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O primeiro português
                     O primeiro português



          campeão do mundo de vela
           campeão do mundo de vela








         O CMG António José Conde Martins,
         actualmente na situação de Reforma, foi o
         primeiro português a sagrar-se campeão do
         mundo de vela, classe de “Snipes”, no Mónaco
         em 1953. O Comandante Conde Martins, após
         ter conquistado este campeonato do mundo,
         foi condecorado pelo Presidente da República
         com a Medalha de Mérito Desportivo, e também
         foi distinguido com a Medalha Olímpica, por
         ter sido considerado o melhor atleta amador
         em 1953, com a Medalha Municipal de Cultura
         Física da Câmara Municipal de Lisboa, e ainda
         com a Medalha de Dedicação e Assiduidade             Momento em que os Campeões do Mundo, escutam o Hino Nacional durante
                                                              a distribuição dos prémios no banquete presidido pelo representante do Príncipe
         da Mocidade Portuguesa. Além disso, o seu            do Mónaco.
         nome ficou gravado na Taça Perpétua que              barco de competição de maior divulgação internacional. Comecei a
         imortaliza os campeões do troféu, recebendo          praticar como “proa” do Fernando Roquette e no ano seguinte já
         ainda a taça “Prince Souverain de Monaco”            como “leme” obtive o primeiro lugar no Campeonato da Frota do
         e a “Coupe du Yacht Club de Monaco”.                 Centro de Vela da Mocidade Portuguesa, ficando depois como 3º
                                                              classificado no Campeonato Nacional de “SNIPES” e em 1º lugar na
         Recentemente concretizou-se o restauro               XII Semana da Vela. Nesse mesmo ano ainda saí vitorioso das regatas
         e a recuperação desse “SNIPE”, tendo-se              de “SNIPES”, realizadas em Leixões, e onde estava em disputa a taça
         procedido à sua entrega ao Museu de Marinha,         “D. Nicolau Franco”, na altura embaixador da Espanha em Portugal.
                                                              Lembro-me que a regata foi duramente disputada em pleno mar por
         para inclusão no seu património, ficando             23 “Snipes”, com vento fresco de Norte, e fiz equipa com o meu
         a embarcação em exposição no Pavilhão                proa, Francisco Lacerda.
         das Galeotas, sendo este acontecimento objecto       R.A.: Como surgiu então a ida ao Campeonato do Mundo em
         duma notícia em separado.                            Mónaco?
         A Revista da Armada (R.A.), em face                  C.M.: Em 1953 realizou-se o IX Campeonato Nacional de “SNIPES”,
         da actualidade deste evento, e da sua                disputado em 5 regatas, em que me sagrei vencedor fazendo equipa
         invulgaridade, considerou oportuno entrevistar       com outro proa, o Campos Carmo. Mas, ainda nesse mesmo ano
         o Comandante Conde Martins (C.M.).                   realizou-se em Punta Humbria (Huelva – Espanha) um Campeonato
                                                              Internacional, disputado em duas regatas, sagrando-me vencedor em
                                                                             cada uma delas, fazendo equipa comigo o
         R.A.: Gostaríamos que nos relatasse como                            Helder de Freitas, que mais tarde seguiu a car-
         começou a sua carreira como velejador e                             reira da Força Aérea, chegando ao posto de ge-
         donde nasceu o seu gosto pela prática da                            neral, tendo já falecido infelizmente, de doença
         modalidade.                                                         incurável. O nosso comportamento, conforme
                                                                             atestam os jornais da época foi considerado
         C.M.: Eu, talvez por viver em Algés, onde residia                   magnífico, tendo as tripulações portuguesas ar-
         com meus pais, sendo meu pai oficial da                             rebatado os 7 primeiros lugares da competição.
         Armada, com gosto pelo mar e a proximidade                          Foi tão brilhante a nossa actuação como vence-
         da praia e do centro de vela da Mocidade                            dores que os próprios jornais espanhóis nos co-
         Portuguesa, senti uma certa atracção por este                       gnominaram com o epíteto de “El barbaro Cam-
         desporto. Em 1947, ainda com 10 anos comecei                        pionissimo”.
         a carreira de velejador amador, na classe de                          Foi, sem dúvida, este nosso comportamento
         “LUSITOS” e dois anos mais tarde, sagrei-me                         que levou a Federação Portuguesa de Vela a es-
         Campeão Nacional nesta classe, recebendo o  Os Campeões do Mundo, já seguros da sua  colher-nos para representar o país no Campeo-
         troféu “Nobre Guedes”. Em 1951 transitei para a  posição na classificação geral, rondam a boia  nato do Mundo que se iria realizar em Mónaco
         classe de “SNIPES”, que, naquela época, era o  nº 4, rumo à meta.   em Setembro.

         28 FEVEREIRO 2000 • REVISTA DA ARMADA
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