Page 265 - Revista da Armada
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presentes. Neste contexto foi possível vis- é, entre as ondas do mar, a mais precio- Já em Dublin foi possível encontrar uma
toriar a embarcação portuguesa “Pascoal sa recompensa para o esforço e privação cultura muito mais aproximada à portu-
Atlântico”, a qual de um modo muito co- individuais de cada um de nós. E conti- guesa, em todas as vertentes. Numa cidade
operante aceitou a acção de vistoria e na nuámos, entregues à missão que nos fora onde a História vive em cada esquina, quer
qual foi posível conhecer melhor este tipo atribuída, dia e noite adentro, sempre ba- de dia quer de noite, sempre com muitos
de actividade nesta zona episódios por contar.
do Atlântico Norte. Re- Cidade-mãe do wiskhy e
gistou-se o elevado pe- cerveja, Dublin possibili-
ríodo de permanência tou o momento e o espa-
nesta zona que poderá ço para o visionamento
atingir os sete meses, si- televisivo do primeiro
tuação possível pela ele- jogo do Euro’2004... So-
vada autonomia logísti- fremos, longe de casa,
ca destas embarcações, com o resultado des-
nomeadamente na área favorável a Portugal...
do combustível a capa- mas seguros de que não
cidade dos depósitos é é só no campo de fute-
por norma cinco vezes bol que elevamos a nos-
superior à da corveta, sa Nação... e no fundo
sendo ainda reabaste- melhores jogos viriam,
cidos em alto mar. Par- só possíveis contudo de
ticular é também o tipo acompanhar através de
de arrasto, constituído ondas hertzianas. Fotogra-
por um aparelho muito fias, olhares, momentos,
complexo que demora cantares e músicas, risos
uma hora a recolher. Re- e gargalhadas, tudo em
gista-se ainda o mínimo jeito próprio de homens
de doze horas por lance que vieram do mar... e
de arrasto, capturando sempre um valor nhados pela luz do Sol, ora mais vivo ora que só estão de passagem!
superior a quinze toneladas de pescado. mais tímido... mas sempre presente, numa Em termos protocolares, a estada em Du-
Contudo o papel do N.R.P. “Afonso clara lição sobre astronomia em latitudes blin proporcionou o convite para a presen-
Cerqueira”, na zona de operações, trans- mais elevadas. ça a bordo do Embaixador de Portugal na
cendeu em duas situações distintas o que Para o necessário reabastecimento de República da Irlanda, a quem foi oferecido
à partida era previsto pela missão atribu- combustível, água, géneros e para retem- um almoço, tentando fazer juz, em todos os
ída, a saber: dois pedidos de assistência perar as forças da guarnição, e, sobretudo pormenores, ao talant de bien faire que, por
médica, provenientes de dois arrastões elevar o espírito, foram praticados os por- herança inegável, tanto nos é familiar.
espanhóis, que colocaram em campo as tos de Reykjavik, na Islândia, e Dublin, na Não obstante apenas houvesse o com-
valências da equipa médica embarcada, República da Irlanda, nos períodos de 28 promisso protocolar de relevo acima cita-
havendo mesmo sido necessária a coor- a 31 de Maio, e de 12 a 15 de Junho, res- do, o singular voo da nossa bandeira em
denação com MRCC-Reykjavik por forma pectivamente. Na Islândia foi possível o porto estrangeiro, é “embaixada” suficiente
a viabilizar a evacuação por helicóptero de contacto com uma cultura nórdica essen- que sussurra em cada um de nós: “Este é o
um tripulante carecendo de cuidados mé- cialmente diferente, numa ilha essencial- vosso Navio... o vosso País”... palavras que
dicos mais profundos, devido a indícios mente inóspita, mas nem por isso menos nos são tão preciosas, mesmo dentro de um
de colapso cardíaco. impressionante ou bela. Sobre o respirar Tempo e Espaço em que a União Comunitá-
No mar tudo tem um sabor muito pró- vulcânico de uma terra em transformação ria ganha cada vez mais visibilidade.
prio, quem sabe se intensificado pela ma- constante, Reykjavik descansa como oásis Nos três períodos de navegação houve
resia, e a salvaguarda da vida humana no Atlântico Norte. sempre a registar, como denominador co-
mum, o acompanhamento de navios
de pesca, os arrastões de alto -mar,
autênticos navios-fábrica... que in-
variávelmente se concentravam em
locais estratégicos, e pareciam tan-
tas vezes formigas organizadas no
desempenho escrupuloso das suas
tarefas, nada “incomodadas” com a
presença de um vigilante.
Na recta final, se excluirmos as
baixas pressões que nos brindaram
durante dois dias intermináveis com
mau tempo, o Sol glorificou com a
sua presença o aniversário do navio
a 28 de Junho, dia em que todos guar-
damos a frase que respira em nós e
nos dá sentido: “Um Navio é a sua
Guarnição... e valerá aquilo que a sua
Guarnição valer!”
Z
(Colaboração do Comando do
NRP “Afonso Cerqueira”)
REVISTA DA ARMADA U AGOSTO 2004 11