Page 42 - Revista da Armada
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PONTO AO MEIO-DIA






               Desafios do Planeamento


                              da Força Naval





                defesa nacional é um bem públi-  Força Aérea, ou que têm custos mais ele-  capacidades do sistema de força naval
                co clássico, que não pode ser  vados nestes Ramos. A controvérsia  não dispõem de qualquer navio (defesa
          A usufruído por uns cidadãos com  torna-se empolgante quando a contra  anti-aérea de área, guerra de minas e
          a exclusão de outros. Protege a Nação.  argumentação incide sobre a mais tradi-  anfíbia). Para complicar o problema ainda
          Por isso, todos os portugueses benefi-  cional das funções navais: a protecção das  mais, os novos navios que integram os
          ciam dela, embora poucos compreendam  linhas de comunicação marítima. Há uma  programas de reequipamento, são
          a necessidade de suportar os seus custos.  década que os teóricos dos poderes ter-  maiores, mais capazes e muito mais caros
          Cabe ao Governo estruturar a defesa  restre e aéreo proclamam a inexistência de  que os seus antecessores, pese embora a
          nacional de forma a garantir o equilíbrio  conflitos que envolvam os grandes  economia de meios humanos que irão
          entre as necessidades estratégicas do  espaços marítimos. Nesta circunstância,  permitir. Consequentemente, os planea-
          país e as possibilidades das finanças  afirmam que a Marinha, na qual o país  dores navais reconhecem que as substi-
          públicas. No que à Marinha diz respeito,  gasta anualmente verbas muito avultadas,  tuições não podem ser feitas numa base
          para estabelecer este equilíbrio é essen-  não deve ter grande prioridade de finan-  de um para um, e que o tamanho da
          cial o contributo dos planeadores navais,  ciamento. Porém, a realidade é inexorá-  esquadra tem de diminuir.
          cujo trabalho está permanentemente  vel: quando surge qualquer crise interna-  O núcleo do sistema de força naval
          sujeito a dois tipos de desafios: os decor-  cional, os navios de guerra são, normal-  deverá ser composto por 6 fragatas com
          rentes das controvérsias associadas à  mente, os primeiros meios militares a ser  8 helicópteros, 3 submarinos, um reabas-
          partilha do orçamento de defesa; os  utilizados.                     tecedor de esquadra e uma força anfíbia
          resultantes da necessidade de rede-  Embora perturbados pela poeira in-  composta por 1 batalhão ligeiro de fuzi-
          finição da dimensão e da composição do  telectual desta controvérsia, os pla-  leiros dotado de meios de desembarque
          sistema de força naval.           neadores navais têm-se esforçado por  e de um navio polivalente logístico. O
            A Marinha, para além dos navios, pos-  demonstrar que a questão importante não  plano da força naval portuguesa prevê
          sui uma capacidade terrestre, na forma  é discutir a prioridade da Marinha no  ainda  mais 39 navios de vários tipos.
          dos fuzileiros, e uma capacidade aérea,  acesso a recursos financeiros, mas debater  Na sequência de medidas tomadas
          que integra os helicópteros orgânicos das  a sua dimensão e composição face às  recentemente pelo governo, tudo indica
          principais unidades combatentes. Para  disponibilidades orçamentais e às necessi-  que, apesar das dificuldades financeiras
          utilizar um conjunto tão diversificado de  dades de defesa nacional, que evoluem  do país, nos encontramos no início de
          meios, que necessitam de estar perma-  com o tempo e, por isso, não são plena-  um novo ciclo de ressurgimento do
          nentemente prontos para emprego em  mente satisfeitas com os meios navais her-  núcleo do sistema de força naval.
          missões militares e de interesse público, a  dados do passado.       Muitos são os navios a substituir duran-
          Marinha dispõe de 25% do orçamento  Como regra geral, os navios e os sub-  te a corrente década. Porém, o Governo
          global da defesa.                 marinos têm vidas úteis de cerca de trinta  continua a ponderar a aquisição de sub-
            Como todas as organizações governa-  anos, e os meios aéreos necessitam de ser  marinos e do navio polivalente logís-
          mentais, os três Ramos das Forças  substituídos, em média, todos os vinte  tico, e já atribuiu financiamento para
          Armadas afirmam posições controversas  anos. Consequentemente, a Marinha tem  duas novas unidades de fiscalização
          quando competem pelas verbas do orça-  de conceber um programa plurianual de  oceânica. Consequentemente, a esqua-
          mento da defesa. Para sustentação con-  reequipamento e de dispor de um orça-  dra começará brevemente a recuperar
          ceptual dessas posições, o pensamento  mento anual destinado a garantir uma  da sua situação de obsolescência e
          estratégico terrestre reclama o papel pri-  força naval de certa dimensão e com-  depauperação. Contudo, isso não signi-
          macial do Exército nas operações ter-  posição, que se moderniza à medida que  fica o descanso dos planeadores navais.
          restres, enquanto o pensamento estratégi-  as ameaças evoluem e o equipamento  É indispensável que prossigam o seu
          co aéreo tenta estabelecer direitos de  antigo necessita de ser substituído.  trabalho de questionar a estratégia desti-
          exclusividade da Força Aérea nas ope-  A dimensão e a composição da  nada a edificar, a organizar e a empregar
          rações aéreas. O pensamento estratégico  esquadra portuguesa tornou-se uma  uma esquadra adequadamente equipa-
          naval, para além de exigir o monopólio  questão importante no fim da década de  da e guarnecida. Só assim a Marinha
          do emprego da força no mar, penetra nos  80. Por essa altura, o sistema de força  continuará a revelar uma elevada
          “mercados” dos outros dois Ramos e pre-  naval integrava 65 navios, resultantes do  capacidade para cumprir quer missões
          coniza que tudo o que é projectado de  esforço de edificação realizado durante o  de interesse público tão diversificadas
          navios deve pertencer-lhe.        conflito colonial. Entretanto, apesar do  como a fiscalização e a investigação
            A tecnologia polarizou estas controvér-  importante programa de construção das  científica, quer missões militares no
          sias e a Marinha frequentemente justifica  fragatas da classe “Vasco da Gama”, a  espectro amplo da violência.
          as suas capacidades apelando à tradição e  esquadra aproximou-se do fim da sua
          à emoção, dizendo que pode realizar tare-  vida útil e necessita de uma progressiva  António Silva Ribeiro
          fas que são inacessíveis ao Exército e à  substituição. Por outro lado, algumas                   CFR



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