Page 141 - Revista da Armada
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mais ou menos harmónica do casal. Depois De toda a forma, o amor parece ser tão nho, mais suave e mais lucrativo e, sobretu-
de algum tempo de prática médica, fica facil- individual como cada um de nós e não des- do, menos exposto do aquele que tenho tri-
mente perceptível a dinâmica profunda entre cortino a existência de receitas absolutamente lhado. Parece-me, disso muitos intimamente
o casal, que pode (e deve) ser usada no apoio correctas, ou completamente erradas. O amor concordarão, que as mulheres têm um papel
que cada um necessita quando se sente só e não pode nem deve ser opressivo, deve ser bem mais importante na vida naval, ainda
desamparado, no sofrimento. Na Marinha te- complementar. O amor parece ser o que nos eminentemente masculina, do que aquele
nho encontrado muitos exemplos de uma rela- aquece quanto estamos sós, aquele amparo que lhes é habitualmente concedido. É delas
ção sóbria, de amparo e suporte entre esposos. que está lá, quando tudo o resto nos deixou. que espero compreensão para este escrito.
Talvez este facto resulte de uma vida carrega- Amor é a coisa incerta, que nos parece, a tem- A mesma que lhes pediram sucessivas gera-
da de ausências, que, como é lugar comum pos, mais segura. O amor é a nossa força. ções de marinheiros, quando, na distância,
dizer-se entre marinheiros, parecem dar uma Decida, finalmente, o leitor se este texto nelas confiaram a casa, os filhos e a própria
ajuda, uma vez que cada chegada pode ser está em condições de competir com as tais essência da vida…
um recomeço, permitindo o fortalecimento revistas cor – de – rosa, de tanto sucesso. Z
de relações menos opressivas. Quem sabe talvez, me apareça um cami- Doc.
BIBLIOGRAFIA
20 Passeios por Portugal
20 Passeios por Portugal
ue corresponde a dizer 254 páginas animam suas forças, para mais e (ainda) me-
a percorrer a pé o nosso país, de lhores palmilhadas de exploração.
Qcanto a canto, de praia a praia, de O livro contém pormenores que vale a
rio a rio, mas, sobretudo a pé. Porque é a pé pena fixar, parecendo embora muito ób-
que se descobre realmente o país. vios, quando adverte que é preferível esco-
Tal como se anuncia nas primeiras pá- lher sapatos de desporto, ao custo de tantos
ginas, é a pé que vale a pena conhecer a a tantos euros “calçado leve, sólido e confor-
paisagem, é no andar que se desvendam as tável, protegendo muito melhor o tornozelo
mais pequenas pregas do território, é nessas que as sapatilhas”. “Não caia na asneira de
pregas que se revelam as maiores belezas, estrear calçado num passeio: faça a respec-
naquelas pregas aonde o automóvel já não tiva “rodagem” em casa aos poucos”.
chega, onde vale a pena fixar a vista única Depois, vêem também as regras básicas
que a máquina fotográfica só transportada que devem ser respeitadas durante o passeio
à mão permite um uso selectivo e único. O (que obviamente não revelamos aqui, pois
palmilhar de caminhos de onde se depreen- é mais prático meter o livro no bolso, que
de uma queda de água fina e bem com cento tentar acomodar lá a revista. O livro tem o
e tal metros de queda, qual xixi de monstro formato adequado (foi todo muito bem pen-
aflito por se aliviar, mas que só de perto se sado, não esquecendo o que fazer em caso
constitui feliz acontecimento a que se pode de acidente).
aplicar o nome adequado de “Mijarela”, só Os passeios estão escalonados geografi-
descortinada palmilhando os últimos metros, camente de norte para sul. Passo-a-passo.
contornando aquele pedregulho enorme que Abel Melo e Sousa e Rui Cardoso, figuram
esconde o mais belo pormenor da queda de como autores, subscrevem partes escritas im-
água; pormenor onde a queda deixa de ser portantes. As fotografias, que tornam o livro
uma queda líquida para se transformar em belo, são de Jorge Simão, António Pedro Fer-
objecto ou vista digna de ser fotografada, reira, Abel Melo e Sousa, Giorgio Bosdino,
vistas, fixadas para além da retina, e página Ilídio Teixeira, Luís Carvalho, Luís Filipe Ca-
de livro. De livro como este. tarino, Sérgio Coramadeiro. A edição é de
E refere-se: primeiro foi o ouvir dizer que caminho mais adequado a alcançar as bele- Edições Apontamento, do Porto.
havia uma queda lindíssima, mas difícil de zas que logo por ali se desenharam no chão, Enfim, estão todos de parabéns, pois a
alcançar; primeiro, uma boa caminhada para feitas veredas de contrabandistas, rotas de começar pelo formato (cabe na palma da
se chegar ao pé; depois, o contornar por sí- pastores e almocreves, alargadas nos nossos mão), contém informações que às vezes
tios tortuosos e impossíveis a qualquer veícu- dias para vias duplas e auto-estradas. são das mais importantes – Alojamentos
lo motorizado para obter a chapa mais con- Hoje, é claro que se torna mais fácil, mais Restaurantes, Telefones úteis, é um Portu-
vincente; o como foi possível chegar até lá, viável, recostar-se o caminhante nos cómo- gal Passo-a-passo, que vale a pena, melhor,
é o segredo do livro. Segredo de polichinelo: dos assentos do autocarro e chegar até ao aonde o valer a pena, é no exercício físico
foi a pé! É sempre a pé que se alcançam os maravilhoso adro dos pináculos onde, com que faz bem!
lugares mais belos e menos revelados. mais uma vara, uma cabaça e um vestuá- Parabéns aos autores. Ao Melo e Sousa
É assim que se diz na introdução: O prazer rio de peregrino (mais ou menos) se crê ter a Revista da Armada agradece a oferta de
da caminhada. Foram “sucessivas gerações descoberto as construções maravilhosas dos um volume que fica à disposição na sua Bi-
de peregrinos medievais (que) demandaram nossos antecessores; muito de antanho mas blioteca.
Santiago de Compostela utilizando trilhos pe- onde está o gozo de ter-se chegado lá, e o Z
destres com centenas de quilómetros”, por proveito de ter respirado a plenos pulmões S. Machado
onde calhou terem deixado para o futuro o o ar fresco e frio que retempera forças, que CMG
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