto de Capitão-de-Mar-e-Guerra passou à
         Descobrimento da Guiné” e “A Guiné Portuguesa”, este último,  situação de reserva, ficando na efectividade de serviço, mas os
         um trabalho de investigação histórica e antropológica sem par.  seus méritos não viriam a ser esquecidos e, em Setembro de 1981
         Até 1957, desempenhando missões de diversa ordem, sempre a  foi promovido por distinção ao posto de Vice-Almirante.
         sua carreira esteve ligada à Guiné e a ele se deve a organização e
         realização em Bissau da 2ª Conferência Internacional de Afri-  Avelino Teixeira da Mota morreu em 1 de Abril de 1982
         canistas Ocidentais, onde se reuniram peritos e estudiosos de  legando à Biblioteca Central de Marinha um imenso e valioso
         todo o mundo. A par com a carreira de um brilhante Oficial de  espólio de cerca de 15 mil livros que constituíam a sua biblioteca
         Marinha, desenhava-se o perfil do investigador, estudioso, his-  privada e que hoje estão disponíveis para consulta pública.
         toriador e humanista, discreto no próprio brilhantismo e cimen-
         tando um prestígio nacional e internacional expresso nos
         inúmeros convites, participações e colaborações em instituições                          J. Semedo de Matos
         cientificas nacionais e estrangeiras. Teixeira da Mota, foi mem-                                 CTEN FZ
                                                                                      REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2000  9
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