Page 29 - Revista da Armada
P. 29

O que é preciso para que o Almirante
                     O que é preciso para que o Almirante
          João de Azevedo Coutinho “volte” à Zambézia?
          João de Azevedo Coutinho “volte” à Zambézia?



                                              Ilha de Moçambique




















         Estátua de Luís de Camões.        Padrão ao Almirante Sarmento Rodrigues.  Monumento a Vasco da Gama.
               e regresso à Ilha de Moçambique,  nadores com a estátua do navegador Vasco  Azevedo Coutinho foi um oficial distinto
               onde tinha estado pela última vez  da Gama, reposta nesse local pelo conselho  da Armada e governador-geral de Moçam-
         Dhá precisamente trinta e cinco anos,  executivo da ilha há escassos meses.  bique, agraciado com a Torre e Espada e
         pude aperceber-me que a histórica e singular  Também o padrão que homenageia o  autor de uma invulgar descrição de aspectos
         ilha, ainda que profundamente degradada  antigo governador-geral Almirante  da história militar e ultramarina, que são as
         na sua arquitectura e urbanismo, começa a  Sarmento Rodrigues, na ponta da ilha, fora  “Memórias de um velho marinheiro e solda-
         revelar alguns sinais muito positivos de  há poucos anos recolocado com o apoio da  do de África” (1941).
         restauro do seu valioso património e de re-  cooperação militar portuguesa, o que já  Foi contemporâneo de outras figuras das
         conciliação com a memória luso-africana.  tinha acontecido também com a estátua de  chamadas “campanhas da ocupação efecti-
           Já se vislumbram vários edifícios civis  Luís de Camões.            va”, tais como Mouzinho de Albuquerque
         recuperados, as belas igrejas da Misericórdia  Do mesmo modo curioso é ver, na revista  ou António Enes – cujas estátuas estão no
         e de Nossa Senhora da Saúde de cara lavada,  de bordo das Linhas Aéreas Moçambicanas  Museu da Fortaleza de Nossa Senhora da
         os Museus da Arte Sacra e do Palácio de  que leio no voo para Nampula, a caminho  Conceição, no Maputo – e Neutel de Abreu –
         S. Paulo abertos aos visitantes, a antiga pou-  da ilha, uma extensa referência elogiosa ao  cuja estátua se encontra no citado Museu
         sada transformada no aprazível Hotel  então Comandante Eugénio Ferreira de  Nacional de Etnologia, em Nampula.
         Omuipiti, perfeitamente apto a acolher os  Almeida pela visão e rasgo de, nos anos  Gostaria de partilhar este meu registo com
         forasteiros mais exigentes.        cinquenta, ter promovido a criação do que é  a Marinha e com os leitores da “Revista da
           Do que de negativo se pode assinalar,  hoje o Museu de Etnologia naquela cidade e  Armada”, na esperança sincera que seja pos-
         saliento o estado deplorável, e a exigir inter-  compreendido a necessidade de se preservar  sível tomar a iniciativa de, ultrapassado que
         venção imediata de responsáveis moçam-  as culturas tradicionais.     foi há muito o tempo de preconceitos e com-
         bicanos e portugueses, do interior da  As menções a estes três Marinheiros  plexos injustificados, recolocar também a
         grandiosa Fortaleza de S. Sebastião e, em  Ilustres trouxeram contudo à minha lem-  estátua do Almirante Azevedo Coutinho em
         particular, da sua capela.         brança que, três anos atrás, vira em  sítio digno e apropriado de uma terra que
           Mas, retornando ao que de muito positivo  Quelimane a estátua do Almirante João de  seguramente amou e a cuja História inques-
         se pode registar, é com sentida emoção que  Azevedo Coutinho atirada para o chão de  tionavelmente pertence.
         deparamos no largo de empedrado por-  um obscuro armazém da câmara municipal
         tuguês fronteiro ao antigo palácio dos gover-  da capital zambeziana.                      Dr. João Loureiro


                                     ACADEMIA DE MARINHA


               propósito das comemorações do  referiu à relevância que o Dr. Pedro Nunes  mente e em traços gerais a obra de Pedro
               5º centenário do nascimento do cos-  teve no nosso meio científico e na náutica e  Nunes que chegou até aos nossos dias,
         Amógrafo-mór do Reino Dr. Pedro    das várias celebrações que têm decorrido  referindo-se à laxodrómia e ao nónio bem
         Nunes, realizou-se no passado dia 8OUT02,  no País por ocasião deste 5º centenário do  como à descrição genérica dos outros instru-
         na Academia de Marinha, uma sessão alusi-  seu nascimento.            mentos concebidos por aquele matemático
         va a tal efeméride em que usaram da palavra  O académico Oliveira e Costa abordou  para apoio da navegação marítima.
         respectivamente o académico Professor  diversos aspectos do homenageado tudo no  Seguiu-se um período de debate.
         Doutor João Paulo Oliveira e Costa e o  contexto do seu tempo e das vicissitudes, de  Estiveram em exposição diversas peças e
         CALM ECN António Balcão Fernandes Reis,  vária ordem, que na altura predominavam  publicações alusivas a Pedro Nunes cedi-
         este último pertencente ao curso “Pedro  na sociedade portuguesa, tendo em atenção  dos gentilmente pelo Museu de Marinha e
         Nunes” admitido na Escola Naval em 1956.  as mutações sociais e políticas que se verifi-  pela Biblioteca Central da Marinha.
           Presidiu à sessão o CALM ECN Rogério  cavam na Europa e em Portugal.
         d’Oliveira Presidente da Academia, que se  O CALM Balcão Reis abordou seguida-  (Colaboração da Academia de Marinha)
                                                                                     REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2003  27
   24   25   26   27   28   29   30   31   32   33   34