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Dia da Marinha




          Mensagem do Almirante CEMA




              omemorar o dia da Marinha é lembrar todos os que, ao  no recuado ano de 1506. Devoção tão característica das gentes
              longo do ano, servem Portugal na Marinha, a bordo ou  do mar, como tão bem expressa o ditado português - “se queres
         Cem terra, sejam militares, militarizados ou civis. É tam-  aprender a rezar vai ao mar”.
         bém homenagear alguns dos que mais se distinguiram. É hon-  Eis claros exemplos da ligação ao mar desta terra de homens,
         rar os mortos. É fazer um balanço do que se fez, e do que mais  que sempre usaram o mar como fonte de subsistência, mais tarde
         premente há a fazer. É conviver e manifestar o nosso apreço às  como via de emigração, hoje e ontem como fonte de desenvolvi-
         populações que sabem bem acolher os marinheiros.     mento, e sempre como objecto de contemplação e conforto.
           É, em suma, celebrar o mar.                                                    Viana, terra de portugueses.
           Todos os anos, para a cele-                                                  Viana, berço de marinheiros.
         bração deste dia, onde se evoca                                                   Comemorar o Dia da Mari-
         a chegada de Vasco da Gama                                                     nha é também afirmar a impor-
         a Calecute, em 20 de Maio de                                                   tância estratégica do mar. Por-
         1498, é escolhida uma cidade                                                   tugal, tantas vezes se lembra,
         ribeirinha, onde a ligação das                                                 é o país da Europa cujas fron-
         pessoas com o mar seja forte,                                                  teiras terrestres estão há mais
         onde a Marinha se sinta em                                                     tempo consolidadas. Portugal
         casa, onde o ambiente de festa                                                 continental tem, de há séculos,
         que se pretende, seja natural, e                                               um só vizinho.
         nada surja como forçado.                                                         Poucas vezes se recorda, no
           Para o ano de 2004 foi de                                                    entanto, que Portugal, todo
         novo escolhida a cidade de                                                     ele, sempre teve um outro vi-
         Viana do Castelo. E digo de                                                    zinho - o mar. Os vizinhos que-
         novo, já que em 1990, há ca-                                                   rem-se amigos, portas abertas
         torze anos atrás, também aqui                                                  para trocas de pessoas e bens,
         houve festa pelas mesmas ra-                                                   para partilha de culturas e de
         zões. Portugal, tem bastantes                                                  conhecimentos, para fluxos
         cidades junto ao mar, mas há                                                   financeiros e apoios ao de-
         algumas que o sentem espe-                                                     senvolvimento. Assinam-se
         cialmente como seu, dado o                                                     tratados, fazem-se alianças,
         carinho com que o guardam                                                      geram-se conflitos, partilha-
         no coração.                                                                    -se a paz.
           E que melhor enquadra-                                                         Mas o mar é um vizinho es-
         mento se poderia conseguir                                                     pecial, que está aberto a dar-
         para este ambiente, que este                                                   -nos tudo o que tem de bom,
         que nos é dado pelo Gil Ean-                                                   como o que tem de perigoso,
         nes, navio que depois de ter                                                   com quem não se pode dialo-
         servido os heróis da faina do                                                  gar, com quem não se podem
         bacalhau, nas águas geladas                                                    fazer tratados, e em que a rela-
         do Árctico, repousa agora na                                                   ção, boa ou má, só depende da
         doca de Viana do Castelo, os-                                                  nossa vontade.
         tentando o seu orgulho de nas-                                                   O mar é estratégico como
         cer vianês.                                                                    linha de comunicação entre
           Viana nasceu por causa do                                                    partes de um país quase ar-
         mar. João Álvares Fagundes e                                                   quipelágico;
         Pedro do Campo Tourinho são seus filhos.               O mar é estratégico como linha de comunicação com outros
           No século XVIII o seu porto é tido como o mais importante do  países;
         reino, logo a seguir ao de Lisboa, quando mais de oitenta navios   O mar é estratégico para o turismo nacional;
         da sua frota mercante cruzavam todos os mares do mundo.  O mar é estratégico como motor da economia nacional;
           Mas Viana soube modernizar-se, continuando bela. Tem um   O mar é estratégico enquanto elemento de projecção de influ-
         porto acolhedor onde convivem a pesca, o comércio, a indústria  ência nacional;
         e o lazer. A sua população sente, no dia a dia, a importância do   O mar é estratégico como elemento físico de defesa militar;
         mar, tão perto, tão amigo, mas por vezes tão padrasto.  O mar é estratégico para a segurança nacional;
           Viana do Castelo tem ainda outra relação com o mar, tão clara   O mar sempre foi, é e será, um garante da soberania nacio-
         para quem, vindo de fora, já tenha tido a oportunidade de as-  nal.
         sistir às festas da Srª da Agonia - a dimensão da religiosidade, e   Todos estes aspectos foram devidamente abordados, estudados
         da devoção, do seu povo. Estas festas, com mais de três séculos,  e desenvolvidos pela Comissão Estratégica dos Oceanos, em boa
         incluem sempre a procissão dos pescadores a qual envolve, ano  hora criada. É agora necessário que se mantenha a determinação,
         após ano, mais de uma centena de embarcações cruzando a barra.  e a coragem, de levar por diante as suas recomendações.
         Devoção que, já antes tinha levado à criação de várias confrarias,   O mar português está aqui ao nosso lado, recurso estratégi-
         das quais saliento a do Nome de Jesus dos Mareantes, fundada  co pronto a ser aproveitado. E nada impede que continue, em

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