Page 187 - Revista da Armada
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simultâneo, a ser contemplado. O que é preciso é que não seja   A Marinha continua a perseguir o seu futuro com passos segu-
         apenas isso.                                         ros. O passado ano, é prova disso mesmo.
           Mas se o nosso mar é estratégico, há que cuidar dele para que,   No âmbito interno, deu-se corpo à Directiva de Política Naval
         embora partilhado, nunca deixe de ser português. Por isso exis-  (de que hoje mesmo entra em vigor nova versão), quer no rela-
         tem as Marinhas, como afirmação da vontade do Estado no mar.  tivo à potenciação dos recursos humanos, área central das preo-
         Vontade instrumental da política externa. Vontade soberana como  cupações deste mandato, quer em todos os trabalhos inerentes à
         instrumento de defesa nacional. Vontade expressa através da pre-  renovação da esquadra.
         sença física, fazendo cumprir a lei onde o estado tem jurisdição.   Continuámos presentes na STANAVFORLANT, com empenho
         Vontade clara em cumprir acordos e compromissos, assumidos  efectivo na operação “Active Endeavour”, em apoio ao comba-
         em âmbito internacional.                             te ao terrorismo. Participámos na EUROMARFOR. Realizámos
           Portugal tem uma Zona Económica Exclusiva dezoito vezes  os previstos exercícios nacionais e internacionais. Continuámos
         superior à sua área terrestre.                       em Timor através dos Fuzileiros. Realizámos treinos para man-
           Portugal tem responsabilidades no âmbito da busca e salva-  ter a proficiência, a segurança e a eficiência, em toda componente
         mento no mar sobre uma área 58 vezes a sua área terrestre, em  essencialmente militar. As viagens dos cadetes da Escola Naval
         que grande parte do Atlântico Norte é dividido a meio, na sua  aproximaram-se das durações normais, cumpriram-se os planea-
         extensão E-W, com os Estados Unidos da América. Portugal é  mentos a nível da investigação científica e das responsabilidades
         pequeno territorial-                                                                    nacionais no âmbi-
         mente, é certo. Mas                                                                     to da cartografia
         será visto pelos ou-                                                                    e segurança de
         tros, não pela sua                                                                      navegação. Con-
         dimensão física,                                                                        verteu-se e recu-
         mas pela dimensão                                                                       perou-se o Navio
         da sua vontade.                                                                         Hidro/Oceanográfico
           O mar português                                                                       D. Carlos I, que está
         é imenso. Para to-                                                                      pronto a iniciar os
         mar conta dele o                                                                        seus trabalhos para
         país não necessita                                                                      o estudo do alarga-
         de uma Marinha                                                                          mento da platafor-
         grande, mas sim                                                                         ma continental.
         de uma Marinha                                                                            No âmbito da
         equilibrada nas                                                                         autoridade marí-
         suas capacidades,                                                                       tima, a actividade
         e em que exista                                                                         foi intensa, sendo
         um efeito de com-                                                                       de realçar o reforço
         plementaridade si-                                                                      das missões de fis-
         nergética, entre os                                                                     calização da pesca a
         meios vocaciona-                                                                        partir do início do
         dos para missões                                                                        ano corrente, bem
         essencialmente militares, e os meios especialmente dedicados a  como o incremento das missões em apoio à Polícia Judiciária.
         missões de interesse público. De uma forma simples, uma Mari-  Mais uma vez se participou na Operação ULISSES (em apoio ao
         nha que possibilite o conceito de duplo uso.         Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a nível europeu), bem como
           Portugal não tem Guarda Costeira. Trata-se de uma sábia deci-  na operação NEAFC (também de coordenação europeia, a nível
         são secular, novamente confirmada através de dois recentes diplo-  da fiscalização das pescas).
         mas de Março de 2002, que atribuem à Marinha, através do Chefe   Toda esta actividade se poderá resumir nalguns números bem
         do Estado-Maior da Armada, na sua qualidade de Autoridade  representativos:
         Marítima Nacional, a maioria das responsabilidades que tradicio-  38.192 horas de navegação, o que corresponde a cerca de 4,5
         nalmente se situam no âmbito da Autoridade Marítima.  navios no mar 24h/dia, 365 dias por ano;
           A Marinha é assim, no dia a dia, o braço visível do Estado no   3.761 acções de fiscalização de pesca no mar;
         mar. Na fiscalização da pesca, onde recebe a colaboração da For-  4.688 acções de fiscalização de pesca no porto;
         ça Aérea, no combate à imigração ilegal, em apoio ao Serviço de   359 vidas salvas no mar como resultado de 732 acções de so-
         Estrangeiros e Fronteiras, no combate ao tráfico de droga, em  corro;
         apoio à Polícia Judiciária, no combate ao crime aduaneiro e na   1.004 vidas salvas nas praias num conjunto de 1034 interven-
         manutenção da ordem pública, em ligação com a Guarda Nacio-  ções ao longo das cerca de 300 praias vigiadas e dos cerca de
         nal Republicana e a Polícia de Segurança Pública.    350Km de praias não vigiadas.
           A Marinha está sempre presente, quer seja na preservação dos   Foi reforçada a coordenação operacional entre meios do Co-
         recursos económicos, na actividade de investigação científica, na  mando Naval e da Autoridade Marítima, através da publicação
         segurança da navegação, no combate à poluição e agora, também,  das necessárias directivas, face à necessidade de se estar ainda
         colaborando na segurança geral do país, relativamente a qualquer  mais atento a ameaças vindas do mar, e à segurança de navios e
         ameaça de acção terrorista, vinda por mar.           instalações em águas interiores.
           A solução encontrada para o país - uma Marinha, dois usos -   Cumpriu-se o dispositivo naval com os meios disponíveis, já
         ainda cria mais obrigações. Há que ter ainda mais presente aqui-  que no último ano teve que ser abatida mais uma corveta, e mais
         lo que é comum a qualquer Marinha. As Marinhas são dispen-  três patrulhas costeiros, restando apenas quatro dos iniciais 10. É
         diosas, mas constituem um investimento necessário. Facilmente  a lei da vida, aliada a razões de racionalidade e de segurança, que
         desaparecem se abandonadas. São mais fáceis de manter, que de  a tal obrigaram. Nada que não pudesse ter sido previsto.
         levantar. Em resumo, as Marinhas não se improvisam. Planeiam-  Este processo continuará inexoravelmente com o abate, já em
         se, constroem-se, mantêm-se e renovam-se.            2004, de outra corveta, e de uma fragata da classe João Belo.
           A situação para que aceleradamente estava a caminhar a Ma-  Só que há agora sinais concretos de que a esquadra se irá re-
         rinha Portuguesa deve continuar a ser objecto de reflexão na-  novar.
         cional.                                               Em 2002 foi assinado o primeiro contrato para a construção dos
                                                                                        REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2004  5
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