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Remodelação do Farolim da P. da Agulha
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Remodelação do Farolim da P. da Agulha
Ilhas Desertas – Madeira
INTRODUÇÃO tes várias tentativas algo frustadas de
A remodelação do Farolim da desembarcar pessoal e material no
P. da Agulha insere-se num con- ilhéu devido às condições de mar
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junto de obras de modernização e resultantes do habitual alíseo de
beneficiação que têm sido levadas NE. E só no dia 21 de Julho pelas
a cabo em pequenos faróis e faro- 1330 se iniciou o desembarque de
lins que, devido às suas condições todo o pessoal mergulhador e fa-
de isolamento e necessária autono- roleiro com o apoio dos dois botes
mia, carecem de estruturas e equi- do navio e do PNM. Até às 2145
pamentos menos exigentes e mais o pessoal mergulhador procedeu
fiáveis, de forma a permitirem visi- à colocação do material explosivo
tas de rotina anuais. que implicava a execução de cerca
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O farolim da P. da Agulha foi de 50 orifícios na estrutura do faro-
construído em 1961, na extremida- lim, através de martelo hidráulico.
de sul do cordão insular constituído Implusão do antigo Farolim da P. da Agulha. O pessoal faroleiro desmontou en-
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pelas Ilhas Desertas, mais propria- tretanto todo o equipamento apro-
mente no Ilhéu Bugio. Este ilhéu apresenta uma con- zona de acesso ao ilhéu e sem deixar vestígios nas fa- veitável, destacando-se a tarefa da desmontagem da
figuração afilada, com relevo abrupto, escarpado e lésias adjacentes. lanterna e óptica, de dimensões e peso consideráveis,
desprovido de qualquer zona de planalto. Constituí- A Escola de Mergulhadores, através do seu pessoal o que, atendendo às condições de acesso e degra-
do por uma torre prismática hexagonal em betão com técnico especializado em demolições predispôs-se a dação do patim superior, se tornava particularmente
14 metros de altura, o farolim apresentava já na déca- executar a operação tendo elaborado um breve estudo difícil e perigosa. O saldo deste meio dia de traba-
da de 90, grande parte do ferro das nervuras laterais do impacte da implusão, exigido pelo PNM, e proce- lho foi altamente proveitoso excedendo -se todas as
destacado da estrutura, profundamente oxidado e o dido aos preparativos para a execução da operação, expectativas. O navio permaneceu nas proximidades
interior do farolim indiciava zonas de enfraquecimen- quando esta veio a ser superiormente autorizada. do farolim tendo entretanto fundeado, mantendo-se
to da estrutura de betão com as plataformas superio- A intervenção que viria a ocorrer em Julho de em condições de segurança e de apoio às opera-
res e varandins em fase de eminente ruína. 2003, consistia basicamente na demolição da estru- ções em terra.
tura de betão e sua substituição por uma estrutura No dia 22, logo após os primeiros alvores, de-
RECONHECIMENTO modular de fibra de vidro com vários módulos, en- sembarcou a equipa de mergulhadores/faroleiros
A intervenção deveria ocorrer no período de Ve- cimada por uma moderna lanterna de acrílico, Tide- para concluir a colocação dos explosivos. Por volta
rão para aproveitar as melhores condições de mar, land ML300, mantendo-se o sistema de alimentação das 1130 todo o pessoal, excepto os 3 mergulhado-
necessárias para um conveniente acesso e transporte com os mesmos painéis solares. res recolheu a bordo para se proceder à demolição.
dos materiais. Assim, para permitir um adequado pla- Por parte do Comando da ZMM foi garantido o Às 1248, após 3 rebentamentos, o farolim foi demo-
neamento foi feito um reconhecimento local, com a apoio logístico do NRP “Schultz Xavier”, eventualmen- lido com total sucesso uma vez que toda a estrutu-
colaboração do NRP “Cuanza” disponibilizado pelo te complementado pela LF em comissão na Madeira. ra e detritos resultantes se projectaram na direcção
Comando da Zona Marítima da Madeira, tendo sido planeada, não deixando qualquer impacte visual. O
através do mesmo Comando programados contactos EXECUÇÃO pessoal faroleiro desembarcou entretanto para proce-
com Parque Natural da Madeira (PNM), porque o fa- Concedida a autorização superior por parte do der às operações de limpeza e preparação da sapata
rolim se localiza dentro da sua área de reserva natural, Comando Naval para o fornecimento dos explosi- de fixação da nova estrutura.
no sentido de se encontrar a melhor solução para a vos e para o envolvimento do pessoal operacional, Às 1800, após trabalho intenso, os faroleiros con-
execução da obra, sem molestar uma zona de reser- foi prontamente embarcado no “Portinho da Costa” cluíram a execução da sapata, a fixação provisória
va integral de protecção ao lobo marinho, espécie todo o material de demolição e a nova lanterna, no do módulo base, a instalação e ligação dos painéis
autóctone e em risco de extinção. NRP “Sacadura Cabral”, em viagem de instrução e solares e a montagem da nova lanterna, que foi testa-
O reconhecimento local foi efectuado com boas escala no Funchal. Todo o restante material tinha en- da revelando perfeitas condições de funcionamento.
condições de tempo e de mar, o que veio permi- tretanto já embarcado no “Schultz Xavier” e os mó- Às 1815 o navio iniciou o regresso ao Funchal.
tir um relativamente fácil desembarque no ilhéu, dulos de fibra no “Cuanza”.
apesar de se tornar evidente que só com condições Depois de uma reunião de preparação realizada CONCLUSÃO
semelhantes seria possível desembarcar o pessoal no dia 15 de Julho, foram efectuadas nos dias seguin- O presente trabalho, que se encontrava já progra-
e todo o material envolvido na mado há dois anos, revestia-se de
execução do trabalho. A visita particulares dificuldades, principal-
ao farolim revelou, para além de mente pelo difícil acesso ao local
um percurso difícil e perigoso, um e a necessidade de “desmontar” a
elevado estado de degradação do relativamente grande estrutura de
farolim e a constatação da inevi- betão, de recuperação impossível,
tabilidade e urgência de actuação de forma necessariamente rápida e
naquela infra-estrutura. com reduzido impacte numa zona,
Estando já equacionada a neces- ainda por cima constituindo reser-
sidade de demolir o farolim existen- va integral no PNM. As dificuldades
te e havendo a convicção que esta adivinhadas vieram a revelar-se no
só poderia ocorrer pelo método da terreno, mas a necessária persistên-
implosão, havia que garantir que cia e o grande empenho dos inter-
a queda da estrutura do farolim venientes permitiram a conclusão
só poderia ser provocada desde da operação, com total sucesso.
que os seus detritos se acumulas- Z
sem numa zona restricta, sem vir (Colaboração da
a obstruir a estreita entrada para a O novo Farolim da P. da Agulha. Direcção de Faróis)
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REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2004 21