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Derrame de fuel causado pelo navio “PRESTIGE”
Derrame de fuel causado pelo navio “PRESTIGE”
– acompanhamento efectuado pelo Instituto Hidrográfico (IH)
HISTORIAL Contudo, a referida rotação dos ven- -se contínuos afloramentos de fuel, em
tos para norte/nordeste afastou estas pequenas quantidades, a partir da zona
O IH iniciou, logo a 14 de Novem- manchas do litoral português. Uma do afundamento, situação verificada no
bro, o acompanhamento da situação, inversão dos ventos a partir do dia 12 local pelo submarino francês “Nautile”
executando a primeira previsão de deri- de Dezembro (que adquiriram nova- e que ainda hoje se mantém.
va dos derrames de fuel. A previsão de mente um regime de sul/sudoeste)
deriva ganhou especial importância a empurrou novamente as manchas de MODELOS DE PREVISÃO
partir de dia 18, data de
entrada do navio na zona Tendo em vista prever as
de responsabilidade de trajectórias das derivas da
busca e salvamento por- manchas de fuel o IH utili-
tuguesa. O afundamento zou como ferramenta base o
do navio, ocorrido a 19, modelo “DERIVA”, desen-
levou à libertação de uma volvido na Divisão de
grande quantidade de Oceanografia nos últimos
fuel, exigindo, a partir daí, anos. O modelo considera
um seguimento detalhado basicamente a acção do
da deriva do fuel derrama- vento sobre os objectos flu-
do, com recurso a meios tuando à superfície da água.
aéreos (Força Aérea Portu- Tendo em vista validar os
guesa) e a meios navais resultados do modelo, foram
(Marinha Portuguesa). lançados, por helicóptero e
Esse seguimento, muitas por navio, e próximo do
vezes com os meios no local de afundamento, qua-
local a operar em con- tro sistemas flutuantes com
dições meteorológicas e sistema de posicionamento
de agitação marítima Situação a 15 de Dezembro, data em que as manchas de fuel tiveram a sua maior satélite, dois deles a 21 de
muito dificeís (ventos aproximação à costa portuguesa. Novembro e outros dois a
fortes de oeste/sudoeste 1 de Dezembro.
com 25/30 nós e agitação marítima de fuel para norte/nordeste, tendo, no dia O modelo “DERIVA”, na sua configu-
5/6 metros), permitiu ao IH prever a 15 de Dezembro, estas chegado a ração base, é um modelo bastante adequa-
deriva das manchas de fuel desde o aproximar-se a cerca de 3 milhas da do para situações oceânicas de mar aberto,
local e momento de afundamento do costa portuguesa, entre Viana do em que as derivas à superfície são essencial-
navio até à zona costeira galega, para a Castelo e Caminha. A Galiza foi então mente função do vento. Tal já não acontece
qual o fuel foi empurrado pelas condi- novamente atingida pelo deslocamen- em áreas costeiras, onde a complexidade da
ções meteo, e onde fez sentir os seus to destas manchas, agora já bastante fenomenologia presente cresce significativa-
efeitos a partir de 1 de Dezembro. dispersas. A continuidade dos ventos mente. Assim, e mesmo antes da grande
A mancha de fuel proveniente do provenientes dos quadrantes de mancha de poluição proveniente do afun-
afundamento foi-se então lentamente sul/sudoeste levou a que, a 31 de damento ter atingido a zona costeira, foi ini-
dispersando ao longo da costa galega. Dezembro, os principais núcleos de ciada a utilização de um conjunto de mode-
Parte deu à costa e foi recolhida pelos manchas ainda existentes estivessem los matemáticos, presentemente em desen-
meios de combate à poluição em terra; claramente inseridos na circulação volvimento e aplicação no IH no âmbito de
outra parte foi recolhida pelos navios existente no Golfo da Biscaia. projectos científicos. Esses modelos foram o
anti-poluição nas zonas costeiras ga- Durante todo este período registaram- HOPS (Harvard Operational Prediction
legas; outra parte ainda deri- System) e o SWAN (Simulating
vou para sudoeste, por acção Waves Nearshore), permitindo
de ventos norte/nordeste os seus resultados “corrigir” o
surgidos no início do mês, modelo-base “DERIVA” com as
tendo progredido para sul fenomenologias costeiras.
até à latitude de Espinho e à
distância miníma de 15 mi- ORGANIZAÇÃO
lhas da costa portuguesa. OPERACIONAL
Logo após a chegada da ADOPTADA
mancha principal prove-
niente do afundamento às A partir de 18 de Novembro
costas galegas (a 1 de De- foi accionada no IH uma estru-
zembro) foi ainda registado tura operacional destinada a
um deslocamento de fuel assegurar a aquisição, processa-
para sul, em regime de trans- mento, produção e dissemi-
porte costeiro, ao longo da nação de informação técnico-
costa e que chegou a distar Modelo Deriva (indicando as previsões de deriva das manchas de fuel nos dias -científica relevante. Esta estru-
apenas 8 milhas de Caminha. seguintes ao afundamento do “Prestige”). tura técnico-operacional foi
6 FEVEREIRO 2003 • REVISTA DA ARMADA