Page 262 - Revista da Armada
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A ALIANÇA ATLÂNTICA EM
                    A ALIANÇA ATLÂNTICA EM


                               TRANSFORMAÇÃO
                                TRANSFORMAÇÃO


                                   - A Estrutura de Comandos -


             consensual que a Aliança Atlântica,  de rigidez geográfica herdada da conjun-  “Transformação”, colocou a Aliança peran-
             o seu conceito estratégico e os ins-  tura ultrapassada. Tais pecados, traduzidos  te a necessidade de acelerar a sua própria
         É  trumentos que o servem, têm vindo a  em falta de flexibilidade da estrutura, fra-  adaptação sob pena de, permitindo o alar-
         evoluir consideravelmente desde o final da  ca ou nula capacidade expedicionária dos  gamento do fosso tecnológico, organiza-
         guerra fria, num esforço constante para se  Quartéis Generais e suas forças, inexistên-  cional e financeiro entre as duas margens
         adaptarem à nova circunstância geo-políti-  cia dum sistema matricial de controlo e  do Atlântico, se tornar operacionalmente
         ca mundial. Mas é também aceite por qua-  excesso de redundância, tudo contrarian-  irrelevante na perspectiva do aliado mais
         se todos que essa circunstância tem variado  do os conceitos de acção, condenaram a  poderoso. Essa percepção, tornada aliás
         ainda mais depressa e de forma mais radi-  nova NCS logo à nascença. Tal sensação  clara pelos Estados Unidos, catalizou o
         cal, levando a Aliança a “correr” em per-  de nado-morto foi a breve trecho reforça-  processo de discussão interno da NATO
         seguição da sua “utilidade” nas situações  da pela discussão e aprovação, em 2001,  acelerando-o em termos inéditos para
         em que é suposto mover-se e que preten-  da nova estrutura de forças, essa sim, mui-  a Organização. Vector importante deste
         de influenciar segundo os seus objectivos  to melhor adaptada à realidade corrente  processo, como não podia deixar de ser,






























         de paz e liberdade. Este será o grande de-  e, prospectivamente, ao futuro previsível.  a NCS. O consenso para os objectivos da
         safio corrente da Organização e que tem  Os Quartéis Generais oferecidos pelas Na-  sua reestruturação foi rapidamente encon-
         enquadrado a discussão no seu seio e com  ções no contexto da NFS (High Readiness  trado. Tais objectivos seriam: integração no
         as Nações que sucessivamente têm vindo  Headquarters), praticamente sem custos  processo global de transformação dos con-
         a aderir ao Sistema de Segurança e Defesa  para a Aliança, ligados a forças atribuídas  ceitos estratégico, operacionais, tecnoló-
         Euro-Atlântico.                    em permanência e devidamente treinadas  gico e de informação; maior integração
           Dentre os instrumentos que corporizam  (High Readiness Forces), certificados em  dos diferentes Ramos das Forças Armadas
         as estratégicas aliadas, relevam a Estrutura  termos de preparação operacional e pron-  (Jointness); maior flexibilidade; maior mo-
         de Comando Militar (NCS), a Estrutura de  tidão pré-estabelecida e verificada, dota-  bilidade estratégica e táctica; melhor rácio
         Forças (NFS) e os conceitos operacionais.  dos de flexibilidade de atribuição e acção  custo/eficácia. Os ataques terroristas de 11
         Todos eles têm sido objecto de discussão e  e de grande mobilidade estratégica, torna-  de Setembro de 2001, nos Estados Uni-
         alterações mais ou menos substantivas nos  ram ainda mais evidente a inadequação da  dos, vieram, por outro lado, conferir ainda
         últimos anos, no sentido de tornar mais efi-  NCS, grande parte da qual, especialmente  maior relevância à necessidade de adap-
         caz a resposta militar a novas ameaças, ris-  ao terceiro nível (Component Commman-  tação dos comandos e forças à luta contra
         cos e, talvez sobretudo, ao aparecimento  ds), se tornou redundante, se não inútil. O  o terrorismo, à proliferação das armas de
         de novos actores que intervêm na cena do  reexame do sistema tornou-se assim inevi-  destruição maciça e do crime organizado,
         conflito internacional.             tável e a discussão nesse sentido iniciou-se,  vectores de risco já considerados no con-
           Em 1999 foi aprovada, após longo deba-  embora de forma tímida, já que a estrutura  ceito estratégico de 1999.
         te, uma nova Estrutura de Comandos Mili-  aprovada em 1999 não estava sequer com-  Os objectivos enunciados determinaram
         tares que, se bem que contemporânea dos  pletamente implementada.     as linhas mestras da construção da nova es-
         novos conceitos estratégico e de acção mi-  Mas a nova Administração Americana,  trutura de comandos: o abandono da com-
         litar, nasceu ferida de timidez na mudan-  tendo conferido outra dinâmica à reestru-  ponente geográfica ligada à defesa da Euro-
         ça, de compromisso político exagerado e  turação interna do seu sistema militar, a  pa durante a guerra fria; a adopção de uma

         8  AGOSTO 2004 U REVISTA DA ARMADA
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